domingo, 19 de junho de 2011

Analistas acreditavam que popularidade de Dilma não resistiria às denúncias contra Palocci

Marcos Coimbra - Especial para o EM
Publicação: 19/06/2011

Enviada por Cristovão M. Santana

A recente pesquisa do Datafolha, a primeira e, até agora, única destinada à divulgação feita depois da demissão de Palocci, é uma espécie de patinho feio. Sua própria mãe, o jornal que é dono do instituto, a enjeitou.
Ao contrário das que habitualmente manda fazer, essa recebeu tratamento editorial comedido, para dizer o mínimo. Nada do coro de artigos elogiando o levantamento, nem a profusão de comentários destinados a ressaltar sua repercussão.

Os demais veículos foram igualmente discretos na apresentação e interpretação dos resultados. Os colunistas políticos se limitaram a registrá-los, quase que por obrigação. Apenas alguns especialistas foram ouvidos.
A razão para isso é simples: a pesquisa trazia números diametralmente opostos aos que a mídia esperava. Dez em 10 analistas tinham certeza de que a popularidade de Dilma não resistiria às denúncias contra Palocci. Todos achavam que ela cairia. A discussão era quanto. A “crise” estaria corroendo sua sustentação.
Como a pesquisa dizia que, longe de estar em queda, a avaliação do governo estava em alta, melhor deixá-la de lado. Mais fácil que reconhecer que os prognósticos estavam errados.

No meio político, silêncio parecido. Compreensível em se tratando da oposição. Não faria sentido que fosse ela a bater o bumbo para chamar a atenção para uma pesquisa tão favorável ao governo, que mostrava que a “crise” em que tantos apostavam tinha sido irrelevante para a opinião pública. O curioso é que o mesmo aconteceu dentro das chamadas “hostes governistas”. Quem, em tese, deveria ter saudado os resultados, dando-lhes máxima difusão, foi acometido de súbito mutismo. Uma ou outra liderança falou, de maneira protocolar. No caso do PMDB, ninguém imaginaria algo diferente.
Faz parte do papel histórico do partido que seu passe se valorize sempre que o governo (qualquer que seja) enfrente dificuldades (de qualquer tipo). Como ele é sempre o maior partido “da base”, sua utilidade aumenta quando ventos mais fortes perturbam o clima no Congresso. É quando seu apoio é mais apreciado...
Ou seja, para peemedebistas (e adjacências nas legendas irmãs) a pesquisa, em sendo boa para o governo, tornava-se ruim. Melhor seria se ela mostrasse que a “crise” tinha cortado na carne da presidente. A ação de seus “bombeiros” valeria ouro.

Paradoxalmente, para muita gente dentro do PT, o caso é o mesmo. O cenário de Dilma enfraquecida não chegava a ser preocupante, muito antes pelo contrário. Quem andava insatisfeito esperava apenas a hora certa para um diálogo facilitado.
Assim, a pesquisa só foi bem recebida no Palácio do Planalto. Não tanto ao mostrar o que ocorrera, mas o que não acontecera.

É pena, pois havia nela outras coisas interessantes. A começar por ter sido mais uma que deixou claro o pequeno efeito que têm os formadores de opinião na formação das opiniões da população.
Se quisesse, nossa imprensa poderia tê-la levado a sério, refletindo sobre seu papel no processo político. Seria preferível a jogá-la para baixo do tapete.

Não foi a primeira e não será a última a mostrar que os sentimentos e percepções da vasta maioria da sociedade são pouco influenciados pela mídia. Cada vez menos, ela cria a pauta e define o modo pelo qual as pessoas percebem e avaliam a realidade política.

Dilma se elegeu há quase oito meses. Seu governo está completando seis. Mas uma boa parte da elite brasileira continua incapaz de entender o que se passou na eleição. Talvez porque tenha dificuldade de compreender o país que somos.

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