segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Pais engajados são modelo para filhos serem politicamente ativos

Modelo participativo dos pais tem papel decisivo na formação da consciência política dos jovens e faz diferença no comportamento da nova geração que se envolve em causas sociais

Bertha Maakaroun

Ser ou não ser um adulto que participa da política, para além do ato de votar? Filhos de pais que se envolvem em causas de interesse público, buscam e se expõem mais às informações sobre o assunto, tendem a ser politicamente mais ativos do que crianças de famílias que não cultivam o hábito de acompanhar e se engajar na política . A constatação é demonstrada estatisticamente pelo cientista político e pesquisador da UFMG Mário Fuks, ao trabalhar com dados inéditos junto a um universo de estudantes belo-horizontinos, a partir de pesquisa realizada entre jovens do ensino médio da capital, que participaram do projeto Parlamento Jovem, desenvolvido pela PUC Minas em parceria com a Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

Filhos aprendem e repetem o modelo familiar participativo. Por isso, pais politicamente ativos de fato fazem a diferença sobre o comportamento da nova geração. A consciência política da família de Monica Corrêa Batista, professora universitária, 49 anos, foi fundamental não só para que ela se tornasse uma ativista de causas de interesse público, como também os seus filhos, o ator Gustavo Bonis, de 26, e João Lucas, estudante, de 13. “Em casa, a discussão política sempre deu o tom de minha infância e juventude”, afirma ela, em referência ao pai sindicalista e à mãe, professora primária, além de sua militância estudantil e dos irmãos durante a luta pela reabertura democrática nos anos 1970.

“O contexto familiar é um lugar muito forte do ponto de vista do aprendizado”, considera Monica. Ao mesmo tempo em que o filho João Lucas já se envolve em causas que interferem no cotidiano dos jovens da cidade – como a frequência à “praia da Estação” –; ele já se engajou em várias manifestações, como a do passe livre para os estudantes.

Também para Marcel Dornas Beghini, de 19, estudante universitário, os pais tiveram papel decisivo em seu despertar para a política. Ele encontrou em casa um ambiente fértil para o debate. “Meus pais não são partidários, mas têm opinião formada sobre vários temas e sempre assistimos ao noticiário juntos e discutimos os temas”, conta. A prática não apenas ajudou-o a se familiarizar com os atores e as questões salientes do debate, como também, aos poucos, propiciou-lhe o acúmulo de informações que facilitaram a compreensão do contexto em que atuam partidos políticos e candidatos. Ou seja, Marcel adquiriu o senso do que Mário Fuks chama de eficácia política subjetiva: a confiança de que é capaz de compreender e interpretar os fatos e o mundo da política.

Atributos individuais também contam

Se ter pais politicamente ativos e ser religioso são fatores que têm impacto positivo e direto sobre a formação de filhos participativos das várias dimensões da política, há atributos individuais do jovem que caminham ao lado da militância. O interesse pela política, que leva à maior exposição à informação, e esta a um senso de eficácia política subjetiva, ou seja, o sentimento de ser capaz de entender, processar e contextualizar os fatos relativos ao mundo da política são os principais deles, segundo Mário Fuks.

Obviamente, o interesse pela política e a maior busca por informações que dele deriva resultam em acúmulo de conhecimento e aprendizado, ambos facilitados pela alta escolaridade dos pais. “Se, além de pais escolarizados e que fomentam um ambiente politicamente estimulante na família e nos seus círculos mais próximos, o jovem frequentar boas escolas, mais bem servidas pelos recursos que permitem o acesso à informação e que estimulam o interesse por política, ele tem a seu favor todas as condições sociais que distinguem o seleto grupo da população considerado politicamente sofisticado”, explica Fuks.

Ao mesmo tempo que esses atributos individuais auxiliam a participação, o ambiente escolar, à medida que provê recursos, oportunidades e acesso à informações de qualidade, explica diferentes tipos de participação política. Os alunos de escolas particulares consideradas de elite, com mensalidade mais caras, se envolvem mais em mobilizações políticas do tipo não eleitorais, destinadas a influenciar o poder e as ações governamentais, do que alunos das escolas públicas. São ações do tipo manifestações públicas e abaixo-assinados que miram causas específicas.

“Não é a escola em si que gera alunos mais politicamente participativos. O que temos é um efeito indireto”, explica Mário Fuks, referindo-se ao fato de que as escolas chamadas “de elite “oferecem uma melhor estrutura de acesso à informação, à internet, além de melhores bibliotecas. “Esses alunos têm acesso a mais informação, o que faz a diferença para a participação política”, afirma. Esses alunos se sentem politicamente eficazes à medida que têm mais facilidade para processar, compreender e interpretar a informação sobre a política. “Os jovens de escolas públicas – não consideradas aí as escolas militares – têm menos chances de se perceberem capazes de entender o que acontece na política do que os alunos das demais escolas”, diz o pesquisador. E acrescenta: “Quanto mais elitizada a escola, maiores são as chances de seus alunos, em relação ao que estudam em escola pública, se sentirem politicamente eficazes”.

Se as escolas de elite oferecem uma estrutura ao aluno que leva a cidadãos mais engajados em ações políticas não eleitorais, nas escolas públicasos alunos tendem a ter maior participação política voluntária em associações civis, associações de bairro, sindicatos.

A força do senso coletivo

Além da participação política dos pais, a condição de ser religioso parece explicar a decisão de muitos jovens se envolverem com a política não eleitoral, particularmente por meio de associações civis e organizações não governamentais que promovem ações sociais, indica a pesquisa de Mário Fuks. É assim que Flávia Pires, de 22, estudante de direito, cristã protestante, está vinculada à União Nacional de Estudantes Cristãos, que atua em quatro áreas: social, política, artes e esportes.

Flávia desenvolve um trabalho de conscientização política, abordando temas como a ética e a cidadania, com jovens alunos da rede pública. Sem filiação partidária, há um sentido também religioso em sua atuação política. “Sempre quis ajudar o Brasil a se desenvolver, ajudando as pessoas a conhecer mais a política”, diz ela. “Despertar o interesse nas pessoas para a política, para que percebam como ela pode gerar transformações, é uma tarefa cidadã, mas também cristã”, afirma Flávia.

Com apurado senso de responsabilidade social, o advogado Joviano Gabriel Maia Mayer, de 26, militante das brigadas populares, centra a atuação política nas periferias de Belo Horizonte e região metropolitana. Sem filiação partidária, Joviano luta pelo que chama de “reforma urbana”: a luta contra a segregação socioespacial. “Combatemos a expulsão dos pobres para as áreas periféricas, garantindo-lhes o direito à cidade e o acesso à educação, à saúde e à moradia dentro desse espaço urbano”, afirma.

Também Érica Coelho, de 25 anos, estudante de ciências sociais, é ativista política. Abraça as causas que lhe parecem adequadas à mudança da cultura política em direção ao socialismo e à formação de indivíduos mais conscientes e participativos. “Há outras formas de participação política que não apenas a partidária. Sou ativista em defesa de causas socialmente justas”, considera ela.


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