quarta-feira, 31 de outubro de 2012

PT avança no Estado de São Paulo

 

http://ajusticeiradeesquerda.blogspot.com.br
Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:

No momento em que Serra fazia o discurso “admitindo” a derrota eleitoral, domingo à noite, chamava atenção o olhar – entre atônito e preocupado – de muitos daqueles que o circundavam, ali incluídos o governador Alckmin e o senador Aloysio Nunes Ferreira. Os tucanos de São Paulo, de fato, têm motivos para preocupação. E isso não apenas pela derrota humilhante de Serra na capital – enfrentando um petista que jamais concorrera a um cargo eletivo.

Este Escrevinhador teve acesso ao documento interno do PT paulista, com a avaliação política e a “Análise Numérica das Eleições de 2012″ em todo o Estado de São Paulo. A primeira parte do documento, claro, está dominada pelo tom de otimismo – natural num partido que acaba de conquistar a maior cidade brasileira. Vale a pena prestar mais atenção na segunda parte do documento, com a análise numérica. Vejamos:

* o PT passará a administrar, em 2013, cidades com um total de 18,6 milhões de pessoas – ou 45,1% da população paulista; o segundo partido nesse quesito será o PSDB, com 19,1% da população total; o PMDB (que parece se consolidar como um aliado dos petistas) terá 8,2% e é o terceiro;

* essa vantagem ampla petista se explica, claro, pela vitória na capital (o que mostra a importância da estratégia adotada por Lula, centrando esforços na candidatura Haddad); mas, mesmo excluindo-se a capital, o PT seria o partido com maior número de eleitores sob sua administração (24,6% do total em São Paulo), contra 19,1% para os tucanos;

* o PT vai administrar 6 das 7 cidades com mais de 500 mil habitantes no Estado; nas cidades com menos de 200 mil habitantes, o PT passa a disputar o segundo lugar com o PMDB, e o PSDB é ainda o partido hegemônico;

* o PT foi também o partido com o maior número de votos para vereadores no Estado – 13,8% do total, com o PSDB em segundo (13,5%) e o PMDB em terceiro (7,6%).

Vale ressaltar que, além de ter vencido na capital, o PT manteve seu domínio na Grande São Paulo -conquistando os importantes municípios de Guarulhos (quarta administração consecutiva), São Bernardo do Campo, Santo André, Osasco e Mauá. Estamos falando de cidades muito grandes, mais populosas do que várias capitais de Estado. O partido de Lula teve uma derrota inesperada em Diadema, para um jovem candidato do PV – aparentemente, sem grandes ligações com o tucanato.

O PT também avançou no Vale do Paraíba - terra natal do governador tucano. O Partido dos Trabalhadores vai governar nove municípios na região, com destaque para São José dos Campos, principal polo regional, e Jacareí onde os petistas conseguiram o quarto mandato sucessivo.

Na região de Campinas, vale destacar a vitória do PCdoB (em aliança com o PT) em Jundiaíe a boa performance de Marcio Pochman – que obteve quase 40% dos votos campineiros. Ali os tucanos tiveram que se “travestir” de “socialistas” para impedir a vitória petista.

Isso tudo mostra que o PT está forte como nunca para disputar o governo paulista em 2014. Mas a vitória só virá com amplas alianças ao centro. Os números mostram que a aproximação com o PMDB é fundamental: o PT é forte nas grandes cidades, relativamente forte nas cidades médias. Nos pequenos municípios, só o PMDB pode equilibrar o jogo com os tucanos em São Paulo.

Mais que isso: o PT já transformou o PMDB em aliado preferencial. Dos 645 municípios paulistas, o PT participou de 212 coligações vitoriosas. Desse total:

- o PT tinha o cabeça-de-chapa em 68;

- o PMDB tinha o cabeça-de-chapa em 31;

- o PTB tinha o cabeça-de-chapa em 18.

Em Bauru, por exemplo, o PT apoiou o PMDB – que venceu a eleição, impondo uma grave derrota aos tucanos.

Em 2014, o PT também deve buscar apoio do PSD de Kassab – inimigo de Alckmin. O apoio petista foi fundamental para a vitória do PSD em Ribeirão Preto – derrotando o ex-líder do PSDB na Câmara Federal.

Nas grandes cidades paulistas, Alckmin conseguiu vitórias importantes em Sorocaba, São Carlos, Taubaté, Franca, Santos, Piracicaba e Campinas (nessa última, para vencer, deu apoio ao candidato do PSB). Mas os números são claros: o PSDB encolheu, e a crise na Segurança Pública também enfraquece a imagem do governador tucano.

“O PT foi eleito em 2008 para governar 17,4% da população paulista e o PSDB 17,8%. Já a partir de 2013, o PT governará 45,2%, quase metade da população do estado e o PSDB, 19,4%”, diz Edinho Silva, presidente do PT paulista. Ele lembra que ”PSDB e DEM perderam juntos, entre 2008 e 2012, 61 prefeituras”.

PSDB sai trincado da eleição municipal

Serraécio

Os tucanos vão conseguir compor este rosto?

A derrota agravou os problemas internos no partido que é, cada vez mais, o esteio da oposição conservadora e de direita: o PSDB.

Por José Carlos Ruy

A reação dos tucanos e da mídia conservadora ante a estrondosa derrota do PSDB na eleição municipal deste ano é surpreendente. Além de procurar desculpas para explicar o mau desempenho eleitoral nos dois turnos da eleição, alinhavam argumentos para fazer acreditar no improvável, o alegado enfraquecimento da base do governo da presidenta Dilma Rousseff, e tentam convencer incautos sobre um também alegado fortalecimento do PSDB nesta eleição. E apostando, sobretudo, num sonhado – como reconheceu o cardeal tucano eleito para a prefeitura de Manaus, Artur Virgílio – rearranjo partidário para 2014 que atrairia o PSB do governador pernambucano Eduardo Campos para uma aliança com o PSDB na disputa presidencial.

Vão gastar papel e tinta (ou tela e sinais eletrônicos, se quisermos modernizar a linguagem) em tentativas de consolo com escassa base nos fatos concretos.

A verdade indisfarçável é a de que os partidos de esquerda e centro-esquerda se fortaleceram, ao mesmo tempo em que a oposição conservadora e neoliberal desceu um degrau na escadaria do poder. PSDB, PPS e DEM (sobretudo) viram diminuir seus números de prefeitos, vereadores e de votos. Em contrapartida, PT, PCdoB e PSB cresceram ganhando maior número de votos, prefeituras e vereadores.

E a oposição, embora tenha ganhado em capitais importantes, como Manaus e Salvador (dando uma sobrevida ao esquálido DEM), perdeu a principal e mais importante disputa, a eleição em São Paulo, que tem influência nacional determinante.

Derrota que agravou os problemas internos no partido que é, cada vez mais, o esteio da oposição conservadora e de direita: o PSDB.

O partido dos tucanos mantém inegável força política, mas corroída por disputas internas que, fechadas as urnas, afloraram com força opondo lideranças declinantes, como o derrotado José Serra e o impopular Fernando Henrique Cardoso, a novas estrelas cuja ascensão no ninho tucano tem esbarrado justamente na oposição do núcleo paulista da legenda, como os governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin, e Minas Gerais, Aécio Neves.

A movimentação começou logo no dia seguinte à derrota de José Serra. O governador mineiro Aécio Neves, que vive às bicadas com José Serra desde pelo menos a disputa para definir o candidato tucano para a eleição presidencial de 2010, viajou para São Paulo na segunda-feira (29), onde foi conversar com Fernando Henrique Cardoso para avaliar o desempenho partidário na eleição encerrada no domingo; seu contato com José Serra reduziu-se a um telefonema. Aécio que foi alçado, com o enfraquecimento de Serra, à grande estrela tucana, ao lado de outro desafeto do candidato derrotado, o governador Geraldo Alckmin, que também não reza pela cartilha serrista e que emerge da eleição como a outra grande estrela nacional do partido.

O estilhaçamento interno do PSDB é visível também na avaliação do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), um serrista de carteirinha que jogou a culpa da derrota de Serra sobre o que chamou de "negligência política" do PSDB. Foi na conta dessa “negligência política” que ele colocou o fracasso tucano em defender os motivos e a trajetória de seu candidato, sobretudo os temas conservadores que acolheu (aos quais o próprio Fernando Henrique Cardoso se referiu criticamente, durante a campanha) ou a decisão de renunciar à prefeitura em 2006, com pouco mais de um ano de mandato, e que foi um dos principais fatores da forte rejeição que as pesquisas de opinião registraram.

A fragmentação ocorre ao lado de um movimento visível no ninho para desinflar a hegemonia paulista (paulistana, mais precisamente) no PSDB. De Manaus, Artur Virgílio reforça esse movimento montado numa vitória que o recoloca no primeiro plano entre os caciques emplumados. E confessa que o “time dos sonhos” do tucanato é a improvável aliança com o PSB de Eduardo Campos em 2014. Sonho partilhado também pelo cardeal Fernando Henrique Cardoso.

Aécio é um dos crentes em uma “vitória” tucana. "O resultado superou nossas expectativas", disse, comparando o desempenho tucano com apenas o de um dos partidos da base aliada, o principal deles, o PT, e deixando deliberadamente de fora de seu foco de análise o desempenho das outras agremiações do núcleo de esquerda e centro-esquerda do governo, como o PCdoB, o PSB e o PMDB.

Outro que alardeia um fortalecimento tucano pós eleição é o presidente em exercício do partido, Alberto Goldman. "Saímos mais fortes. Apesar de ter perdido em São Paulo com 11% de diferença”, disse, ancorando-se num resultado nacional que considerou favorável que, em sua opinião, derivou de uma “maior capilaridade” do PSDB, de “uma presença mais expressiva”. Há opinião para tudo!

O mantra tucano pós derrota passou a ser a “necessidade de renovação”. O cientista político Humberto Dantas, do Insper, acredita na necessidade de "oxigenar" um partido cujas lideranças já estão avançadas em anos – Fernando Henrique Cardoso passa dos 80 anos, Serra dos 70 e Alckmin está na véspera de completar 60. Lideranças que têm se caracterizado, na última década, por colecionar derrotas eleitorais.

Não há como deixar de ler, nas entrelinhas da análise do professor, o nome de Aécio Neves, embora ele não o tenha citado. Mas ele apontou, em seu diagnóstico, o desafio a ser enfrentado para uma “renovação” tucana: a "truculência" das forças internas do partido, "viciadas na fórmula Covas-Alckmin-Serra". Truculência exposta já em eleições passadas quando a definição dos principais candidatos tucanos foi decidida quase a tapas.

Entre os problemas do PSDB apontados por Dantas está a necessidade de apresentação de novos nomes, novas lideranças que superem este triplo legado (Covas, Serra, Alckmin), está o que chamou de uma "significativa incapacidade de se planejar enquanto partido", e a urgência de encontrar "respostas estratégicas às demais perguntas deve tomar conta da agenda tucana urgentemente."

O desentendimento entre os caciques é um ponto frágil significativo, de desdobramentos que ainda não se pode prever. Outra fragilidade, enorme, são as ideias, é o programa. "O partido tem que construir seu discurso, fortalecer esse discurso de oposicionista para enfrentar o poder central que é o PT e seus aliados”, disse Alberto Goldman. “A estratégia é definir claramente sua posição e atuar, estar presente nos grandes temas que aparecem a todo momento”.

Ele repete, à sua maneira, aquilo que Fernando Henrique Cardoso vem repetindo há algum tempo. Artur Virgílio é outro para quem o PSDB, "mais do que novos quadros, precisa de novas ideias", aterrizando no cotidiano e falando “a linguagem das pessoas”, estando “superado isso de partido de intelectuais". Talvez ele tenha razão. Um partido de caciques intelectuais, distanciado do povo e dos trabalhadores, tem mesmo dificuldades crescentes à medida em que a democracia avança.

Mas que temas traduzir em “linguagem popular?” Com certeza será a reafirmação do mesmo repudiado programa neoliberal, de privatizações e omissão do Estado em relação aos problemas do povo, tudo isso embalado no cantochão do chamado “mensalão”. É um desafio e tanto para o tucanato visto que, cada vez mais, os brasileiros demonstram imunidade ao discurso privatista, elitista, antinacional e antidemocrático que os caracteriza.

O resultado da eleição deste ano aponta certamente para um rearranjo partidário, que corresponde a mudanças que ocorrem entre o eleitorado. Mas não se trata de um rearranjo à maneira conservadora. Bem, observadas as coisas, pode-se ver que, entre os quatro grandes partidos, dois perfilam no campo da esquerda (PT e PSB), um no campo que se pode chamar de cento-esquerda (PMDB) e um consolida-se como a legenda da direita (o PSDB). É preciso considerar também, nesta avaliação de uma tendência à esquerda do eleitorado, o notável crescimento do PCdoB, que avança e acumula forças.

Neste quadro partidário em movimento, onde a direita mais tradicional se estiola (o DEM agarra-se à tábua de salvação que significa a conquista da Prefeitura de Salvador) há um lugar demarcado para o tucanato: consolidar-se como o refúgio das forças conservadoras e oligárquicas numa nova formulação partidária onde elas perdem crescentemente expressão eleitoral. Pode-se prever os intensos conflitos entre as caciques tucanos até alcançarem a acomodação interna. É um processo em curso cujo próximo passo significativo será a eleição geral de 2014 (que inclui a disputa pela Presidência da República e dos governos estaduais). Serão dois curtos anos de fortes lutas no ninho tucano, envolvendo quase certamente Aécio Neves, Geraldo Alckmin, o renitente José Serra, sob a sombra de Fernando Henrique Cardoso.

Histeria da mídia é medo do fim do gigantismo

 

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Ataques coordenados de Folha, Abril e Globo à aplicação na Argentina da Ley de Medios, aprovada no Congresso por Cristina Kirchner, ressaltam interdição que mídia tradicional do Brasil promove sobre o debate da reorganização do setor; o que os barões mais temem é regulação sobre a propriedade cruzada de veículos de comunicação; EUA faz restrições a gigantismo de empresas do setor desde 1930

terça-feira, 30 de outubro de 2012

A derrota da mídia para o PT de Lula

Mídia derrotada mais uma vez pelo PT de Lula

Ricardo Kotscho


Perderam para Lula em 2002.

Perderam para Lula em 2006.

Perderam para Lula e Dilma em 2010.

Perderam para Lula e Haddad em 2012.

A aliança contra Lula e o PT montada pelos barões da mídia reunidos no Instituto Millenium sofreu no domingo mais uma severa derrota.
 
Eles simplesmente não aceitam até hoje que tenham perdido o poder em 2002, quando assumiu um presidente da República fora do seu controle, que não os consultava mais sobre a nomeação do ministro da Fazenda, nem os convidava para saraus no Alvorada.
 
Pouco importa que nestes dez anos tenha melhorado a vida da grande maioria dos brasileiros de todos os níveis sociais, inclusive a dos empresários da mídia, resgatando milhões de brasileiros da pobreza e da miséria, e dando início a um processo de distribuição de renda que mudou a cara do País.
 
Lula e o PT continuam representando para eles o inimigo a ser abatido. Pensaram que o grande momento tinha chegado este ano quando o julgamento do mensalão foi marcado, como eles queriam, para coincidir com o processo eleitoral.

Uma enxurada de capas de jornais e revistas com quilômetros de textos criminalizando o PT e latifúndios de espaço sobre o julgamento nos principais telejornais nos últimos três meses, todas as armas foram colocadas à disposição da oposição para o cerco final ao ex-presidente, mas a bala de prata deu chabu.
 
Na noite de domingo, quando foram anunciados os resultados, a decepção deve ter sido grande nos salões da confraria do Millenium, como dava para notar na indisfarçada expressão de derrota dos seus principais porta-vozes, buscando explicações para o que aconteceu.
 
Passada a régua nos números, apesar de todos os ataques da grande aliança formada pela mídia com os setores mais conservadores da sociedade brasileira, o PT de Lula e Dilma saiu das urnas maior do que entrou, como o grande vencedor desta eleição.
 
“PT — O maior vencedor” é o título do quadro publicado pela Folha ao lado dos mapas das Eleições em todo o País. Segundo o jornal, o PT “foi o campeão em dois dos mais importantes critérios. Além de ter sido o mais votado no 1º turno (17,3 milhões), é o que irá governar para o maior número de eleitores”.
 
De fato, com os resultados do segundo turno, o PT irá governar cidades com 37,1 milhões de habitantes, onde vive 20% do eleitorado do País. Com cidades habitadas por 30,6 milhões, o segundo colocado foi o PMDB, principal partido da base aliada.

“Em relação aos resultados das eleições de 2008, o total de eleitores governados por prefeitos petistas crescerá 29% em 2013, quando os eleitos ontem e no primeiro turno deverão assumir”, contabiliza Ricardo Mendonça no mesmo jornal.
 
Do outro lado, aconteceu exatamente o contrário: “Já os partidos que fazem oposição ao governo Dilma Rousseff saem da eleição menores do que entraram. Na comparação com 2008, PSDB, DEM e PPS, os três principais oposicionistas, terão 309 prefeituras a menos. Puxados para baixo principalmente pelo DEM, irão governar para 10,5 milhões de eleitores a menos”.
 
Curiosa foi a manchete encontrada pelo jornal “O Globo” para esconder a vitória do PT: “Partidos ficam sem hegemonia nas capitais”. E daí? Quando, em tempos recentes, algum partido teve hegemonia nas capitais? Só me lembro da Arena, nos tempos da ditadura militar, que o jornal apoiou e defendeu, quando não havia eleições diretas.
 
O que eles estarão preparando agora para 2014? Sem José Serra, que perdeu de novo para um candidato do PT que nunca havia disputado uma eleição, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, eleito com 55,57% dos votos, terão que encontrar primeiro um novo candidato.
 
Ao bater de frente pela segunda vez seguida num “poste do Lula”, o tucano preferido da mídia corre agora o risco de perder também a carteira de motorista

domingo, 28 de outubro de 2012

Para FHC, Haddad é sério, Lula venceu e Serra já era

 

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"Eu não participei da escolha do nome do partido. Acho que se poderia ter tido uma discussão um pouco maior...", disparou o ex-presidente, antes de votar em São Paulo, por volta do meio-dia, numa crítica a José Serra; ele entregou os pontos; "Lula é o grande vitorioso destas eleições?", perguntou uma repórter; "Em São Paulo, sim", admitiu Fernando Henrique; Aproveitou, rápido, para elogiar Fernando Haddad, que ontem foi classificado como 'delinquente' pela campanha serrista; "Haddad é uma pessoa séria", cravou

28 de Outubro de 2012 às 13:50

sábado, 27 de outubro de 2012

Lula completa 67 anos, um dia antes de eleger o novo prefeito de São Paulo

Aos 67, Lula está a um dia da maior vitória política

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Caso Fernando Haddad confirme o favoritismo e vença a disputa deste domingo em São Paulo, o ex-presidente Lula, que hoje cedo comemorou o primeiro aniversário após a cura do câncer, terá, mais uma vez, provado seu faro eleitoral e sua capacidade de superar obstáculos internos e externos

27 de Outubro de 2012 às 12:34

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Padre pode ser preso por denunciar contaminação do feijão de Unaí

MANIFESTO CONTRA USO INDISCRIMINADO DE AGROTÓXICOS E CONTRA CRIMINALIZAÇÃO DE FREI GILVANDER

Prisão preventiva para frei Gilvander por denunciar uso indiscriminado de agrotóxico?Isso é injusto, ilegal e inadmissível.
Frei Gilvander Luís Moreira, padre da Ordem dos Carmelitas, militante dos direitos humanos, assessor da Comissão Pastoral da Terra, conselheiro do Conselho Estadual de Direitos Humanos – CONEDH/MG - apoiador e articulador dos movimentos sociais populares, dentre os diversos trabalhos que vem realizando em Minas Gerais na defesa dos pobres e, sobretudo da vida com dignidade, divulgou no www.youtube.com.br e em seu site www.gilvander.com.br (Galeria de vídeos) um vídeo que denuncia o excesso de veneno em feijão no município de Unaí, Noroeste de Minas Gerais, Brasil. O vídeo tem em como título: O feijão de Unaí está envenenado? – encontrável através do link: http://www.youtube.com/watch? v=uOrtJVd-A0Q&feature=relmfu

Frei Gilvander escutou a denúncia e colheu algumas informações de usuários da marca Feijão Unaí utilizando-se do direito da livre manifestação, do direito a informação e atendeu ao apelo da Campanha da Fraternidade 2011: “Fraternidade e Saúde Pública”, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB.

É de conhecimento público que o uso indiscriminado de agrotóxicos, no meio popular rural chamado de veneno, se tornou objeto de inúmeras reportagens, pesquisas científicas e documentários, tendo causado grandes problemas para a saúde de muita gente, inclusive com comprovação científica de ser uma das causas do vertiginoso número de pessoas com câncer no Brasil. Cf. o Filme-Documentário O VENENO ESTÁ NA MESA, do cineasta Sílvio Tendler, também disponibilizado na internet, no youtube.

A matéria do vídeo divulgado traz uma grande preocupação com a saúde das pessoas que vivem na região de Unaí pelo excesso de utilização de veneno nos alimentos, entre os quais, o feijão. O vídeo fala do feijão que foi enviado para a merenda escolar de uma determinada escola e que as cozinheiras ao iniciaram o preparo do feijão não suportaram o mau cheiro e os sinais de veneno contidos no feijão, chegando, inclusive a passarem mal. Que este processo vem se repetindo, chegando ao ponto de até já ter que jogar o feijão fora e que este feijão tem a marca “feijão Unaí”.

Um Relatório da Câmara dos Deputados afirma que “A incidência de câncer em regiões produtoras de Minas Gerais, que usam intensamente agrotóxicos em patamares bem acima das médias nacional e mundial, sugere uma relação estreita entre essa moléstia e a presença de agrotóxico’ .

Em Minas Gerais , justamente na cidade de Unaí, está sendo construído um Hospital do Câncer conforme pode ser visto em: http://www.youtube.com/watch? v=pBoc847Z134 , pela malsinada ocorrência volumosa desta doença na região Noroeste de Minas Gerais.

Segundo os dados apresentados na Ausculta Pública que foi realizada em UNAÍ pela Comissão Parlamentar, revelaram no documento da CAMARA FEDERAL, que já estão ocorrendo cerca de 1.260 casos/ano/100.000 por habitantes. A média mundial não ultrapassa 400 casos/ano/100.000 pessoas.” Ou seja, se não houver uma redução drástica no uso de agrotóxico, daqui a 10 anos, poderá ter na região noroeste atendidos na cidade de Unaí, mais de 12.600 pessoas com câncer, sem contar o grande número de pessoas que já contraíram essa moléstia grave.

Nesse sentido, se observar bem a narrativa do vídeo apresentado por Frei Gilvander, há apenas depoimentos de consumidores da marca Feijão Unaí revelando o mau cheiro no feijão característico de uso de agrotóxicos. Não há uma narrativa de cunho difamatório, senão apenas informativa em que pessoas dizem sua opinião e o que pensam sobre o dito feijão.

Porque foi dito isso na entrevista e apresentada a marca do feijão, a Empresa responsável/proprietária do Feijão Unaí não só processou o Frei Gilvander e os responsáveis do Google e Yootube, como o juiz de Unaí, do Juizado Especial Cível, responsável pelo processo, decretou a prisão preventiva de Frei Gilvander, caso não seja retirado o vídeo da internet dentro de cinco dias.

O Estado democrático de direito em que vivemos nos garante o direito de livre expressão e de informação, assim como o sagrado direito a saúde. Um vídeo como este que pretende alertar as pessoas para o cuidado com o veneno nos alimentos, chegou ao cúmulo de se transformar em um processo no qual a empresa alega ter sofrido “danos materiais” e “danos morais”, de haver sido vítima de “difamação” e para completar, o juiz cível decreta a prisão do frei e dos diretores do Google e do youtube, que, inclusive, já apresentaram defesa dizendo que no vídeo não nada de ilícito, que o vídeo se trata de reportagem, de informação, o que está assegurado pelas leis brasileiras. Por isso o Youtube nem frei Gilvander não retiraram o vídeo do ar.

Conclamamos apoio e ampla divulgação desse Manifesto, considerando que tal processo e decisão judicial é uma ofensa ao Estado democrático de direito, uma violação do direito fundamental de livre manifestação e de informação, assim como uma ameaça à saúde pública visto que o vídeo é um importante alerta não só para as pessoas que vivem na região de Unaí, MG, mas para toda a população brasileira.
Assista ao vídeo acessando o link:

E, se você julgar pertinente, acrescente seu nome ou o nome de seu movimento/entidade na lista, abaixo, e socialize, compartilhe com outras pessoas para que se fortaleça a Campanha Permanente contra os agrotóxicos e por alimentação saudável, sem criminalização de quem defende os direitos humanos.

Assinam esse Manifesto:
Comissão dos Direitos Humanos da OAB/MG
Movimento Nacional de Direitos Humanos - MNDH
Conselho Estadual dos Direitos Humanos de Minas Gerais - CONEDH
Brigadas Populares
CUT-MG – Central Única dos Trabalhadores
SINDUTE-MG
SINDIELETRO-MG
MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MG
Comissão Pastoral da Terra – CPT/MG
SINDPOL/MG – Sindicato dos Servidores da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais
MLB – Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas
AGB – Associação dos Geógrafos Brasileiros
MTD – Movimento dos Trabalhadores Desempregados
SINDÁGUA-MG
PSOL-MG
Prof. José Luiz Quadros de Magalhães, Dr. Direito Constitucional, prof. UFMG E PUC-MINAS
Patrus Ananias, ex-Ministro do Ministério do Desenvolvimento Social
Deputado Federal Padre João Carlos, da Subcomissão Especial sobre o Uso dos Agrotóxicos e suas Consequências à Saúde na Câmara dos Deputados
Willian Santos, presidente da Comissão dos Direitos Humanos da OAB-MG
Grupo de amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade
Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania
Centro de Cooperação Comunitária Casa Palmares
Rede de apoio e solidariedade as ocupações
Conselho da Comunidade na Execução Penal de Belo Horizonte
Comunidade Dandara
RENAP – Rede Nacional de Advogados Populares
IPDMS – Instituto de Pesquisa, Direito e Movimentos Sociais, MG
Programa Pólos de Cidadania da UFMG
Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais
MOCECO
Comissão de Meio ambiente do bairro Havaí e Adjacências
Ana Maria Turolla
Vereador Adriano Ventura – Partido dos Trabalhadores/BH
RECID – Rede de Educação Cidadã, MG
Fórum Mineiro de Direitos Humanos
Osmar Resende – Libertos Comunicação (Movimento LGBT)
Mídia, Comunicação e Direitos Humanos
Instituto de Direitos Humanos – IDH
Fórum Mineiro de Direitos Humanos
Comitê Estadual de Educação e Direitos Humanos – COMEDH
...
Belo Horizonte, MG, Brasil, 25 de outubro de 2012

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

No princípio está a comunhão, não a solidão

Leonardo Boff
Teólogo, filósofo e escritor
Adital
 
Escrevíamos anteriormente que Deus é mistério em si mesmo e para si mesmo. Para os cristãos trata-se de um mistério de comunhão e não de solidão. É a Santíssima Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A ortodoxia afirma: há três Pessoas e um só Deus. É possível isso? Não seria um absurdo 3=1? Aqui tocamos naquilo que os cristãos subentendem quando dizem "Deus”. É diferente que o absoluto monoteísmo judeu e muçulmano. Sem abandonarmos o monoteísmo, faz-se mister um esclarecimento desta Trindade.
 
O três seguramente é um número. Mas não como resultado de 1+1+1=3. Se pensarmos assim matematicamente, então Deus não é três; mas, um e único. O número três funciona como um símbolo para sinalizar que sob o nome Deus há comunhão e não solidão, distinções que não se excluem mas que se incluem, que não se opõem mas se compõem. O número três seria como a auréola que colocamos simbolicamente ao redor da cabeça das pessoas santas. Não é que elas andem por ai com essa auréola. Para nós é o símbolo a sinalizar que estamos diante de figuras santas. Assim ocorre com o número três.
 
Com o três dizemos que em Deus há distinções. Se não houvesse distinções, reinaria a solidão do um. A palavra Trindade (número três) está no lugar de amor, comunhão e inter-retro-relações. Trindade significa exatamente isso: distinções em Deus que permitem a troca e a mútua entrega de Pai, Filho e Espírito.
 
A rigor, como já viu o gênio de Santo Agostinho, não se deveria falar de três Pessoas. Cada Pessoa divina é única. E os únicos não se somam porque o único não é número. Se disser um em termos de número, então não há como parar: seguem o dois, o três, o quatro e assim indefinidamente. Kant erroneamente entendeu assim e por isso rejeitava a ideia de Trindade. Portanto o número três possui valor simbólico e não matemático. O que ele simboliza?
C. G. Jung nos socorre. Ele escreveu longo ensaio sobre o sentido arquetípico-simbólico da Trindade cristã. O três expressa a relação tão íntima e infinita entre as diversas Pessoas que se uni-ficam, quer dizer, ficam um, um só Deus.

Mas se são três Únicos, não resultaria no triteísmo, vale dizer, três Deuses em vez de um: o monoteísmo? Isso seria assim, se funcionasse a lógica matemática dos números. Se somo uma manga+uma manga+uma manga, resultam em três mangas. Mas com a Trindade não é assim, pois estamos diante de outra lógica, a das relações interpessoais. Segundo esta lógica, as relações não se somam. Elas se entrelaçam e se incluem, constituindo uma unidade. Assim, pai, mãe e filhos constituem um único jogo de relações, formando uma única família. A família resulta das relações inclusivas entre os membros. Não há pai e mãe sem filho, não há filho sem pai e mãe. Os três se uni-ficam, ficam um, uma única família. Três distintos; mas, uma só família, a trindade humana.
 
Quando falamos de Deus-Trindade entra em ação esta lógica das relações interpessoais e não dos números. Em outras palavras: a natureza íntima de Deus não é solidão; mas, comunhão.
 
Se houvesse um só Deus reinaria, de fato, a absoluta solidão. Se houvesse dois, num frente a frente ao outro, vigoraria a distinção e, ao mesmo tempo, a separação e a exclusão (um não é o outro) e uma mútua contemplação. Não seria egoísmo a dois? Com o três, o um e o dois se voltam para o três, superam a separação e se encontram no três. Irrompe a comunhão circular e a inclusão de uns nos outros, pelos outros e com os outros, numa palavra: a Trindade.

O que existe primeiro é a simultaneidade dos três Únicos. Ninguém é antes ou depois. Emergem juntos sempre se comunicando reciprocamente e sem fim. Por isso dizíamos: no princípio está a comunhão. Como consequência desta comunhão infinita resulta a união e a unidade em Deus. Então: três Pessoas e um só Deus-comunhão.
Não nos dizem exatamente isso os modernos cosmólogos? O universo é feito de relações e nada existe fora das relações. O universo é a grande metáfora da Trindade: tudo é relação de tudo com tudo: um uni-verso. E nós dentro dele.

[Teólogo e filósofo, autor de A Trindade é a melhor comunidade, Vozes 2009].

Ministro do STF defende a ditadura militar

Será que um ministro da Suprema Corte que defende o regime de exceção, que torturou e matou tanta gente no Brasil, tem condições morais e éticas para julgar com isenção?
Edição 247: Em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, o ministro Marco Aurélio Mello já definiu o golpe de 1964 como um "mal necessário" diante do risco que se avizinhava; declaração coloca mais lenha no debate do mensalão; afinal, como pode um ministro do STF defender um regime que suprimiu garantias constitucionais elementares e, agora, condenar políticos que enfrentaram esse mesmo regime?

A vertigem do Supremo

 

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247 publica em primeira mão a reportagem de Raimundo Rodrigues Pereira, um dos mais consagrados jornalistas brasileiros e editor da Retrato do Brasil, sobre o julgamento da Ação Penal 470; amparado em documentos, ele demonstra que o desvio de R$ 73,8 milhões do Banco do Brasil, por meio da Visanet, simplesmente não ocorreu; corte julga o capítulo final, que trata da formação de quadrilha

domingo, 21 de outubro de 2012

Percentual de negros com diploma salta de 4% para 20%

Um sucesso para ninguém botar defeito

De Elio Gaspari, Colunista da Folha de S. Paulo

A notícia pareceu uma simples estatística: entre 1997 e 2011, quintuplicou a percentagem de negros e pardos que cursam ou concluíram o curso superior, indo de 4% para 19,8%. Em números brutos, foram 12,8 milhões de jovens de 18 a 24 anos.
Isso aconteceu pela conjunção de duas iniciativas: restabelecimento do valor da moeda, ocorrido durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, e as políticas de ação afirmativa desencadeadas por Lula.

Poucos países do mundo conseguiram resultado semelhante em tão pouco tempo. Para ter uma ideia do tamanho dessa conquista, em 2011 a percentagem de afrodescendentes matriculados em universidades americanas chegou a 13,8%, 3 milhões em números brutos. Isso depois de meio século de lutas e leis.

Em 1957, estudantes negros entraram na escola de Little Rock escoltados pela 101ª Divisão de Paraquedistas.

Pindorama ainda tem muito chão pela frente, pois seus negros e pardos formam 50,6% da sua população e nos Estados Unidos são 13%.

O percentual de 1997 retratava um Brasil que precisava mudar. O de 2011, uma sociedade que está mudando, para melhor. Por trás desse êxito estão políticas de cotas ou estímulos nas universidades públicas e no ProUni.

Em seis anos, o ProUni matriculou mais de 1 milhão jovens do andar de baixo, brancos, pardos, negros ou índios. Deles, 265 mil já se formaram. Novamente, convém ver o que esse número significa: em 1944, quando a sociedade americana não sabia o que fazer com milhões de soldados que combatiam na Europa e no Pacífico, o presidente Franklin Roosevelt criou a GI-Bill.

Ela dava a todos os soldados uma bolsa integral nas universidades que viessem a aceitá-los. Em cinco anos, a GI-Bill matriculou 2 milhões de jovens. Hoje entende-se que a iniciativa foi a base da nova classe média americana e há estudiosos que veem nela o programa de maior alcance social das reformas de Roosevelt.

Negro na universidade ainda é minoria

Jornal da Veia - 3 de agosto de 2011 em Uncategorized

Apesar de políticas afirmativas direcionadas para a população negra, esse público ainda é minoria nas universidades federais. Estudo que será lançado nesta quarta-feira(03) pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) sobre o perfil dos estudantes de graduação mostra que 8,72% deles são negros. Os brancos são 53,9% , os pardos 32% e os indígenas menos de 1%.

Ainda que a participação dos negros nas federais seja pequena, houve um crescimento em relação à pesquisa anterior produzida pela Andifes em 2003, quando menos de 6% dos alunos eram negros. Isso significa um aumento de 47,7% na participação dessa população em universidades federais.

Para o presidente da associação, João Luiz Martins, a evolução é “tímida”. Ele defende a necessidade de políticas afirmativas mais agressivas para garantir a inclusão. “A universidade tem uma dívida enorme em relação a isso [inclusão de negros]. Há necessidade de ampliar essas ações porque o atendimento ainda é muito baixo”, avalia.

A entidade é contra uma legislação ou regra nacional que determine uma política comum para todas as instituições, como o projeto de lei que tramita no Senado e determina reserva de 50% das vagas para egressos de escolas públicas. “Cada um de nós tem uma política afirmativa mais adequada à nossa realidade. No Norte, por exemplo, a universidade precisa de uma política que tenha atenção aos indígenas. No Sul, o perfil já é outro e na Bahia outro”, explica Martins.

O estudo mostra que os alunos egressos de escolas públicas são 44,8% dos estudantes das universidades federais. Mais de 40% cursaram todo o ensino médio em escola privada. O reitor da Universidade Federal do Pará (Ufpa), Carlos Maneschy, explica que na instituição metade das vagas do vestibular é reservada para egressos da rede pública. Desse total, 40% são para estudantes negros. Ele acredita que nos próximos anos a universidade terá 20% de alunos da raça negra. “Antes, nem 5% eram de escola pública”, diz. As informações são da Agência Brasil

Mauricio Dias: A manipulação escancarada da “ética”

por Mauricio Dias, em CartaCapital


Lula ganhou a eleição presidencial em 2002. Tinha uma aprovação pessoal grande e a avaliação do governo dele em nível elevado. A oposição não sabia como se opor àquele governo que não naufragou de imediato como ela esperava e torcia. Frustrou-se.

O governo fez o dever de casa. Foi comedido, comportado, conservador. Sacrificou o crescimento econômico pelo superávit primário. Embora tivesse base de apoio no Congresso capaz de permitir ousadias, conteve-se. O programa Bolsa Família, criado em 2003, é uma exceção que confirma a regra.

Em 2005, no entanto, explodiu a denúncia do “mensalão” e despertou na oposição o velho sentimento moralista da extinta UDN. Era a bandeira que faltava para guiar as insatisfações e retomar o poder para os tucanos. Delenda Lula.

Entrou em ação a “banda de música” udenista e com ela o uso político, ou manipulação, do tema corrupção, ampliado pelas trombetas da mídia. A ética foi escancaradamente banalizada e alcançou até mesmo a tradicional distribuição de cargos da máquina pública. Antes aceita, passou a ser condenada. Chegou-se à criminalização da política. Alguns índices de abstenção no primeiro turno das eleições municipais de 2012, ainda em curso, refletem isso.

Apesar disso, a propaganda do combate à corrupção não deu certo. Em 2006, Lula foi reeleito e, em 2010, elegeu Dilma. Um ás que tirou da manga.

O que falhou no golpe da oposição? Basicamente, faltou combinar com o eleitor. Chegou-se a achar que o povão, o eleitor pobre, não tinha ética. O povo, porém, como apregoa conhecido refrão, não é bobo. Tinha, na verdade, a informação essencial transmitida pelos benefícios de uma administração que resgatava milhões de marginalizados para incluí-los no processo econômico. A coisa não para por aí. Tem mais.

Recentemente, Márcia Cavallari, diretora-executiva do Ibope, concluiu um levantamento sobre mudança na agenda dos “principais problemas brasileiros”, segundo o eleitor. Os dados são tirados, essencialmente, das pesquisas daquele instituto. Em 21 anos, de 1989 a 2010, houve alterações significativas nessa agenda.

 
Observados os porcentuais do levantamento e, claro, principalmente os resultados das urnas nesse período, fica bem visível que o eleitor, embora condene, não vê a corrupção como principal adversário. No período pesquisado, o combate a esse crime baixou do quinto para o sexto lugar no elenco dos problemas a partir da queda de 5 pontos porcentuais na escala das indicações.

Curiosidade à margem do tema: caiu radicalmente a preocupação com a inflação, diminui significativamente a preocupação com a habitação e desapareceu a referência à dívida externa. Contrariamente, porém, surgiram as drogas com porcentual elevado na lista de apreensões dos brasileiros.

Essa preocupação secundária com o combate à corrupção mostra que os eleitores entregam o voto para candidatos preocupados com a inflação – FHC valeu-se disso para ganhar a eleição montado no Plano Real –, com a saúde, com a educação, a segurança pública e o desemprego. Por fim, porém não menos importante, a distribuição de renda.

O eleitor sabe do que precisa. O moralista que duvidar que atire nele a primeira pedra.

sábado, 20 de outubro de 2012

Censo mostrou o que mudou no Brasil em 10 anos

Censo mostra resultados do Minha Casa Minha Vida e Luz para Todos

Dois programas implantados durante o governo do ex-presidente Lula aparecem com clareza no Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado nesta quarta-feira (17). Nos últimos dez anos, como consequência do Minha Casa Minha Vida, melhorou a condição de moradia, com redução de pessoas por dormitório. O percentual de domicílios com duas pessoas por dormitório - condição ideal - cresceu de 62,9% (1991) para 81,9% (2010) sobre o total de residências do País.

O fornecimento de energia elétrica apresentou as maiores taxas de crescimento justamente nas regiões que antes eram as menos atendidas. Em 1991, na Rgião Norte, apenas 67% das residências contavam com luz elétrica; hoje, são 89,3%. No Nordeste, durante o mesmo período, o percentual de residências ligadas à rede crescce de 71,7% pata 96,9%.
 
Em 2010, o fornecimento de energia elétrica por companhias de distribuição era o serviço mais abrangente, chegando à quase totalidade dos domicílios, principalmente no Sul (99,3%) e Sudeste (99,0%).
 
As diferenças regionais também persistem nas condições de moradia, com a região Sul apresentando, em 2010, 90,1% dos domicílios com até dois moradores por cômodo, enquanto no Norte apenas 66,2% tinham essa característica.
 
Em 2010, 52,5% dos domicílios do país eram adequados (domicílios com abastecimento de água por rede geral, esgotamento sanitário por rede geral ou fossa séptica, coleta de lixo direta e indireta e com até dois moradores por dormitório;) e 4,1% inadequados (domicílios sem nenhuma das condições de adequação consideradas).

No entanto, apenas no Sul (68,9%) e no Sudeste (59,35%) mais da metade dos domicílios eram adequados, pois nas regiões restantes os percentuais não chegavam à metade dos domicílios. A região Norte foi a que apresentou o quadro mais desfavorável, com apenas 16,3% de domicílios adequados.

Rede de abastecimento de água cresceu mais no Nordeste

O crescimento do serviço de abastecimento de água por rede geral ocorreu em todas as regiões, embora de forma desigual. A região Nordeste foi a que apresentou o desenvolvimento mais acelerado no período, crescendo de 52,8%, em 1991, para, 76,3%, em 2010.

O esgotamento sanitário por rede geral ou fossa séptica foi o indicador de saneamento básico que mostrou situação mais crítica e maiores desigualdades entra as regiões. As regiões Norte (32,9%), Nordeste (45,4%) e Centro-Oeste (51,8%) eram as que apresentavam as menores proporções de domicílios com esgotamento sanitário adequado. Mesmo com baixas proporções de domicílios com rede geral de esgoto ou fossa séptica, a região Nordeste foi a que apresentou o maior aumento proporcional, passando de 24,2% de domicílios com esgotamento adequado, em 1991, para 45,4%, em 2010. Por outro lado, a região Norte registrou queda de 36,3% para 32,9% dos domicílios ligados à rede geral de esgoto ou com fossa séptica, entre 2000 e 2010.

Já a coleta direta e indireta de lixo por serviço de limpeza apresentou desempenho significativo em 2010, variando entre 74,4%, na região Norte, e 95,0%, no Sudeste. Esse foi o serviço que, proporcionalmente, mais cresceu em todas as regiões. Entre 1991 a 2010, as regiões Norte (36,9% para 74,4% dos domicílios) e Nordeste (41,6% para 75,0%) tiveram os mais altos avanços no serviço.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Fábio Konder Comparato: Para entender o julgamento do "mensalão"


O julgamento de casos com importante componente político ou religioso não se faz por meio do puro silogismo jurídico tradicional: a interpretação das normas jurídicas pertinentes ao caso, como premissa maior; o exame dos fatos, como premissa menor, seguindo logicamente a conclusão. O procedimento costuma ser bem outro. Em casos que tais, salvo raras e honrosas exceções, os juízes fazem interiormente um pré-julgamento, em função de sua visão de mundo. O artigo é de Fábio Konder Comparato.



 
Ao se encerrar o processo penal de maior repercussão pública dos últimos anos, é preciso dele tirar as necessárias conclusões ético-políticas.

Comecemos por focalizar aquilo que representa o nervo central da vida humana em sociedade, ou seja, o poder.

No Brasil, a esfera do poder sempre se apresentou dividida em dois níveis, um oficial e outro não-oficial, sendo o último encoberto pelo primeiro.

O nível oficial de poder aparece com destaque, e é exibido a todos como prova de nosso avanço político. A Constituição, por exemplo, declara solenemente que todo poder emana do povo. Quem meditar, porém, nem que seja um instante, sobre a realidade brasileira, percebe claramente que o povo é, e sempre foi, mero figurante no teatro político.

Ainda no escalão oficial, e com grande visibilidade, atuam os órgãos clássicos do Estado: o Executivo, o Legislativo, o Judiciário e outros órgãos auxiliares. Finalmente, completando esse nível oficial de poder e com a mesma visibilidade, há o conjunto de todos aqueles que militam nos partidos políticos.

Para a opinião pública e os observadores menos atentos, todo o poder político concentra-se aí.

É preciso uma boa acuidade visual para enxergar, por trás dessa fachada brilhante, um segundo nível de poder, que na realidade quase sempre suplanta o primeiro. É o grupo formado pelo grande empresariado: financeiro, industrial, comercial, de serviços e do agronegócio.

No exercício desse poder dominante (embora sempre oculto), o grande empresariado conta com alguns aliados históricos, como a corporação militar e a classe média superior. Esta, aliás, tem cada vez mais sua visão de mundo moldada pela televisão, o rádio e a grande imprensa, os quais estão, desde há muito, sob o controle de um oligopólio empresarial. Ora, a opinião – autêntica ou fabricada – da classe média conservadora sempre influenciou poderosamente a mentalidade da grande maioria dos membros do nosso Poder Judiciário.

Tentemos, agora, compreender o rumoroso caso do “mensalão”.

Ele nasceu, alimentou-se e chegou ao auge exclusivamente no nível do poder político oficial. A maioria absoluta dos réus integrava o mesmo partido político; por sinal, aquele que está no poder federal há quase dez anos. Esse partido surgiu, e permaneceu durante alguns poucos anos, como uma agremiação política de defesa dos trabalhadores contra o empresariado. Depois, em grande parte por iniciativa e sob a direção de José Dirceu, foi aos poucos procurando amancebar-se com os homens de negócio.

Os grandes empresários permaneceram aparentemente alheios ao debate do “mensalão”, embora fazendo força nos bastidores para uma condenação exemplar de todos os acusados. Essa manobra tática, como em tantas outras ocasiões, teve por objetivo desviar a atenção geral sobre a Grande Corrupção da máquina estatal, por eles, empresários, mantida constantemente em atividade magistralmente desde Pedro Álvares Cabral.

Quanto à classe média conservadora, cujas opiniões influenciam grandemente os magistrados, não foi preciso grande esforço dos meios de comunicação de massa para nela suscitar a fúria punitiva dos políticos corruptos, e para saudar o relator do processo do “mensalão” como herói nacional. É que os integrantes dessa classe, muito embora nem sempre procedam de modo honesto em suas relações com as autoridades – bastando citar a compra de facilidades na obtenção de licenças de toda sorte, com ou sem despachante; ou a não-declaração de rendimentos ao Fisco –, sempre esteve convencida de que a desonestidade pecuniária dos políticos é muito pior para o povo do que a exploração empresarial dos trabalhadores e dos consumidores.

Deus, esse desconhecido conhecido


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Leonardo Boff

Nos dias 5 e 6 de outubro em Assis realizou-se mais uma edição do “Átrio dos Gentios”, iniciativa do Pontifício Conselho para a Cultura do Vaticano, voltada para a questão de Deus. O Presidente da Itália, Giorgio Napolitano e o Card. Gianfranco Ravasi, à frente do Conselho e famoso exegeta bíblico, fizeram um diálogo instigante sobre “Deus, esse desconhecido”.

Com o “Átrio dos Gentios” faz-se um esforço de levar ao diálogo crentes e não crentes. O Átrio era o espaço ao redor do templo de Jerusalém acessível aos gentios (pagãos) que, de resto, jamais poderiam de entrar no templo. Agora procura-se tirar os interditos para que todos possam aceder ao templo.

A este propósito me permito uma reflexão que me acompanha ao largo de toda a vida de teólogo: pensar Deus para além das objetivações religiosas (metafísicas) e procurar interpretá-lo como Mistério sempre desconhecido e, ao mesmo tempo, sempre conhecido. Por que este caminho? Einstein nos oferece uma pista: ”o homem que não tem os olhos abertos para o Mistério passará pela vida sem nunca ver nada”.

Efetivamente, para onde quer que dirijamos o olhar, para o grande e para o pequeno, para fora e para dentro, para o alto e para o baixo, para todos os lados, encontramos o Mistério. O Mistério não é o desconhecido. É o conhecido que nos fascina e nos atrai para conhecê-lo mais e mais. Ao tentar conhecê-lo, percebemos que nossa sede e fome de conhecimento nunca se sacia. No mesmo momento em que O conhecemos, Ele se nos escapa na direção do desconhecido. Perseguimo-lo sem cessar e mesmo assim Ele fica sempre Mistério em todo o conhecimento, causando-nos atração invencível, temor profundo e reverência irresistível. O Mistério simplesmente é.

Minha tese de base é esta: no princípio era o Mistério. O Mistério era Deus. Deus é o Mistério. Deus é Mistério para nós e para Si mesmo.

É Mistério para nós na medida em que nunca acabamos de conhecê–Lo nem pela razão nem pelo amor. Cada encontro deixa uma ausência que leva a outro encontro. Cada conhecimento abre outra janela para um novo conhecimento. O Mistério de Deus não é o limite do conhecimento mas o ilimitado do conhecimento. É o amor que não conhece repouso. O Mistério não cabe em nenhum esquema nem vem aprisionado nas malhas de alguma religião, Igreja ou doutrina. Ele está sempre por ser conhecido.

O Mistério é uma Presença ausente. Mas também, uma Ausência presente. Manifesta-se na nossa absoluta insatisfação que incansavelmente e em vão busca satisfação. Neste transitar entre Presença e Ausência se realiza o ser humano, trágico e feliz, inteiro mas inacabado.

Deus é Mistério em si mesmo e para si mesmo. Deus é Mistério em si mesmo porque sua natureza é Mistério. Vale dizer: Deus enquanto Mistério se autoconhece e no entanto nunca tem fim seu autoconhecimento. O conhecimento de sua natureza de Mistério é cada vez inteiro e pleno e, ao mesmo tempo, sempre aberto para nova plenitude, ficando sempre Mistério, eterno e infinito para si mesmo. Se assim não fosse, não seria o que é: Mistério. Portanto, Ele é um absoluto Dinamismo sem limites.

Deus é Mistério para si mesmo quer dizer: por mais que Ele se autoconheça nunca esgota este seu conhecimento. Está aberto a um futuro que é realmente futuro. Portanto, algo que ainda não é dado, mas que pode se dar como novo para Ele mesmo. Com a encarnação Deus começou a ser aquilo que antes não era. Portanto, em Deus há um devir, um tornar-se.

Mas o Mistério, por um dinamismo intrínseco, permamentemente se revela e se autocomunica. Sai de si e conhece e ama o novo que emerge dele. O que vai se emergir não é reprodução do mesmo. Mas sempre distinto e novo, também para Ele. À diferença do enigma que, conhecido, se desfaz, o Mistério quanto mais conhecido mais aparece como desconhecido, quer dizer, como Mistério que convida para mais conhecimento e para maior amor.

Dizer Deus-Mistério é expressar um dinamismo sem resto, uma vida sem entropia, uma irrupção sem perda, um devir sem interrupção, um eterno vir-a-ser sempre sendo e uma beleza sempre nova e diferente que jamais fenece. Mistério é Mistério, agora e sempre, desde toda a eternidade e por toda a eternidade.

Diante do Mistério se afogam as palavras, desfalecem as imagens e morrem as referências. O que nos cabe é o silêncio, a reverência, a adoração e a contemplação. Estas são as atitudes adequadas ao Mistério.

Assumindo tal compreensão, se derrubam todos os muros. Já não haverá mais o Atrio dos Gentios e tambem não existirá mais templo, porque Deus não tem religião. Ele é simplesmente o Mistério que liga e re-liga tudo, cada pessoa e o inteiro universo. O Mistério nos penetra e nEle estamos mergulhados.

Leonardo Boff é autor de Experimentar Deus: a transparência de todas as coisas, Vozes 2002.