Flagrante de emissão de poeira da mina da Kinross |
Na última quarta-feira, os moradores dos bairros próximos à mina da Kinross apresentaram um pauta de propostas à empresa, que continua sem demonstrar interesse na solução de problemas que afetam a saúde e a qualidade de vida da população.
Na pauta divulgada, a Central de Associações afirma que as famílias que mais sofrem com a poluição da mina, vivem uma situação parecida com o ditado popular: "se correr o bicho pega, se ficar o bicho come".
A Central de Associações reafirmou ainda que está organizando uma grande manifestação para protestar contra este descaso, bloqueando a BR-040 com uma marcha até a porta da empresa.
Veja abaixo a íntegra da pauta de propostas:
PAUTA DA CENTRAL DE ASSOCIAÇÕES e DO MOVIMENTO POPULAR PARA MINIMIZAR OS EFEITOS DA EXPLORAÇÃO MINERAL NA ÁREA URBANA.
A partir do início da fase moderna da exploração mineral do ouro em Paracatu, iniciada pela RTZ, depois RPM e agora KINROSS, a população circunvizinha da mina vem sofrendo muito. No início, por ser uma exploração menor e mais distante da área urbana, não se sentia tanto os efeitos e transtornos com vibrações, ruídos e poeiras. Porém, com a aproximação da lavra rumo à área habitada e o aumento dos volumes explorados com as constantes expansões, nos últimos dez anos a situação ficou insustentável.
Hoje vemos um volume de interferência no meio ambiente, com levantamento de poeira, vibrações e ruídos constantes que está afetando irremediavelmente a qualidade de vida da população. Nos bairros periféricos, muitas casas ficaram trincadas devido às vibrações, a quantidade de poeira levantada atrapalha até mesmo as famílias na hora de alimentar, sem contar as roupas que sujam ao secar nos varais e ainda o ruído constante de máquinas trabalhando, quando principalmente à noite, não deixam as pessoas dormirem. Para muitos moradores destes locais, que já mostram situações psicóticas de verdadeiro desespero, estão morando no limiar do inferno.
Existem vários casos de famílias que necessitam deslocar seus filhos para dormirem em casas de parentes e amigos em outros bairros, saindo com eles deste ambiente tão hostil, onde já não conseguem respirar normalmente devido à incidência de doenças respiratórias.
Outros pretendem sair deste desespero, mas não tem condições de comprar imóvel em outro local e não conseguem vender o seu imóvel pois ninguém quer esta situação nem de graça. Assim, estamos vendo a verdadeira situação do ditado popular: “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come". São pessoas pobres, trabalhadoras vendo o único patrimônio que possuem virando pó. Ao contrário de melhorar o local e valorizar, temos a situação de ver o local ficar amaldiçoado e desvalorizado. Com o ruído constante de máquinas à noite, por noites seguidas, alguns pais de família já dão mostra de problemas psíquicos devido à falta do sono reparador.
Frente a tudo isso, a população dos bairros, Alto da Colina, Amoreiras II, Bela Vista II, Santo Eduardo e Esplanada, tem reunido com suas representações em associações e com a Central das Associações para discutir a situação e propor formas de luta e exigências de soluções. Acreditamos que estas soluções devem vir tanto da Prefeitura, que está omissa, quanto da própria empresa, que está fazendo ouvidos de mercador. O povo fala e reclama mas parece que os problemas não são com eles.
Nos últimos dias, com a sinalização da empresa de que está estudando uma proposta de solução para os problemas, resolvemos adiar uma grande manifestação para mostrar aos olhos do mundo os absurdos que estão acontecendo na nossa cidade, com a paralisação da BR 040 e marcha até a porta da empresa. Resolvemos esperar as sinalizações positivas, mas já vemos que estamos sendo enrolados mais uma vez. Daí, perguntamos se esta empresa tem responsabilidade social?.. Se não vêem que estão criando um passivo que pode ficar tão insuportável que poderão inviabilizar seu próprio negócio?...
Para tentar resolver minimamente os problemas a população destes bairros propõem:
1 – Que a empresa compre as propriedades dos moradores dos Bairros mais afetados, em um plano de desocupação continuada, se comprometendo com a retirada de um número de famílias quanto necessário para dar fim aos problemas num horizonte de 10 anos.
2 – Paulatinamente e ao mesmo tempo fazer destas áreas desocupadas uma cortina verde com plantio de espécies vegetais de crescimento rápido.
3 – Indenizar o Município pelas redes de água, esgoto, energia, pavimentação e órgãos públicos existentes nestes locais.
4 -Que a empresa crie formas de exploração que minimizem a difusão de poeiras próximas aos referidos bairros, com aplicação de produtos específicos em taludes.
5 – Que estude um plano de lavra que minimize os trabalhos à noite nas proximidades dos bairros enquanto a população destes não for deslocada.
6 – Que as compras dos imóveis se façam pelo valor médio dos imóveis do município, uma vez que a população do entorno da mina, foi prejudicada e precisa de valores necessários para comprar outro imóvel em local diferente para morar dignamente.
7 – Que as negociações dos imóveis sejam verificadas por uma comissão de representantes de moradores e Prefeitura que farão aferições dos valores avaliados.
8 – Que se efetive em Lei a contribuição anual da empresa para o Fundo de Desenvolvimento Sustentável, sugerido pelo Plano Paracatu 2030, em um montante generoso, a ser definido pela sociedade organizada, empresa e poder público.
Paracatu, 14 de setembro de 2011
Mauro Mundim-Presidente da Central de Associações
É isso aí Zé Geraldo,
ResponderExcluirVemos que o povo está lutando e colocando as exigências acertadas para a empresa cumprir. Podemos notar uma premissa interessante nas argumentações que é o questionamento se a empresa tem responsabilidade social. Podemos e devemos questionar as certificações que ela tem nessa área pois ela está literalmente sufocando a população vizinha. Imaginem se no exame epidemiológico que está sendo realizado for constatado que existe contaminação por arsênio na população?!... Apropriadamente a Central de Associações infere que, da maneira que as coisas estão caminhando, a empresa poderá estar cavando o buraco do seu negócio, ou seja, não tem sustentabilidade socio-ambiental. Lá na frente pode ser que tudo o que tenha ganhado terá que ser pago em idenizações para cobrir a sua falta de visão de futuro.