Jornalista e escritor. Mestre em Comunicação pela UNB, tem livros sobre mídia, direitos humanos e ética publicados no Brasil, Argentina, Espanha, México
Nunca houve um ano tão –vamos dizer– dramático para a imprensa mundial como este que tem as horas contadas. Janeiro de 2011 viu o poderio das mídias sociais a serviço da liberdade e dando um basta à opressão e às diversas formas de tirania em países como o Egito, a Tunísia, a Líbia, o Iêmen. E continuam balançando os que exercem o poder fundado unicamente na força dos tanques, como os da Síria e os da Jordânia.
Manifestações políticas –e quase sempre pacíficas– foram convocadas através do uso do Twitter em larga escala e dos torpedos disparados de celulares como os smartphones produzidos pela Blackberry, Apple e Motorola. As imagens foram instantaneamente registradas e atravessaram em segundos continentes, regiões e nações, abastecendo em sua travessia sites e blogues, frequentando milhões de murais de usuários do Facebook, Orkut e MySpace. É como se a liberdade do mundo virtual tomasse de assalto, como epidemia, o mundo real.
Boas notícias
Um ano em que os jornais ditos sérios do mundo –El País, Le Monde, Frankfurten Allgemeine, The New York Times e The Guardian– praticamente se transformaram em diários inteiramente dedicados à economia. Isto porque a economia mundial ficou literalmente de pernas para o ar. A Grécia engolfada em crise aparentemente insolúvel, com gregos se imolando em praça pública, governo mudando às pressas. A Itália também começando a falar grego, vendo o vendaval financeiro balançar sua frágil credibilidade e Silvio Berlusconi saindo de cena de maneira atabalhoada.
A Espanha com suas muitas greves e estonteante nível de desemprego, mudando de governo para manter-se como está, em estágio pré-falimentar. França e Alemanha buscando dar equilíbrio à economia do euro e com muitas incertezas quanto à manutenção de sua saúde financeira, à medida que franceses e alemães ouvidos em pesquisas preferem rejeitar os estatutos da Europa Unida e o euro como sua moeda comum.
Não é descabido pensar que o regime cruel e perverso dos aiatolás iranianos está com os dias contados: não é razoável proibir 78 milhões de iranianos de acessar a internet por tempo indeterminado. Seria necessário "clonar” cada iraniano com o seu Avatar-Vigia. E isso sim, é de todo impensável e impossível.
O mesmo acontece com os cerca de 1,4 bilhão de chineses que parecem –ainda– bem conformados com uma web sujeita a restrições de acesso, engessada que é por diversos filtros ideológicos. Mesmo este cenário chinês não resistirá à lufada de ar puro, com sabor de liberdade, que haverá de soprar de baixo para cima, do coração para a mente de tantos milhões de seres humanos.
Quem viver acessará essas boas notícias – ou melhor, quem viver, verá tão estupendas transformações nos murais das redes sociais, nos sites e blogues independentes, esses mesmos que, no Brasil, são chamados pela grande imprensa de "blogues sujos”.
Denúncia letal
No Brasil, este observador detectou sintomas profundos de uma imprensa que renunciou de vez a missão de ser espelho da sociedade:
* Potencializou pequenos escândalos em megaescândalos, resultando na demissão de seis ministros do governo Dilma Rousseff;
* Criou escândalos para todos os gostos, como se esses surgissem em pencas, mas não conseguiu seu tento maior: derrubar quem, por direito, poderia nomear e demitir ministros: a presidenta da República. E, bem ao contrário, e a contragosto, se viu impelida a divulgar os mais elevados índices de aprovação de um presidente ao fim de seu primeiro ano de governo. A verdade é que a aprovação de Dilma superou, em muito, a excelente avaliação de seu antecessor Lula da Silva;
* Deixou de divulgar ou minimizou ao máximo todos os escândalos de corrupção existentes no governo do estado de São Paulo, com uma dúzia de CPIs propostas na Assembleia Legislativa paulista sendo sumariamente barradas, arquivadas, abortadas;
* Tirou proveito, de forma mesquinha, quando não extremamente grosseira e desrespeitosa, do anúncio do ex-presidente Lula da Silva de que se submeteria a tratamento de um câncer na laringe; e até o apoio subliminar para que Lula se tratasse no SUS foi amplamente repercutido por colunistas das grandes revistas semanais;
* Minimizou a boa fase da economia brasileira se comparada à economia mundial, sempre optando (ou seria torcendo?) para que o país desandasse com decisões econômicas erráticas que trouxessem à tona o velho flagelo da inflação e os habituais índices de desemprego em alta, tão comuns nos anos 1980 e 1990;
* Se fez de morta ante a mais letal denúncia de maracutaias jamais publicada no Brasil, envolvendo personagens por ela sempre blindados, como o ex-governador paulista José Serra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e os seus bem-sucedidos (empresarialmente) herdeiros, Verônica Serra e Paulo Henrique Cardoso; e tudo isso publicado na forma de livro –A Privataria Tucana–contendo dezenas de documentos dos malfeitos com o dinheiro público, escrito pelo jornalista, ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo, Amaury Ribeiro Jr.
Tudo indica que 2011 irá se juntar a 1968 para ser –na feliz expressão de Zuenir Ventura– mais um ano que não terminou.
Feliz 2012 a todos.
[Fonte: Observatório da Imprensa].
Manifestações políticas –e quase sempre pacíficas– foram convocadas através do uso do Twitter em larga escala e dos torpedos disparados de celulares como os smartphones produzidos pela Blackberry, Apple e Motorola. As imagens foram instantaneamente registradas e atravessaram em segundos continentes, regiões e nações, abastecendo em sua travessia sites e blogues, frequentando milhões de murais de usuários do Facebook, Orkut e MySpace. É como se a liberdade do mundo virtual tomasse de assalto, como epidemia, o mundo real.
Um ano em que os jornais ditos sérios do mundo –El País, Le Monde, Frankfurten Allgemeine, The New York Times e The Guardian– praticamente se transformaram em diários inteiramente dedicados à economia. Isto porque a economia mundial ficou literalmente de pernas para o ar. A Grécia engolfada em crise aparentemente insolúvel, com gregos se imolando em praça pública, governo mudando às pressas. A Itália também começando a falar grego, vendo o vendaval financeiro balançar sua frágil credibilidade e Silvio Berlusconi saindo de cena de maneira atabalhoada.
A Espanha com suas muitas greves e estonteante nível de desemprego, mudando de governo para manter-se como está, em estágio pré-falimentar. França e Alemanha buscando dar equilíbrio à economia do euro e com muitas incertezas quanto à manutenção de sua saúde financeira, à medida que franceses e alemães ouvidos em pesquisas preferem rejeitar os estatutos da Europa Unida e o euro como sua moeda comum.
Não é descabido pensar que o regime cruel e perverso dos aiatolás iranianos está com os dias contados: não é razoável proibir 78 milhões de iranianos de acessar a internet por tempo indeterminado. Seria necessário "clonar” cada iraniano com o seu Avatar-Vigia. E isso sim, é de todo impensável e impossível.
O mesmo acontece com os cerca de 1,4 bilhão de chineses que parecem –ainda– bem conformados com uma web sujeita a restrições de acesso, engessada que é por diversos filtros ideológicos. Mesmo este cenário chinês não resistirá à lufada de ar puro, com sabor de liberdade, que haverá de soprar de baixo para cima, do coração para a mente de tantos milhões de seres humanos.
Quem viver acessará essas boas notícias – ou melhor, quem viver, verá tão estupendas transformações nos murais das redes sociais, nos sites e blogues independentes, esses mesmos que, no Brasil, são chamados pela grande imprensa de "blogues sujos”.
Denúncia letal
No Brasil, este observador detectou sintomas profundos de uma imprensa que renunciou de vez a missão de ser espelho da sociedade:
* Potencializou pequenos escândalos em megaescândalos, resultando na demissão de seis ministros do governo Dilma Rousseff;
* Criou escândalos para todos os gostos, como se esses surgissem em pencas, mas não conseguiu seu tento maior: derrubar quem, por direito, poderia nomear e demitir ministros: a presidenta da República. E, bem ao contrário, e a contragosto, se viu impelida a divulgar os mais elevados índices de aprovação de um presidente ao fim de seu primeiro ano de governo. A verdade é que a aprovação de Dilma superou, em muito, a excelente avaliação de seu antecessor Lula da Silva;
* Deixou de divulgar ou minimizou ao máximo todos os escândalos de corrupção existentes no governo do estado de São Paulo, com uma dúzia de CPIs propostas na Assembleia Legislativa paulista sendo sumariamente barradas, arquivadas, abortadas;
* Tirou proveito, de forma mesquinha, quando não extremamente grosseira e desrespeitosa, do anúncio do ex-presidente Lula da Silva de que se submeteria a tratamento de um câncer na laringe; e até o apoio subliminar para que Lula se tratasse no SUS foi amplamente repercutido por colunistas das grandes revistas semanais;
* Minimizou a boa fase da economia brasileira se comparada à economia mundial, sempre optando (ou seria torcendo?) para que o país desandasse com decisões econômicas erráticas que trouxessem à tona o velho flagelo da inflação e os habituais índices de desemprego em alta, tão comuns nos anos 1980 e 1990;
* Se fez de morta ante a mais letal denúncia de maracutaias jamais publicada no Brasil, envolvendo personagens por ela sempre blindados, como o ex-governador paulista José Serra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e os seus bem-sucedidos (empresarialmente) herdeiros, Verônica Serra e Paulo Henrique Cardoso; e tudo isso publicado na forma de livro –A Privataria Tucana–contendo dezenas de documentos dos malfeitos com o dinheiro público, escrito pelo jornalista, ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo, Amaury Ribeiro Jr.
Tudo indica que 2011 irá se juntar a 1968 para ser –na feliz expressão de Zuenir Ventura– mais um ano que não terminou.
Feliz 2012 a todos.
[Fonte: Observatório da Imprensa].
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