Blog da Cidadania
Durante o levante popular no Egito que culminou com a queda do ex-ditador Hosni Mubarak, uma das medidas adotadas pelo governo para tentar barrar o processo que o derrubaria foi censurar a internet de forma a cortar os canais de comunicação através dos quais as massas amotinadas se organizavam. Não funcionou, ou funcionou precariamente devido à capilaridade da rede mundial de computadores, e a ditadura caiu.
É extremamente eloqüente, portanto, que o governo britânico, através do primeiro-ministro conservador, David Cameron, esteja enveredando pelo caminho das ditaduras do Oriente Médio, da África e da Ásia que igualmente tentaram impedir que redes sociais como Twitter, Facebook, e-mails e blogs fossem usados pelos que agora convulsionam Londres com seu grito de desespero social.
Preocupa que a grande imprensa internacional – conceito que inclui a do Brasil – não se debruce sobre dois aspectos gritantes de um processo que se arrasta pelo Velho Mundo e que, cedo ou tarde, haverá de chegar ao outro lado do Atlântico, pois as agruras que afligem europeus, asiáticos e africanos também se abatem – inclusive com mais força – sobre o ainda anestesiado povo norte-americano.
Impressiona a passividade da massa desvalida que cresce de forma exponencial nos Estados Unidos, coração do sistema capitalista contemporâneo, laboratório de horrores de uma ultra-direita que impôs ao resto do planeta uma ideologia e um sistema econômico doentios e autofágicos que, como era previsível, chegam agora a um estágio em que não mais conseguem ser suportados devido ao sofrimento interminável e à desesperança que encerram.
A pior parte do capitalismo, pois, não são os seus dogmas, mas o fato de que a ideologia liberal, sua irmã incestuosa, busca extinguir sonhos mesmo dizendo que eles existem, pois os caminhos pregados para ascensão social embutem o fato de que, para muitos, não haverá como ascender, o que institucionaliza a pobreza, a miséria e a ignorância, conceitos que o homem deveria buscar extinguir em vez de preservar.
Se alguns ascendem por serem mais “competentes”, como dizem os capitalistas e liberais, aceita-se que outros não ascenderão e que os eleitos serão minoria, pois só os dotados acima da média têm meios naturais para vencer barreiras como pobreza, ignorância e falta de recursos para estudar. Só as inteligências incomuns e as forças de vontade mais férreas serão contempladas, sempre de acordo com os dogmas capitalistas.
Resumindo a ideologia do capitalismo: é a lei da selva, pura e simplesmente.
Àquela parcela da humanidade que faltam traços incomuns, só restaria se conformar. Ou seja: não ter esperança, pois se não sou um superdotado, se não tenho um caráter natural acima da média, jamais deixarei o fundo do poço. O capitalismo, assim, exige que muitos abram mão da característica da espécie humana que a fez ascender acima do resto da cadeia alimentar, o inconformismo com a impotência.
Cedo ou tarde, porém, os norte-americanos irão se revoltar tanto quanto ingleses, espanhóis ou qualquer outro dos povos que já não aceitam mais a lógica capitalista. Talvez aquele povo tenha que passar por um governo do Tea Party, que agora parece ter um candidato para ameaçar, na eleição presidencial do ano que vem, o “poste” Barack Obama, que, no poder, frustrou a esperança de seu povo.
A possibilidade de a ala mais radical do partido Repúblicano retomar o poder no decadente império norte-americano, se ocorrer deve acelerar a crise do capitalismo. Até o fim desta década, se o capitalismo não for repensado o mundo chegará a uma situação apocalíptica em que os levantes dos desvalidos se tornarão tsunamis sociais. Essa é a questão que ainda não se discute no nível em que seria necessário.
Qual será o futuro do capitalismo? É possível imaginar uma sua substituição? Até que ponto os poderes que sustentam o capitalismo (mídia e forças de repressão social) serão capazes de manter as massas conformadas, limitando os contingentes que se dispõem a enfrentar o Status Quo? Haveria como reformar o capitalismo, humanizando-o a um ponto aceitável? A lógica capitalista comporta bem-estar social generalizado?
Como o poder econômico, midiático e repressor (pela força) é controlado pelo capitalismo, pode-se imaginar, inicialmente, dois cenários para o futuro da humanidade: uma ditadura capitalista planetária ou uma revolução “francesa” em que os senhores da humanidade sejam imolados e uma nova ordem comunista seja estabelecida.
Em qualquer hipótese, os augúrios não são reconfortantes. Extremismos socialista ou capitalista não soam bem. Só o que poderia salvar o homem de si mesmo seria clarividência dos que controlam a comunicação em nossa época. Se permitissem um debate sem limites sobre o futuro do capitalismo, talvez fosse possível engendrar um sistema econômico misto que impedisse que o crescimento geométrico da espécie a conflagrasse.
Há políticos capazes de colocar esse debate na ordem do dia. Barack Obama, se ousasse, poderia entrar para a história da humanidade convocando as nações para discutirem o futuro do capitalismo. E líderes como Dilma Rousseff, por exemplo, poderiam encaminhar a proposta aos seus congêneres mais poderosos. Dá para sonhar com tais atos de coragem e liderança ou a humanidade está condenada ao impasse?
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