terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Lula ri enquanto a imprensa de mercado não o esquece jamais


DAVIS SENA FILHO

Os barões da imprensa hegemônica preferem a Dilma ao invés de Lula, porque, neste caso, entra um componente enraizado em nossas elites: o preconceito de classe e a negação do trabalhismo

Eu sou um jornalista se interessa por história. Por ser um profissional de imprensa da área de Política, sempre pesquisei para conhecer os políticos, não somente pelo o que eles dizem, apregoam, acreditam e discursam. Antes de qualquer coisa, vou saber de sua biografia, ou seja, investigar seu passado, suas origens políticas, ideológicas e partidárias, bem como sua coerência de pensamento, além de verificar sua obra social quando esteve no poder.
Sempre tive essa conduta. Coisa básica, por exemplo, como ouvir os dois lados envolvidos em quaisquer questões, além de ter cuidado com informações meramente declaratórias, sem, antes, certificar-me da veracidade de quem passa as informações. Porque para o jornalista escrever para o público a informação tem de ter pelo menos algum indício. Do contrário, é melhor não escrever ou falar. Se o fizer, é porque tal jornalista tem algum interesse, nem que seja simplesmente assegurar o seu emprego e assim agradar o seu chefe ou o seu patrão.
Essas atitudes e ações comezinhas, ordinárias, comuns, que qualquer aluno ou foca (jornalista em início de carreira) sabe por meio de qualquer professor de faculdade ou de um colega mais experiente não são realmente observadas e cumpridas por um grande número de jornalistas famosos e veteranos, mas que firmaram compromisso com o patronato, bem como querem garantir que as mudanças sociais e econômicas não ocorram, porque a intenção, de fato, é favorecer a manutenção do status quo, pois que são porta-vozes das elites econômicas e financeiras inquilinas do pico da pirâmide social.
E foi neste contexto perverso que o grande presidente trabalhista, Luiz Inácio Lula da Silva, ascendeu ao poder em 2003, quando, por oito anos, administrou a República Federativa do Brasil e amargou uma oposição promovida e levada a cabo pela imprensa burguesa, comercial e privada, que se transformou em um verdadeiro partido político — o Partido da Imprensa, que realizou no decorrer de seu mandato a mais ardilosa, veemente, traiçoeira, feroz e desrespeitosa campanha que eu já vi contra um político, de perfil trabalhista e ideologicamente socialista, saído das entranhas do povo brasileiro, dos movimentos sociais, dos sindicatos, de setores da universidade pública e da Igreja Católica progressista.
Lula foi o presidente brasileiro mais politicamente orgânico da história do nosso País; mais ainda que o estadista gaúcho Getúlio Vargas, o fundador, sem sombra de dúvida, do Brasil moderno — industrializado. Como se percebe, os trabalhistas fazem jus ao nome, porque foram eles, no decorrer da história da República, que realmente trabalharam em prol do desenvolvimento e do crescimento do Brasil para que se transformasse em uma Nação moderna e civilizada. Os presidentes conservadores sempre tomaram do povo, e, quando possível, retiraram ou tentaram retirar seus direitos, inclusive os garantidos pela Constituição Cidadã de 1988, como o fez o neoliberal e vendilhão da Pátria, Fernando Henrique Cardoso, e assessores de sua confiança, como o também neoliberal José Serra.
Contudo, a campanha insidiosa e sistemática contra o presidente Lula não foi o suficiente para derrubá-lo apesar da tentativa de golpe em 2005. Apesar das perfídias e das manipulações e até mesmo mentiras veiculadas e publicadas pela imprensa comercial e privada, o político pernambucano de origem pobre e operário de fábrica do ABCD paulista saiu da Presidência da República (apesar de oito anos no poder, o que não é fácil) com o espetacular índice de aprovação de 82%, a superar, nada mais e nada menos, que o mito Nelson Mandela, quando deixou a Presidência da África do Sul.
Lula é um fenômeno político, e, consequentemente, social. O operário, que saiu de Pernambuco e chegou a São Paulo em um pau-de-arara ajudou a fundar a maior confederação de trabalhadores da América Latina e uma das maiores do mundo, a Central Única dos Trabalhadores, a CUT, além de também ser o fundador de um dos partidos mais poderosos e influentes do planeta, que é o Partido dos Trabalhadores — o PT. Somente essas duas criações bastariam para esse político exímio e de uma visão social e política profundamente conhecedora das questões sociais e econômicas brasileiras para que ele ficasse para sempre na história. Mas não foram somente esses dois fatos históricos importantíssimos que aconteceram.
Lula foi eleito presidente da República duas vezes e elegeu sua sucessora, a ministra chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, que nunca teve cargo eletivo e mesmo assim conquistou a cadeira da Presidência da República para se tornar a primeira mulher brasileira assumir cargo de tamanha importância e envergadura. Lula foi às ruas e às praças e também à televisão. Falou muito e mostrou seu legado, que, durante oito anos, foi boicotado e não veiculado pela imprensa alienígena e de negócios privados, que, entretanto, teve de engolir a divulgação das ações do Governo Lula, porque a propaganda eleitoral gratuita se encarregou de mostrar os fatos, as realidades e as conquistas do País e do povo brasileiro.
Se dependesse das mídias hegemônicas e monopolistas, o presidente Lula sequer existiria, a não ser para ser ofendido e taxado até de bêbado. Acontece que o presidente trabalhista entrou e saiu da Presidência sem um arranhão, no que concerne à sua conduta e ao respeito devido ao povo brasileiro. A verdade é quem foram surpreendidos alcoolizados pela PM do Rio e se recusaram a fazer o teste do bafômetro foram dois dos protegidos da imprensa de mercado: o candidato a presidente, senador do PSDB por Minas Gerais, Aécio Neves; e o ex-candidato a vice-presidente e deputado federal do DEM, Índio da Costa. A imprensa oligarca, nesses dois episódios, ignorou os fatos e recolheu seu porrete de moer reputações. Agora, a pergunta que teima em não calar: Imagine, leitor, se fosse o Lula no lugar desses playboys? Seria um cataclismo e manchetes cretinas por seis meses!
Apesar de tudo, o tempo passou e o cidadão Lula não é mais o presidente deste grande País que é o Brasil. Um ano após Lula ter deixado o poder, pesquisa do Instituto Análise ouviu duas mil pessoas em cem cidades de todas as regiões do País. A pesquisa foi publicada na edição do dia 21 de setembro do jornal "Valor Econômico" e indicou que o ex-presidente Lula era mais popular do que quando saiu da Presidência, e olha que ele tinha 82% de aprovação, sendo que 14% consideraram seu governo regular quando estava no poder. "Regular" é aprovação. Então o índice sobe para 96%. Somente ínfimos 4% consideraram o Governo Lula ruim ou péssimo. Esses 4% representam, indubitavelmente, a imprensa entreguista, de passado golpista e alguns setores ligados aos exportadores e aos bancos, além de, evidentemente, parte da classe média despolitizada e leitora da "Veja", da "Época" e de jornais conservadores de má qualidade editorial e jornalística, como a "Folha de S. Paulo", o "Estadão", o "O Globo", o "Correio Braziliense" e o "Zero Hora", somente para ficar nesses, que são os maiores e mais ricos e que, inegavelmente, fazem oposição sistemática aos governos trabalhistas desde a época de Getúlio Vargas.
Conforme salientei em outros artigos, os barões da imprensa formam a classe empresarial mais atrasada do País. Eles ocuparam os lugares dos antigos cafeicultores paulistas que reagiram contra o fim da escravidão e combateram a efetivação da República. Eles são, realmente, muito atrasados. Chegam a ser toscos e tacanhos. Todavia, o ex-presidente Lula 'está bem na fita' no que diz respeito — volto a afirmar — às pesquisas, inclusive as atuais e que não são repercutidas pelos próprios jornais e televisões que as encomendam. Incrível, não?
De qualquer maneira, o PT tem dois candidatos poderosos, no que concerne ao número de votos. A ser assim, percebe-se o porquê de a imprensa privada continuar a bater em Lula depois de deixar a Presidência há mais de dois anos. A imprensa comercial e privada brasileira é tão surreal que é a única do mundo a querer derrubar um ex-presidente. Eles têm um verdadeiro pavor que o político trabalhista do PT volte a concorrer às eleições presidenciais e com isso ficar mais quatro anos, a partir de 2015. Eles preferem até engolir uma vitória de Dilma Rousseff. Trabalhista no poder é sinal de mudanças profundas e por uma administração popular. A direita sabe disso, porque alguns conservadores já abriram os livros de história. Por isso que os partidos de direita precisam do sistema midiático privado como os seres vivos necessitam de oxigênio para viver. Sem a mídia golpista, a direita não teria 20% dos votos.
Colunistas como Reinaldo Azevedo, da Veja, Ricardo Noblat e Merval Pereira, de O Globo, somente para exemplificar esses três, pois iguais a eles existem centenas, criticam diuturnamente e açodadamente e desrespeitosamente o político mais popular da história do Brasil e ainda reclamam que o Governo trabalhista tem a intenção de censurar, tolher a liberdade de expressão e de imprensa. É muita cara-de-pau e desfaçatez. Acredito que até alguns leitores que visitam as colunas desses caras devem às vezes achar um exagero tanta falta de educação e senso crítico, pois o que somente se lê é mau juízo de valor, arrogância e prepotência exacerbados.
A permanência da popularidade de Lula, como informa a pesquisa, incomoda muito os porta-vozes de nossas elites econômicas, que são os jornalões, tanto os das rádios como os das televisões e os impressos. Eles sabem disso, porque jornalistas compromissados politicamente e ideologicamente com seus patrões sabem que o ex-presidente Lula é praticamente imbatível em uma eleição, ao ponto de após um ano de sua saída da Presidência ter superado nos índices de aprovação a presidenta trabalhista Dilma Rousseff, que tem, na minha opinião, realizado um trabalho profícuo a serviço do povo brasileiro, ao dar continuidade ao programa do Governo Lula, que ela, inegavelmente, esteve à frente como ministra-chefe da Casa Civil. Dilma é Lula e Lula é Dilma, apesar de a imprensa imperialista querer dar uma conotação de diferença entre ambos, ou seja, usar como estratégia a separação de um do outro, o que, venhamos e convenhamos, é um absurdo para não dizer infantil e ridículo. Como o é mesquinho a imprensa burguesa não atender ao pedido de Dilma Rousseff para ser chamada de presidenta e não presidente.
O problema todo é que Lula e Dilma são presidentes de governos desenvolvimentistas, o que leva a burguesia ficar irada, porque ela é monetarista até a medula, cujos "deuses" desse capital são os professores Eugênio Gudin e Roberto Campos, com espaço amplo para Mário Henrique Simonsen e Delfim Netto, sendo que este último aparentemente mudou de lado e hoje é um dos maiores críticos do neoliberalismo e dos governos tucanos na esfera federal, bem como no âmbito estadual e há pouco tempo no municipal, no que tange aos tucanos que dominam o poder em São Paulo há 19 anos, com a cumplicidade total da grande imprensa paulista e também dos cariocas O Globo e TV Globo. Como fala sempre o jornalista Paulo Henrique Amorim, "os tucanos de São Paulo não passariam de Resende se não fosse o PIG". E é isso mesmo.
A tendência é que o PSDB diminua e tenha sérias dificuldades para conquistar os executivos estaduais e principalmente a Presidência da República. Eles não têm programa de governo. E o que tinha para vender, os tucanos venderam. Coitado do povo paulista que não sabe como vai estar o patrimônio público de São Paulo quando o PSDB, enfim, sair do poder. A privatização no estado mais poderoso da Federação foi ampla. E a imprensa, como sempre, nunca publica notícia que possa, ao menos, incomodar os políticos e o empresariado envolvidos com a alienação de bens públicos, no decorrer desses longos 19 anos. O tempo é o senhor da razão. O tempo vai mostrar o que aconteceu em terras paulistas.
Enquanto isso, a grande imprensa brasileira luta contra a volta de Lula, mesmo quando o trabalhista afirma que a Dilma é a candidata do PT. Os barões da imprensa hegemônica preferem a Dilma ao invés de Lula, porque, neste caso, entra um componente enraizado em nossas elites: o preconceito de classe e a negação do trabalhismo. Lula representa exatamente o que a imprensa de negócios privados não quer: a continuidade das políticas desenvolvimentistas e trabalhistas colocadas em prática por Getúlio Vargas, João Goulart, Juscelino Kubitschek, Luiz Inácio Lula da Silva e agora Dilma Rousseff.
É histórico e por isso o que eu afirmo é mais do que verdadeiro. Lula, mesmo fora do poder, de acordo com as pesquisas dos últimos dois anos tem ampla aprovação popular. Este fato significa que a população sente saudade do ex-presidente, porque sua relação com as pessoas é de afetividade e carisma, além do reconhecimento ao seu trabalho enquanto presidente da República. Somente Getúlio teve tanta empatia com o povo brasileiro. O que eu afirmo não é uma questão de simpatia ou de ideologia. São números e realidades analisadas pelos os empresários donos de institutos de pesquisas.
A relação de Lula com o povo sobrepõe às questões importantes, mas de caráter econômico e financeiro. Milhões de cidadãos, trabalhadores brasileiros se enxergam em Lula, como se o ex-operário representasse suas próprias existências, bem como a virtude de ter vencido na vida e conquistado o respeito ou até mesmo o medo daqueles que também são seus patrões, a burguesia — as elites brasileiras. Lula se tornou a referência que do brasileiro comum e que almeja ter acesso a uma vida de melhor qualidade. Eu vi e percebi essa cumplicidade, que fez com que um retirante nordestino se tornasse presidente por duas vezes e ainda elegesse sua sucessora, mesmo a ter uma oposição muito rica e com apoio de um sistema midiático privado dos mais poderosos do mundo. O migrante nordestino os derrotou e por isso se tornou um mito ainda em vida. Lula ri enquanto a imprensa de mercado não o esquece jamais. É isso aí.

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