A foto ao lado, que ilustra o livro “A vida quer coragem”, de Ricardo Amaral, a ser lançado nos próximos dias, foi publicada pela revista Época, uma biografia de Dilma Rousseff. Não conheço o livro, para que dele possa falar.
Mas a foto, como tantas vezes acontece, diz em silêncio tantas coisas que, escritas, obrigariam a longos raciocínios.
As mãos que encobrem o rosto dos oficiais que se sentavam no tribunal militar que julgaria e condenaria a “subversiva” tinham todo o poder, todo o mando, mas tampavam suas faces.
Não, não era medo de ataques da guerrilha, porque seus nomes eram sabidos e pouco ou nada lhes adiantaria esta “máscara” manual.
Era, talvez, o gesto inconsciente da vergonha que o olhar e a expressão altiva de uma moça de pouco mais de 20 anos tinha ao enfrentar aquele abuso, mesmo depois de dias e dias de tortura e maus-tratos.
A foto deveria ser o inverso, os olhares reprovadores e duros dos juízes, o rosto enterrado entre as mãos do desespero de quem agiu como sua consciência mandava e que, agora, tinha de enfrentar o cárcere na fase mais luminosa da vida.
Mas a história tem seus caprichos e ironias, mesmo demorados e dolorosos.
Aqueles rostos escondidos perderam-se no tempo. As mãos que os encobrem também os expõem, às suas consciências, hoje.
Foram cúmplices daquele período que não pode mostrar o rosto, como eles.
O que é preciso tirar, sim, são os capuzes dos que humilharam, torturaram, abusaram e mataram centenas de jovens como a da foto e outros, nem tão jovens, como Rubens Paiva.
É para isso, para lhes tirar os capuzes e deixar que, como todos, tenham de enfrentar o julgamento público pelo que fizeram.
Os nossos juízes, civis, que recusam o óbvio e negam o compromisso do Brasil ante o mundo de considerar tortura e assassinato político imprescritíveis, muito mais razões têm que aqueles oficiais para encobrirem seus rostos.
Porque condenam não uma pessoa, mas o direito desta Nação de nunca mais haver capuzes para acobertar a violência e a brutalidade neste país.
do Blog Tijolaço - Brizola Neto
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