domingo, 30 de dezembro de 2012

Feliz Ano Novo - Frei Betto



Frei Betto

Por que desejar Feliz Ano-Novo se há tanta infelicidade à nossa volta? Será feliz o próximo ano para afegãos e palestinos, e os soldados usamericanos sob ordens de um governo imperialista que qualifica de "justas” guerras de ocupações genocidas?

Serão felizes as crianças africanas reduzidas a esqueletos de olhos perplexos pela tortura da fome? Seremos todos felizes conscientes dos fracassos de Copenhague, que salvam a lucratividade e comprometem a sustentabilidade?

O que é felicidade? Aristóteles assinalou: é o bem maior a que todos almejamos. E meu confrade Tomás de Aquino alertou: mesmo ao praticarmos o mal. De Hitler a madre Teresa de Calcutá, todos buscam, em tudo que fazem, a própria felicidade.

A diferença reside na equação egoísmo/altruísmo. Hitler pensava em suas hediondas ambições de poder. Madre Teresa, na felicidade daqueles que Frantz Fanon denominou "condenados da Terra”.
A felicidade, o bem mais ambicionado, não figura nas ofertas do mercado. Não se pode comprá-la, há que conquistá-la. A publicidade empenha-se em nos convencer de que ela resulta da soma dos prazeres. Para Roland Barthes, o prazer é "a grande aventura do desejo”.

Estimulado pela propaganda, nosso desejo exila-se nos objetos de consumo. Vestir esta grife, possuir aquele carro, morar neste condomínio de luxo – reza a publicidade – nos fará felizes.

Desejar Feliz Ano-Novo é esperar que o outro seja feliz. E desejar que também faça os outros felizes? O pecuarista que não banca assistência médico-hospitalar para seus peões e gasta fortunas com veterinários de seu rebanho, espera que o próximo tenha também um Feliz Ano-Novo?

Na contramão do consumismo, Jung dava razão a São João da Cruz: o desejo busca sim a felicidade, "a vida em plenitude” manifestada por Jesus, mas ela não se encontra nos bens finitos ofertados pelo mercado. Como enfatizava o professor Milton Santos, acha-se nos bens infinitos.



Dez anos de avanços



No momento em que o PT completa uma década à frente do governo federal, a presidente Dilma Rousseff publica artigo na Folha, em que fala sobre as conquistas desse período, marcado, segundo ela, sobretudo pelos avanços no combate à desigualdade social. Leia abaixo: 
Dez anos de avanços
O desafio para os próximos anos é, simultaneamente, acabar com a miséria extrema e ampliar a competitividade da economia do nosso país
Os dez anos de governos liderados pelo Partido dos Trabalhadores marcam a incorporação de uma nova agenda para o Brasil.
O combate à desigualdade social passou a ser uma política de Estado, e não mais uma ação emergencial. Os governos do presidente Lula e o meu priorizaram a educação, a saúde e a habitação para todos, a retomada dos investimentos públicos em infraestrutura e a competitividade da economia.
Na última década, raros são os países que, como o Brasil, podem se orgulhar de oferecer um futuro melhor para os seus jovens. A crise financeira, iniciada em 2007, devastou milhões de empregos e esperanças no mundo desenvolvido.
No Brasil, ocorreu o contrário. Cerca de 40 milhões de pessoas foram incorporadas à chamada nova classe média, no maior movimento de ascensão social da história do país. A miséria extrema passou a ser combatida com uma ação sistemática de apoio às famílias mais pobres e com filhos jovens.
Através do programa Brasil Carinhoso, somente em 2012 retiramos da pobreza extrema 16,4 milhões de brasileiros. Entre 2003 e 2012, a renda média do brasileiro cresceu de forma constante e a desigualdade caiu ano a ano. Nesta década, foram criados, sem perda de direitos trabalhistas, 19,4 milhões de novos empregos, sendo 4 milhões apenas nos últimos dois anos.
Reconhecer os avanços dos últimos dez anos significa também reconhecer que eles foram construídos sobre uma base sólida. Desde o fim do regime de exceção, cada presidente enfrentou os desafios do seu tempo. Eles consolidaram o Estado democrático de Direito, o funcionamento independente das instituições e a estabilidade econômica.
Acredito que os futuros governos tratarão como conquistas de toda a população nossos programas de educação -como o Pronatec, de formação técnica, o ProUni e o Ciência Sem Fronteiras- e de eficiência do Estado -como os mecanismos de monitoramento de projetos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e a transparência na prestação de contas da Lei de Acesso à Informação.
O Brasil que emerge dos últimos dez anos é um país mais inclusivo e sólido economicamente. O objetivo do meu governo é aprofundar estas conquistas.
O desafio que se impõe para os próximos anos é, simultaneamente, acabar com a miséria extrema e ampliar a competitividade da nossa economia. O meu governo tem enfrentado estas duas questões. Temos um compromisso inadiável com a redução da desigualdade social, nossa mancha histórica.
Ao longo de 2012, lançamos planos de concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, que abrem as condições para um novo ciclo virtuoso de investimento produtivo. Reduzimos a carga tributária, ampliamos as desonerações na folha de pagamento e, em 2013, iremos baratear a tarifa de energia.
São medidas fundamentais para aumentar a competitividade das empresas brasileiras e gerar as condições de um crescimento sustentável.
Iremos aproveitar a exploração do pré-sal para concentrar recursos na educação, que gera oportunidades para os cidadãos e melhora a qualificação da nossa força de trabalho.
É a educação a base que irá nos transformar em um país socialmente menos injusto e economicamente mais desenvolvido. Um Brasil socialmente menos desigual, economicamente mais competitivo e mais educado. Um país que possa continuar se orgulhando de oferecer às novas gerações oportunidades de vida cada vez melhores. Um país melhor para todos.
Tenho certeza que estamos no rumo certo.

sábado, 29 de dezembro de 2012

O FIM DO MUNDO NÃO CHEGOU! FELIZ COMEÇO DO MUNDO - FELIZ ANO NOVO – 2013



Frei Carlos Mesters[1]

Do site do Frei Gilvander
Conforme o calendário Maia dos povos indígenas do México, dia 21 de dezembro de 2012 seria o fim do mundo. O dia 21 de dezembro chegou, mas o fim do mundo não chegou.
No ano 999 diziam: "O ano 1000 será o fim do mundo, conforme está escrito no capítulo vinte do Apocalipse!" O ano 1000 chegou, mas o fim do mundo não chegou. No ano 1999 diziam: "De 1000 passou, mas de 2000 não passará!" O ano 2000 chegou, mas o fim do mundo não chegou! Além destas previsões, houve várias outras previsões que não deram certo. E sem dúvida, no futuro, vamos ter outras previsões que não vão dar certo. De novo, muita gente vai ficar angustiada e depois vai ficar aliviada, porque o fim não chegou.

Por que será que, cada vez de novo, tem gente que insiste em dizer: O fim do mundo vai chegar? O problema não é de hoje. Já é velho. No tempo de Jesus, o povo já dizia: O fim do mundo vai chegar. Muita gente fazia cálculos a respeito do dia e da hora em que o fim deveria chegar. Alguns foram falar com Jesus, para saber a opinião dele. Jesus respondeu: "Quanto a esse dia e essa hora, ninguém sabe nada, nem os anjos do céu, nem o Filho. Somente o Pai é quem sabe!" (Marcos 13,32). Jesus reconhece que nem ele mesmo sabe algo a respeito do dia e da hora do fim do mundo. Só o Pai! Jesus é humilde. Confessa sua ignorância neste ponto. Ele não quer provocar angústia desnecessária no povo. O Pai, o Criador do mundo, é o único quem sabe o dia e a hora do fim do mundo. Se nada sabemos sobre ofim do mundo, o que sabemos sobre o começo do mundo?
O começo do mundo? Os estudos dos últimos 200 anos mostraram que a terra em que vivemos faz parte de um Universo que já tem em torno de treze bilhões de anos. Antes, pensávamos que a terra fosse o centro de tudo e que o sol, a lua e as estrelas fossem lâmpadas colocadas no firmamento. Pensávamos que o sol girasse em torno de terra. Pouco a pouco fomos descobrindo que não é o sol que gira em torno da terra, mas é a terra que gira em torno do sol. Os estudos descobriram ainda que o sol é uma estrela de segunda categoria da nossa galáxia, chamada Via Láctea, que tem bilhões de estrelas, algumas delas centenas de vezes maiores que o sol. No começo do século passado, usando telescópio, descobriram que existem bilhões de galáxias como a nossa, cada uma com milhões de estrelas. Descobriram que uma lenta evolução envolve todo o universo, gerando essa grande variedade de cria­turas que admiramos e contemplamos todos os dias. Tudo foi evoluindo aos poucos, muito lentamente, ao longo destes 13 bilhões de anos, até hoje. Assim foi e continua sendo o começo do mundo!
Tudo isto mostra a inacreditável beleza da criação de Deus. Mostra a grandeza de Deus, o Criador do mundo e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele criou o universo dando tempo ao tempo, para que pudessem surgir e aparecer tantas criaturas bonitas e variadas. Se Deus criou o começo do mundo com tanta sabedoria, deixemos a Ele a marcação do dia e da hora do fim do mundo. Está em boas mãos. Podemos dormir tranqüilos neste ponto.
Mas existe um ponto na questão do fim do mundo em que não podemos dormir tranqüilos. É que nós mesmos, por nossa culpa, estamos preparando o fim do nosso mundo! Como? Veja só! Somos nós que provocamos o efeito estufa e o aquecimento global, a poluição das águas e a destruição do meio ambiente, a emissão de gás carbono e a poluição do ar, o desmatamento e a desertificação da terra, o perigo atômico e as novas doenças, o acúmulo do lixo e a degradação do nível de vida, o degelo da calota polar e a elevação do nível do mar, o desaparecimento de muitas espécies de animais e a morte de muitas pessoas por falta de água potável, etc. etc...
Por nossa culpa, a Mãe Terra está cada vez mais doente. Alguns dizem que ela já está na UTI. Em vez da preocupação com o dia e a hora do fim do mundo que pertence ao Pai, é melhor cuidarmos da vida da nossa Mãe Terra, para que ela não morra antes do tempo. Neste ponto não podemos dormir tranqüilos. Cabe a nós evitar este trágico fim do mundo, não acha?
Unaí, MG, Brasil, 29 de dezembro de 2012.


[1] Frei e padre da Ordem dos Carmelitas, biblista do CEBI e da Teologia da Libertação. E-mail: mesters@ocarm.org oufreicarlos@pcse.org.br

Ipea: Brasil Carinhoso tem potencial de reduzir pobreza a nível 'residual'


São Paulo – O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicou hoje (26) estudo com afirmando que o Programa Brasil Carinhoso tem capacidade de reduzir a miséria no Brasil a níveis considerados "residuais". A diferença do programa, complementar ao Bolsa Família e lançado este ano por Dilma Rousseff, é que toma-se em conta a diferença entre a renda familiar por pessoa e a complementação necessária para que a família saia da extrema pobreza, atualmente definida em uma renda inferior a R$ 70 per capita.
De acordo com a nota técnica do Ipea, embora tenha sido eficiente no combate à pobreza (famílias com renda entre R$ 70 e R$ 140), o o Bolsa Família teve uma eficácia limitada na transferência de renda para as famílias em situação de pobreza extrema, com renda abaixo de R$ 70 per capita, por não considerar o vazio que havia entre a complementação de renda via Bolsa Família e o valor da renda que a família possuía. Por exemplo, um casal com cinco crianças (0 a 15 anos) e dois jovens (16 e 17 anos), que não tivesse qualquer renda, receberia do programa R$ 34 por pessoa – ou seja, continuaria vivendo abaixo da linha da miséria.
Com a criação do Brasil Carinhoso, a distribuição de renda se direciona ao combate à miséria infantil, que, em 2011, atingia 5,9% da população na faixa etária de 0 a 15 anos, que é uma taxa maior que a da população geral, de 3,4%, no mesmo ano. No mesmo exemplo acima, uma família com renda per capita de R$ 34 receberia mais R$ 36 por pessoa para atingir o patamar de R$ 70. Com isso se cumpriria a principal função de um programa de transferência de renda, que é a elevação da renda das famílias que recebem o benefício.
“As famílias que eram extremamente pobres e que tinham crianças de 0 a 5 anos, mesmo recebendo o benefício, continuavam extremamente pobres. Agora, o benefício deixa de ser pago em função da composição familiar e passa a ser pago em função do hiato de pobreza, ou seja, do quanto falta para a família deixar de ser extremamente pobre”, afirmou Rafael Guerreiro Osorio, diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, segundo nota publicada no site do instituto. 

Perspectiva animadora

O estudo também apresenta uma simulação de impactos do programa Brasil Carinhoso sobre a pobreza extrema que revela potenciais animadores. Utilizando dados anteriores à instalação do Bolsa Família, do ano inicial (2003) e sobre cada um de seus reajustes (2007 e 2011) e dados após a criação do Brasil Carinhoso, o estudo do Ipea indica que, se tivesse sido iniciado em 2011, o programa poderia ter levado a pobreza extrema à metade dos 3,4% verificados naquele ano. No caso de famílias com crianças de zero a 15 anos, poderia ter levado a pobreza extrema para menos de 1% da população.
Observando os dados de 2012, as pessoas em situação de pobreza extrema seriam reduzidas a 0,8% da população, e as crianças de zero a 15 anos neste situação seriam reduzidas a 0,6% do total. Para o presidente do Ipea, Marcelo Neri “a redução de pobreza em 2013 será muito maior com o Brasil Carinhoso, sem dúvida, do que seria sem o programa, ou se permanecêssemos com o desenho antigo do Bolsa Família”. “Em 10 anos, a mortalidade infantil caiu 10% no Brasil. Entre as crianças de 0 a 4 anos, houve redução de 21 pontos percentuais na pobreza de 2001 a 2011. Algo está acontecendo, e não é mais do mesmo. O jogo mudou”, conclui Neri.

Os padrões de manipulação na mídia brasileira



Os textos de Demétrio Magnoli, Ricardo Noblat, Merval Pereira, Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes, Eliane Catanhede, entre outros, são fontes preciosas para as futuras gerações de jornalistas e estudiosos da comunicação entenderem o que Perseu Abramo chamou apropriadamente de “padrões de manipulação” na mídia brasileira.
Por Jaime Amparo Alves | No Pragmatismo Político
Os brasileiros no exterior que acompanham o noticiário brasileiro pela internet têm a impressão de que o país nunca esteve tão mal. Explodem os casos de corrupção, a crise ronda a economia, a inflação está de volta, e o país vive imerso no caos moral. Isso é o que querem nos fazer crer as redações jornalísticas do eixo Rio – São Paulo. Com seus gatekeepers escolhidos a dedo, Folha de S. Paulo, Estadão, Veja e O Globo investem pesadamente no caos com duas intenções: inviabilizar o governo da presidenta Dilma Rousseff e destruir a imagem pública do ex-presidente Lula da Silva. Até aí nada novo.
Tanto Lula quanto Dilma sabem que a mídia não lhes dará trégua, embora não tenham – nem terão – a coragem de uma Cristina Kirchner de levar a cabo uma nova legislação que democratize os meios de comunicação e redistribua as verbas para o setor. Pelo contrário, a Polícia Federal segue perseguindo as rádios comunitárias e os conglomerados de mídia Globo/Veja celebram os recordes de cotas de publicidade governamentais. O PT sofre da síndrome de Estocolmo (aquela na qual o sequestrado se apaixona pelo sequestrador) e o exemplo mais emblemático disso é a posição de Marta Suplicy como colunista de um jornal cuja marca tem sido o linchamento e a inviabilização política das duas administrações petistas em São Paulo.
O que chama a atenção na nova onda conservadora é o time de intelectuais e artistas com uma retórica que amedronta. Que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso use a gramática sociológica para confundir os menos atentos já era de se esperar, como é o caso das análises de Demétrio Magnoli, especialista sênior da imprensa em todas as áreas do conhecimento. Nunca alguém assumiu com tanta maestria e com tanta desenvoltura papel tão medíocre quanto Magnoli: especialista em políticas públicas, cotas raciais, sindicalismo, movimentos sociais, comunicação, direitos humanos, política internacional… Demétrio Magnoli é o porta-voz maior do que a direita brasileira tem de pior, ainda que seus artigos não resistam a uma análise crítica.
Agora, a nova cruzada moral recebe, além dos já conhecidos defensores dos “valores civilizatórios”, nomes como Ferreira Gullar e João Ubaldo Ribeiro. A raiva com que escrevem poderia ser canalizada para causas bem mais nobres se ambos não se deixassem cativar pelo canto da sereia. Eles assumiram a construção midiática do escândalo, e do que chamam de degenerescência moral, com o fato. E, porque estão convencidos de que o país está em perigo, de que o ex-presidente Lula é a encarnação do mal, e de que o PT deve ser extinguido para que o país sobreviva, reproduzem a retórica dos conglomerados de mídia com uma ingenuidade inconcebível para quem tanto nos inspirou com sua imaginação literária.
Ferreira Gullar e João Ubaldo Ribeiro fazem parte agora daquela intelligentsia nacional que dá legitimidade científica a uma insidiosa prática jornalística que tem na Veja sua maior expressão. Para além das divergências ideológicas com o projeto político do PT – as quais eu também tenho -, o discurso político que emana dos colunistas dos jornalões paulistanos/cariocas impressiona pela brutalidade. Os mais sofisticados sugerem que a exemplo de Getúlio Vargas, o ex-presidente Lula cometa suicídio; os menos cínicos celebraram o “câncer” como a única forma de imobilizá-lo. Os leitores de tais jornais, claro, celebram seus argumentos com comentários irreproduzíveis aqui.
Quais os limites da retórica de ódio contra o ex-presidente metalúrgico? Seria o ódio contra o seu papel político, a sua condição nordestina, o lugar que ocupa no imaginário das elites? Como figuras públicas tão preparadas para a leitura social do mundo se juntam ao coro de um discurso tão cruel e tão covarde já fartamente reproduzido pelos colunistas de sempre? Se a morte biológica do inimigo político já é celebrada abertamente – e a morte simbólica ritualizada cotidianamente nos discursos desumanizadores – estaríamos inaugurando uma nova etapa no jornalismo lombrosiano?
Para além da nossa condenação aos crimes cometidos por dirigentes dos partidos políticos na era Lula, os textos de Demétrio Magnoli , Marco Antonio Villa, Ricardo Noblat , Merval Pereira, Dora Kramer, Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes, Eliane Catanhede, além dos que agora se somam a eles, são fontes preciosas para as futuras gerações de jornalistas e estudiosos da comunicação entenderem o que Perseu Abramo chamou apropriadamente de “padrões de manipulação” na mídia brasileira. Seus textos serão utilizados nas disciplinas de ontologia jornalística não apenas com o exemplos concretos da falência ética do jornalismo tal qual entendíamos até aqui, mas também como sintoma dos novos desafios para uma profissão cada vez mais dominada por uma economia da moralidade que confere legitimidade a práticas corporativas inquisitoriais vendidas como de interesse público.
O chamado “mensalão” tem recebido a projeção de uma bomba de Hiroshima não porque os barões da mídia e os seus gatekeepers estejam ultrajados em sua sensibilidade humana. Bobagem! Tamanha diligência não se viu em relação à série de assaltos à nação empreendidos no governo do presidente sociólogo! A verdade é que o “mensalão” surge como a oportunidade histórica para que se faça o que a oposição – que nas palavras de um dos colunistas da Veja “se recusa a fazer o seu papel” – não conseguiu até aqui: destruir a biografia do presidente metalúrgico, inviabilizar o governo da presidenta Dilma Rousseff e reconduzir o projeto da elite ‘sudestina’ ao Palácio do Planalto.
Minha esperança ingênua e utópica é que o Partido dos Trabalhadores aprenda a lição e leve adiante as propostas de refundação do país abandonadas com o acordo tácito para uma trégua da mídia. Não haverá trégua, ainda que a nova ministra da Cultura se sinta tentada a corroborar com o lobby da Folha de S. Paulo pela lei dos direitos autorais, ou que o governo Dilma continue derramando milhões de reais nos cofres das organizações Globo e Abril via publicidade oficial. Não é o PT, o Congresso Nacional ou o governo federal que estão nas mãos da mídia.
Somos todos reféns da meia dúzia de jornais que definem o que é notícia, as práticas de corrupção que merecem ser condenadas, e, incrivelmente, quais e como devem ser julgadas pela mais alta corte de Justiça do país. Na última sessão do julgamento da ação penal 470, por exemplo, um furioso ministro-relator exigia a distribuição antecipada do voto do ministro-revisor para agilizar o trabalho da imprensa (!). O STF se transformou na nova arena midiática onde o enredo jornalístico do espetáculo da punição exemplar vai sendo sancionado.
Depois de cinco anos morando fora do país, estou menos convencido por que diabos tenho um diploma de jornalismo em minhas mãos. Por outro lado, estou mais convencido de que estou melhor informado sobre o Brasil assistindo à imprensa internacional. Foi pelas agências de notícias internacionais que informei aos meus amigos no Brasil de que a política externa do ex-presidente metalúrgico se transformou em tema padrão na cobertura jornalística por aqui. Informei-lhes que o protagonismo político do Brasil na mediação de um acordo nuclear entre Irã e Turquia recebeu atenção muito mais generosa da mídia estadunidense, ainda que boicotado na mídia nacional. Informei-lhes que acompanhei daqui o presidente analfabeto receber o título de doutor honoris causa em instituições européias, e avisei-lhes que por causa da política soberana do governo do presidente metalúrgico, ser brasileiro no exterior passou a ter uma outra conotação. O Brasil finalmente recebeu um status de respeitabilidade e o presidente nordestino projetou para o mundo nossa estratégia de uma America Latina soberana.
Meus amigos no Brasil são privados do direito à informação e continuarão a ser porque nem o governo federal nem o Congresso Nacional estão dispostos a pagar o preço por uma “reforma” em área tão estratégica e tão fundamental para o exercício da cidadania. Com 70% de aprovação popular, e com os movimentos sociais nas ruas, Lula da Silva não teve coragem de enfrentar o monstro e agora paga caro por sua covardia.Terá a Dilma coragem com aprovação semelhante, ou nossa meia dúzia de Murdochs seguirão intocáveis sob o manto da liberdade de e(i)mprensa?

Jaime Amparo Alves é jornalista, doutor em Antropologia Social, Universidade do Texas em Austin –amparoalves@gmail.com

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

JN transforma 1,7 milhão de empregos em notícia ruim



por Fernando Branquinho, no Observatório da Imprensa 

Na quarta-feira (19/12), no Jornal Nacional, o gráfico atrás da apresentadora Patrícia Poeta mostrava a criação de 1,77 milhão de empregos até agora, em 2012. Considerada a pindaíba econômica do mundo ocidental, qualquer cidadão de outro país olharia com inveja para cá. Mas na Globo não é assim: toda notícia que venha do governo tem que ser “negativada”.

Foi o que fizeram. Este foi o texto lido pela apresentadora:

“A criação de empregos com carteira assinada, este ano, foi 23% menor do que em 2011. É o pior resultado desde 2009. Mas, isoladamente, os números de novembro mostram um aumento de quase 8% no emprego formal.”

Quem estivesse jantando nessa hora sem olhar para a TV não veria o gráfico e faria juízo sobre a informação apenas com o que estivesse ouvindo. Desta vez mudaram a técnica: deram a notícia positiva de forma negativa, e no fim veio o “mas” positivando parcialmente os fatos. Isso é democracia, liberdade de expressão e tudo o mais que eles dizem quando se quer acabar com o oligopólio da mídia? O nome disso é partidarismo de mídia através de manipulação da notícia.

Paranoia? Perseguição à Globo? Coisa de esquerdista, de petista, de lulista, brizolista? Confira aqui mais essa vergonha. Agora veja a notícia por outro ângulo: “Brasil cria 1,77 milhão de empregos com carteira assinada em 2012”.

Os dados do Caged

De janeiro a novembro deste ano, foram abertos 1.771.576 postos de trabalho com carteira assinada no Brasil, o que representa uma expansão de 4,67% no nível de emprego comparado com o final de 2011, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado na quarta-feira (19/12) pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

Os dados de novembro, segundo o MTE, mostram continuidade à tendência de crescimento do emprego no Brasil, que registrou pela terceira vez em 2012 um saldo superior ao do ano anterior. Foram declaradas 1.624.306 admissões e 1.578.211 desligamentos no referido mês. Como resultado, o saldo do mês foi de 46.095 novos empregos com carteira assinada no Brasil, correspondentes ao crescimento de 0,12% em relação ao registrado no mês anterior.

Segundo o Caged, apresentaram desempenho positivo no mês o comércio, com 109.617 postos (1,27%), sendo o terceiro melhor saldo para o período; e serviços, com 41.538 postos (0,26%). Por outro lado, alguns setores apresentaram desempenhos negativos. A construção civil teve baixa de 41.567 postos (-1,34%), decorrente de atividades relacionadas à construção de edifícios (-15.577 postos) e construção de rodovias e ferrovias (-8.803 postos), associados a términos de contratos e a condições climáticas.

Complexo sucroalcooleiro puxa emprego para baixo

Na agricultura, houve retração de 32.733 postos (-1,98%), devido à presença de fatores sazonais negativos. A indústria de transformação teve perda de 26.110 postos (-0,31%), proveniente dos ajustes da demanda das festas do fim do ano, queda menor que a ocorrida em novembro de 2011 (-54.306 postos ou -0,65%).

O emprego cresceu em três das cinco grandes regiões, sendo a Sul, com 29.562 postos (0,41%); Sudeste, com 17.946 vagas (0,08%), e Nordeste, com 17.067 empregos (0,28%). As exceções ficaram por conta da região Centro-Oeste (-14.820 postos ou -0,50%), cuja redução deu-se ao desempenho negativo da agricultura (-9.130 postos); da construção civil (-6.393 postos) e da indústria de transformação (-5.929 postos); e da região Norte (- 3.660 postos ou -0,21%), onde a construção civil (-3.371 postos) e a indústria e transformação (-2.084 postos) foram os principais setores responsáveis pela queda no mês.

Por unidade da federação, dezesseis tiveram expansão do emprego. Os destaques foram Rio Grande do Sul (+15.759 postos ou 0,61%); Rio de Janeiro (+13.233 postos ou 0,36%); Santa Catarina: (+8.046 postos ou 0,42%); São Paulo (+7.203 postos ou 0,06%); Paraná (+5.757 postos ou 0,22%) e Bahia (+5.695 postos ou 0,34%). Os estados que demonstraram as maiores quedas no nível de emprego foram: Goiás (-8.649 postos ou -0,75%), devido, principalmente, às atividades relacionadas ao complexo sucroalcooleiro, e Mato Grosso (-5.910 postos ou -0,97%), por causa do desempenho negativo do setor agrícola (-4.798 postos)[ver aqui].

Fernando Branquinho é jornalista, Brasília, DF.

Em defesa de Lula e seu legado


Jorge  Viana
J
Jorge Vianna
Em 1º de janeiro de 2013, o PT completa dez anos no governo federal. Em uma década, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudou o Brasil e a vida do nosso povo. Para melhor. Deixaram a pobreza mais de 40 milhões de brasileiros. A classe C saltou de 26,7% da população para 50%. A dívida externa caiu de US$ 165 bilhões para US$ 79,1 bilhões. A economia se expandiu e o bem-estar das pessoas virou conquista de todos.
O reconhecimento não é apenas de nós, petistas. Mas da imensa maioria da população brasileira, incluindo de governantes de várias nações, mundo afora. O PT conquistou a Presidência com Lula, o povo o reelegeu quatro anos depois e Dilma Rousseff continua seu legado depois de ganhar o Palácio do Planalto em 2010. O Brasil tem hoje respeito e uma nova dimensão política na arena internacional. Hoje, o país disputa o mundo.
Em outubro de 2002, Lula era eleito presidente da República. Num momento raro da política brasileira, um homem do povo chegava ao posto máximo da Nação. Um nordestino, vindo de Garanhuns, em Pernambuco, que saiu da miséria e da condição de retirante, quebrava um tabu e era eleito pela maioria do povo para comandar os destinos da Nação.
Um homem de origem popular, que encarou a ditadura e foi preso, fundou um partido para alcançar, em pouco mais de 30 anos, a Presidência com quase 53 milhões de votos. É um dos maiores líderes políticos dos nossos tempos.
Nesses dez anos, Lula mostrou-se o democrata que nasceu com a marca do nosso povo. Governou para todos. No melhor da tradição da esquerda brasileira, colocou a maioria como centro das políticas públicas de seu governo. Incomodou a muitos. É que, mesmo tendo governado para todos, parte da elite brasileira não tolera Lula e o PT.
Ao longo de seu governo, Lula passou por uma das mais sórdidas campanhas políticas movidas pelo ressentimento. Foi vítima de xingamentos pessoais e agressões verborrágicas dignas apenas de Carlos Lacerda. Assim como Getúlio Vargas e Juscelino Kubistschek, Lula é alvo permanente dos conservadores. 
Nos oito anos que esteve à frente da Presidência, ele foi chamado dos piores nomes. Ainda assim, não o derrotaram. Apesar das tentativas de desmoralizá-lo, o povo o apoia e reconhece nele os traços do líder em quem o país confia. Lula deixou a Presidência em 2010 com mais de 80% de popularidade. Um dos homens mais respeitados do mundo. O presidente Barack Obama chegou a tratá-lo de “o cara”.
A guerra sem fim continua mesmo agora. Essa elite conservadora e ambiciosa não aceita que o presidente Lula seja um ótimo ex-presidente. Continua a atacá-lo mesmo ele fora do Palácio do Planalto. Sem provas, publicam-se mentiras. Sem honra, recorre-se a condenados. Acusações são lançadas com o mero pretexto de desconstruir Lula. Não adianta. Por mais que tentem, não conseguirão destruir sua imagem.
Como mostra a última pesquisa Datafolha, o reconhecimento ao nosso projeto político pela população coloca Lula com 56% da preferência do eleitorado, se a eleição para presidente da República fosse hoje. Em outro cenário em que o PT tem Dilma Rousseff como candidata, a preferência popular permanece. Ela lidera a disputa entre 53% e 57%, dependendo de quem são os outros candidatos.
Com Dilma ou Lula, o PT conquistaria a Presidência hoje no primeiro turno das eleições. A fragilidade da oposição é tamanha que o segundo lugar nessa corrida pelo Planalto é ocupado pela ex-senadora Marina Silva, que teria 18% dos votos. 
A oposição está há dez anos fora do poder. Pelo que revelam essas pesquisas de opinião pública, provavelmente permanecerá longe do governo central na próxima eleição. Por isso mesmo, o PT e o governo precisam estar vigilantes para manter os rumos das políticas econômicas e sociais, sem distanciar-se dos princípios que nos levaram ao poder. É preciso continuar governando para todos.
No Acre, o PT está no governo há 14 anos. Ao longo desse tempo, vimos repactuando compromissos históricos, renovando quadros e garantindo a aplicação de políticas públicas destinadas à maioria do povo. Há quem lembre o ditado de que o tempo é um aliado poderoso para transformar a realidade. Mas é preciso lembrar também que o tempo impõe inovação e renovação.  Este é o desafio que o PT e nosso governo têm pela frente.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Por que metade dos brasileiros não confia no STF?


Ex-diretor da Abril Paulo Nogueira dá sua visão sobre o assunto em artigo: "perdemos mais que lucramos" ao descobrir verdadeiramente o que é, nesse ano que passou, o Supremo Tribunal Federal. Jornalista diz que pesquisa do Ibope não surpreende e que "o Supremo é um embaraço para o Brasil"


247 - Em artigo publicado no blog Diário do Centro do Mundo, o ex-diretor da Abril Paulo Nogueira responde por que metade dos brasileiros não confia no Supremo Tribunal Federal.Levantamento do Ibope divulgado na segunda-feira 24 conclui que a população confia mais na corte do que no Congresso Nacional. No entanto, o tribunal tem confiança de 54% da população, ou seja, pouco mais da metade do País.

Para o jornalista, o resultado da pesquisa não surpreende. Podia ser diferente?, questiona. Segundo ele, "perdemos mais que lucramos" ao descobrir verdadeiramente o que é, nesse ano que passou, o STF, que ganhou holofotes ao ter transmitido ao vivo, pela TV Justiça, o julgamento do chamado 'mensalão'. A conclusão de Paulo Nogueira é que "o Supremo é um embaraço para o Brasil".
Leia abaixo seu artigo:
Por que metade dos brasileiros não confia no STF

O julgamento do Mensalão colocou o Supremo nos holofotes. E o que vimos foi desanimador
Os brasileiros tiveram um curso intensivo de Supremo em 2012.
Seus integrantes foram alçados a um estrelato inédito pela cobertura dada ao julgamento do Mensalão. Fomos bombardeados com informações sobre o STF, e tivemos que aprender coisas como "teoria do domínio do fato" e "dosimetria".
Éramos, até 2012, especialistas em futebol e em economia. Passamos a dominar também o direito: há, em cada um de nós, um juiz.
Perdemos mais que lucramos, no terreno das esperanças, ao descobrir o que é, verdadeiramente, o Supremo. Se já não tínhamos, justificadamente, confiança nos políticos, passamos também a desconfiar dos nossos máximos magistrados.
Não surpreende uma pesquisa recém-saída do Ibope que apontou que metade dos brasileiros não confia no Supremo.
Podia ser diferente?
Não vou entrar no mérito das decisões no julgamento. Fico no terreno das informações objetivas.
Soubemos que Joaquim Barbosa foi escolhido por Lula por ser negro. Soubemos também que ele se insinuou a Frei Betto, num encontro casual em Brasília, para fazer lobby por si mesmo. Descobrimos que é sempre assim, aliás. Os juízes rastejam pelo cargo. Imagino que os melhores entre eles – pelo menos do ponto de vista moral – recusem manobras subterrâneas em que há muito mais de baixa política do que de alto conhecimento.
E então sobram os que ficaram expostos aos brasileiros em 2012.
Luiz Fux, ainda mais que JB, é o símbolo maior disso. Num acesso confessional difícil de entender à luz da razão, uma vez que ele se autodesmoralizou pela eternidade, Fux contou a uma jornalista da Folha sua peregrinação pelo cargo. Não omitiu sequer o detalhe patético do choro ao receber a boa notícia.
Reconheceu que procurou José Dirceu mesmo sabendo que teria que julgá-lo, num conflito de interesse sinistro. Um candidato ao Supremo batendo súplice à porta do mensaleiro-mor, que ele logo definiria como "chefe de quadrilha"? Todas as acusações contra Dirceu já eram de amplo conhecimento público. Mesmo assim, Fux foi atrás dele.
Agora, o ministro Gilberto de Carvalho acrescenta mais um dado à biografia não exatamente inspiradora de Fux. Carvalho disse na tevê ao jornalista Kennedy Alencar que, em sua campanha pela vaga, Fux garantiu que absolveria os acusados por não haver provas. Segundo Carvalho, Fux afirmou que estudara bem o caso.
Se sua indicação derivou disso, não é, evidentemente, um momento glorioso para a administração que o nomeou. Seria aquele caso clássico que Tancredo Neves definia como uma esperteza tão grande que come o esperto.
Mas é ainda pior para Fux.
O perfil de personalidade que emerge das informações sobre ele mostram um caráter frágil, titubeante, vaidoso, um homem cuja ambição leva a atos que, à luz do sol, provocariam engulhos.
O Supremo é um embaraço para o Brasil. Não dá para fugir desse veredito doído, ainda que você concorde com as punições e considere que o PT pagou o justo preço por ter feito coisas que não deveria, já que uma de suas bandeiras era elevar a ética na política.
Como transformar o STF numa instituição respeitável, e acreditada pelos brasileiros, é uma das tarefas mais espinhosas para o futuro do país. Para citar a grande frase de Wellington, quem acredita que esse trabalho será feito por homens como JB e Fux acredita em tudo.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Política do salário mínimo explica ciclo de poder do PT



Anúncio do novo valor para o salário-base (R$ 678), feito nesta segunda-feira (24/12) pela presidente Dilma, consolida uma consistente elevação do ganho real a partir do governo Lula. Os números são incontestáveis e independem de julgamentos políticos. A questão para a oposição é: como criticar a presidente e garantir, ao mesmo tempo, a continuidade desse movimento do salário?

Heberth Xavier_247 - O anúncio do novo valor do salário mínimo, feito hoje pela presidente Dilma Rousseff, revela um dado incontestável pelos números: a escalada ascendente do poder de compra no país a partir de um de seus maiores preços, o salário básico. Politicamente, consolida uma vantagem para o PT e aliados que traz e trará dor de cabeça extra à oposição. Como criticar a presidente sem que isso aparente, ao eleitor, um passo atrás no mínimo?

A média de aumentos no salário base no governo de Fernando Henrique Cardoso, com efeito, foi de R$ 17,50 ao ano. Lula mais do que dobrou esse número em seus oito anos no Palácio do Planalto (R$ 38,57 anualmente, na média). Com Dilma, nova expansão na média (R$ 56). Em dólares, o quadro fica ainda mais favorável aos petistas, uma vez que, a partir de 1999, a desvalorização do real jogou para baixo o valor relativo do mínimo (veja o gráfico acima). Em dólares, por exemplo, o mínimo começa 2013 valendo US$ 322,85. Lembrando que ele começou 2003, primeiro ano de Lula, em US$ 77 -- depois de atingir um pico de US$ 120 em 1998, sob FHC -- e praticamente não parou de elevar-se desde então.

São números incontestáveis. Com FHC, houve retrocesso. Com Lula, transferência de renda. A partir daí, claro, podem-se fazer julgamentos políticos. Um deles é que os últimos anos foram beneficiados por um mundo melhor na economia, ao contrário do período dos tucanos no poder, com crises frequentes em todos os continentes. Mas esse argumento esbarra na situação mundial desde 2008, com a crise americana.

Pode-se dizer que Lula seguiu as linhas básicas do governo de FHC e, assim, pegou a “casa arrumada”. Pode ser ou pode não ser, dependendo da opinião de cada um. O problema, para a oposição, é que o eleitor costuma ser menos sutil em suas análises -- e isso no Brasil ou qualquer lugar do mundo. Mensalão, corrupção, caso Rosemary? Ok, mas é difícil convencer o eleitor que passou a ganhar mais -- e comprar mais -- que a hora é de mudança.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Tio Patinhas do Paraná omite sua Fortuna


Senador tucano Álvaro Dias acumulou e escondeu um patrimônio milionário, agindo como o personagem das histórias em quadrinhos; valor decorrente da suposta venda de uma fazenda não foi declarado à Justiça Eleitoral; eram mais de R$ 6 milhões e com esses recursos ele construiu cinco mansões em Brasília, avaliadas em R$ 16 milhões; hoje, é este o valor demandado pela filha que ele não quis reconhecer


247 - Tio Patinhas, o personagem das histórias em quadrinhos criado por Walt Disney, era milionário, mas detestava ostentar sinais exteriores de riqueza. Pegava mal. Por isso mesmo, todas as suas moedinhas eram escondidas nos cofres de suas residências. Álvaro Dias, líder do PSDB no Senado, é também uma espécie de Tio Patinhas do parlamento brasileiro. Sua fortuna, questionável para alguém que vive há décadas da atividade política, vem sendo escondida há muito tempo.


O motivo para a omissão remonta à campanha eleitoral de 1994, quando Dias concorreu ao governo do Paraná e foi derrotado por Jaime Lerner. Naquele ano, o último programa eleitoral foi tomado pela denúncia de que Dias não pagava pensão à filha decorrente do relacionamento com Mônica Magdalena Alves – um tiro mortal em sua candidatura.
Dias perdeu aquela eleição, mas, em 2006, elegeu-se para o Senado, declarando à Justiça eleitoral possuir um patrimônio de R$ 1,9 milhão. Era mentira. Em 2009, a revista Época, da editora Globo, descobriu que Dias possuía, desde 2002, aplicações financeiras de R$ 6 milhões, supostamente decorrentes da venda de uma fazenda no Paraná. Confira abaixo:
Omissão milionária

O senador Álvaro Dias, um dos que mais cobram transparência, não declarou R$ 6 milhões à Justiça

MATHEUS LEITÃO

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) é um dos que mais usam o palanque para exigir transparência do governo e de seus adversários. Mas, quando o assunto são suas próprias contas, ele não demonstra ter os cuidados que tanto cobra. Em 2006, Dias informou à Justiça Eleitoral que tinha um patrimônio de R$ 1,9 milhão dividido em 15 imóveis: apartamentos, fazendas e lotes em Brasília e no Paraná. O patrimônio de Dias, no entanto, era pelo menos quatro vezes maior. Ele tinha outros R$ 6 milhões em aplicações financeiras.

O saldo das contas não declaradas de Álvaro Dias foi mostrado a ÉPOCA pelo próprio senador, inadvertidamente, quando a revista perguntou sobre quatro bens em nome da empresa ADTrade, de sua propriedade, que não apareciam em sua declaração à Justiça Eleitoral. Para explicar, ele abriu seu sigilo fiscal. Ali, constavam os valores das aplicações.
A omissão desses dados à Justiça Eleitoral é questionável, mas não pode ser considerada ilegal. A lei determina apenas que o candidato declare “bens”. Na interpretação conveniente, a lei não exige que o candidato declare “direitos”, como contas bancárias e aplicações em fundos de investimento.

No Congresso, vários parlamentares listam suas contas e aplicações aos tribunais eleitorais, inclusive o irmão de Álvaro, o também senador Osmar Dias (PDT-PR). Osmar declarou mais de R$ 500 mil em aplicações e poupanças. Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) listou quase R$ 150 mil depositados. Francisco Dornelles (PP-RJ) informou R$ 1,5 milhão em fundos de investimento. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-MA), atual alvo de uma série de denúncias, declarou quase R$ 3 milhões da mesma forma. Há poucos dias, Sarney foi denunciado por não ter informado à Justiça Eleitoral a respeito da casa que mora em Brasília.

Na interpretação de dois dos maiores especialistas de Direito eleitoral, Fernando Neves e Eduardo Alckmin, o espírito da lei é de transparência: “É conveniente que o político declare contas bancárias e aplicações financeiras para que o eleitor possa comparar o patrimônio no início e no fim do mandato”, diz Neves. “Não há irregularidade, mas é importante para evitar confusões no caso de um acréscimo patrimonial durante o mandato”, afirma Alckmin.

Álvaro Dias diz que o dinheiro não consta em sua declaração porque queria se preservar. “Não houve má intenção”, afirma. Em conversas reservadas, ele tem dito que o objetivo da omissão era manter a segurança de familiares.

O dinheiro não declarado de Álvaro Dias, segundo ele, é fruto da venda de uma fazenda de 36 hectares em Maringá, Paraná, por R$ 5,3 milhões. As terras, presente de seu pai, foram vendidas em 2002. O dinheiro rendeu em aplicações, até que, em 2007, Álvaro Dias comprou um terreno no Setor de Mansões Dom Bosco, em Brasília, uma das áreas mais valorizadas da capital. No local, estão sendo construídas cinco casas, cada uma avaliada em cerca de R$ 3 milhões.

Quando as casas forem vendidas, o patrimônio de Álvaro Dias crescerá ainda mais. Nada ilegal. Mas, a bem da transparência, não custa declarar. 

Naquela reportagem, Álvaro Dias dizia que não houve "má intenção" na sua omissão. E antecipou até seus futuros investimentos. Disse que construiria cinco casas no Setor de Mansões Dom Bosco, uma área nobre do Distrito Federal. Hoje, estas cinco casas valem R$ 16 milhões. Foram vendidas e a sua filha não reconhecida reivindica seu quinhão na transação. O líder tucano, por sua vez, afirma ser vítima de "chantagem".