segunda-feira, 16 de abril de 2012

Mídia faz jogo da máfia

Por Miguel do Rosário, no sítio O Cafezinho:

Peço atenção para esta notinha publicada por Ilimar Franco, um dos últimos colunistas da mídia que ainda se permite, eventualmente, um posicionamento mais independente:

A estratégia da defesa de Demóstenes: Pode ser coincidência. Mas somente depois que o escritório de advocacia que defende o senador Demóstenes Torres (GO) recebeu do STF a íntegra da investigação da Polícia Federal contra o contraventor Carlinhos Cachoeira, inclusive com os grampos telefônicos, é que começaram a vir à luz informações sobre o eventual envolvimento, com a quadrilha, de integrantes de partidos que são da base do governo Dilma. Advogados do ramo dizem que essa proliferação de dados e nomes combina com uma estratégia de inteligência que pretende colocar mais gente no moedor de carne para tentar salvar o senador cliente.
Só faria uma ressalva ao comentário de Ilimar: não é coincidência. Os grupos de comunicação que fazem oposição ideológica ao governo petista estão enredados na rede de espionagem ilegal do esquema de Carlinhos Cachoeira, numa estratégia que continuam a adotar nos últimos dias. Desta vez, com uma desfaçatez ainda maior.

A mídia, portanto, continua a serviço dos interesses da máfia comandada por Carlinhos Cachoeira e Demóstenes Torres. Hoje, mais ainda que ontem, os jornais amanheceram repletos de ameaças. A expressão que fala em “CPI sabe-se onde começa, mas não onde termina”, voltou a ser repetida sem ao menos a preocupação estética de evitar o clichê.

O editorial do Estadão, as colunas de Dora Kramer, Merval Pereira e Eliane Cantanhede, aparecem pintados de guerra, faca entre os dentes, olhos injetados de sangue, e brandindo teorias ameaçadoras.

A Folha, por sua vez, acionou a central de intrigas, cuja maior especialidade é botar palavras na boca da presidenta. Hoje vem falando que a presidenta e o governo não estão satisfeitos. O objetivo é claro: ameaçar e reduzir o ímpeto da CPI.

Ora, como este Cafezinho já analisou, nenhuma CPI interessa ao Executivo, que é uma entidade política mas cujas responsabilidades administrativas são descomunais. Os administradores querem paz, tranquilidade, para tocar as obras e melhorar a qualidade dos serviços. Neste sentido, CPIs atrapalham sim o governo. Por isso eu disse que, desta vez, o Congresso teria que desafiar o governo para criar uma CPI. Um desafio do bem, porque ao fim das contas ajudará o Executivo, de várias maneiras:

- É uma ação concreta de combate à corrupção. Então ajuda o Executivo a reduzir o desvio de recursos públicos, que é um dos entraves mais revoltantes para o desenvolvimento nacional.

- É uma ação de cunho político fundamental, para investigar um esquema mafioso, reunindo forças econômicas, políticas e midiáticas, que atacavam sistematicamente o governo federal. Já está provado que parte da paralisia vista no governo Dilma em 2011, deveu-se aos sucessivos ataques midiáticos a seus ministérios, e que isto prejudicou a economia nacional. A presidenta, no entanto, enfrentou estas crises com muita sobriedade, sem comprar brigas, dando espaço para defesa, mas ao mesmo tempo aproveitando-se para se livrar de colaboradores eticamente suspeitos.
 

Maia reduz a Veja a pó. E a mídia inteira silencia

Há, até agora, um silêncio completo dos sites dos grandes jornais sobre a nota emitida ontem, às 19 horas, pelo presidente da Câmara dos Deputados – a terceira posição na hierarquia de poder deste país – sobre o comportamento da revista Veja, que lhe imputa atitudes conspiratórias (?) ao defender a instalação de uma CPI sobre o caso do bicheiro Carlinhos Cachoeira.

A nota não podia ser mais clara e lúcida, a partir de seu título: “Por que a Veja é contra a CPMI do Cachoeira?”.
Nela, Maia diz o óvio, que toda a grande imprensa nega-se a admitir: que a CPI sairá por agordo quase unânime de todas as forças políticas.

- a decisão de instalação de uma CPMI, reunindo Senado e Câmara Federal, resultou do entendimento quase unânime por parte do conjunto de partidos políticos com representação no Congresso Nacional sobre a necessidade de investigar as denúncias que se tornaram públicas, envolvendo as relações entre o contraventor conhecido como Carlinhos Cachoeira com integrantes dos setores público e privado, entre eles a imprensa;

Qual é o problema, é chamar Cachoeira de contraventou e não de “empresário do ramo de jogos”, como faz a Veja? Ou é dizer que suas ligações com a imprensa devam ser também investigadas? A imprensa (ou a Veja, claro) está acima da lei?

O presidente da Câmara dá um basta a essa indignidade de dizer que apurar notórias irregularidade seria “cortina de fumaça”:

- não é verdadeira, portanto, a tese que a referida matéria tenta construir (de forma arrogante e totalitária) de que esta CPMI seja um ato que vise tão somente confundir a opinião pública no momento em que o judiciário prepara-se para julgar as responsabilidades de diversos políticos citados no processo conhecido como “Mensalão”;

E não tergiversa, como é comum acontecer no mundo da política, nem entra na conversa fiada de que conhecer a verdade é ameaçar a imprensa. Ora, isso só seria ameaça se a imprensa mente, não é verdade?

- também não é verdadeira a tese, que a revista Veja tenta construir (também de forma totalitária), de que esta CPMI tem como um dos objetivos realizar uma caça a jornalistas que tenham realizado denúncias contra este ou aquele partido ou pessoa. Mas posso assegurar que haverá, sim, investigações sobre as graves denúncias de que o contraventor Carlinhos Cachoeira abastecia jornalistas e veículos de imprensa com informações obtidas a partir de um esquema clandestino de arapongagem;

Maia manda o recado: ínvestigar isso é próprio de países civilizados e das democracias. E vai onde dói:

- vale lembrar que, há pouco tempo, um importante jornal inglês foi obrigado a fechar as portas por denúncias menos graves do que estas. Isto sem falar na defesa que a matéria da Veja faz da cartilha fascista de que os fins justificam os meios ao defender o uso de meios espúrios para alcançar seus objetivos;

O presidente da Câmara porta-se com uma altivez cada vez mais rara de encontrar-se nos homens públicos e brinda o país com um raríssimo momento em que se vê um deles indignar-se e reagir contra o abuso sistemático de uma publicação que se arvora em dona do país:

- afinal, por que a revista Veja é tão crítica em relação à instalação desta CPMI? Por que a Veja ataca esta CPMI? Por que a Veja, há duas semanas, não publicou uma linha sequer sobre as denúncias que envolviam até então somente o senador Demóstenes Torres, quando todos (destaco “todos”) os demais veículos da imprensa buscavam desvendar as denúncias? Por que não investigar possíveis desvios de conduta da imprensa? Vai mal a Veja!;

- o que mais surpreende é o fato de que, em nenhum momento nas minhas declarações durante a última semana, falei especificamente sobre a revista, apontei envolvidos, ou mesmo emiti juízo de valor sobre o que é certo ou errado no comportamento da imprensa ou de qualquer envolvido no esquema. Ao contrário, apenas afirmei a necessidade de investigar tudo o que diz respeito às relações criminosas apontadas pelas Operações Monte Carlo e Vegas;

- não é a primeira vez que a revista Veja realiza matérias, aparentemente jornalísticas, mas com cunho opinativo, exagerando nos adjetivos a mim, sem sequer, como manda qualquer manual de jornalismo, ouvir as partes, o que não aconteceu em relação à minha pessoa (confesso que não entendo o porquê), demonstrando o emprego de métodos pouco jornalísticos, o que não colabora com a consolidação da democracia que tanto depende do uso responsável da liberdade de imprensa.

O deputado Marco Maia vai ser jurado de morte por essa organização, como diz ele, autoritária e totalitária. Mas abre, à custa de seu próprio pescoço, uma gigantesca esperança de que a verdade possa surgir e que este país seja, de verdade, libertado das máquinas de poder político que, derrotadas sucessivamente nas eleições, continuam a impingir, pela via da manipulação, a decisão sobre que é ou não é honesto.

E que não se acanha em fazer, sobre as instituições políticas e judiciais, o lobby do terror, do medo, da intimidação.

É escandaloso que o restante da imprensa mantenha este silêncio. Gostem ou não do que disse Marco Maia isso é notícia e notícia das mais importantes.

Se esse silêncio orquestrado não é golpismo, o que é?

domingo, 15 de abril de 2012

CPI do Cachoeira vs. Mensalão

Por Marcos Coimbra

Semana passada, o assunto político mais importante foi a criação da CPI do Cachoeira. Só se falou dela no Congresso e na imprensa.

De acordo com o requerimento para sua instalação, a comissão mista de senadores e deputados deverá investigar as ligações de Carlos Cachoeira com “agentes públicos e privados”. Poderá, portanto, examinar as relações do bicheiro e de seu grupo com parlamentares, governos estaduais, prefeituras e empresas.

É uma CPI inusitada, a começar pelo fato de ter sido proposta e bancada pelos partidos governistas. Normalmente, quem insiste na criação de CPIs são as oposições, para embaraçar o governo, gerar noticiário negativo e manter o foco da mídia em temas que o desgastem.
Não por outra razão, o governo costuma convocar seus aliados para evitá-las.

Quem correu para que a nova CPI fosse instalada foi o PT, secundado pelo PMDB. Com o apoio dos maiores partidos, a proposta queimou etapas e a comissão deve começar a funcionar na terça feira.

Ela recebeu o endosso de Lula, o que não é pouco. Mais que apenas por cálculo partidário, o ex-presidente teria motivos pessoais para querer que fosse criada. Consta que a vê como oportunidade para acertar as contas com adversários na política e na indústria de comunicação.

Pelo pouco que se conhece, até agora, da atuação de Cachoeira, parece que, em termos ideológicos, ele se alinhava preferencialmente com as oposições, seja na política nacional, seja em Goiás. Sua intimidade com Demóstenes Torres, o paladino do combate anti-petista no Senado, é reveladora dessa inclinação.

Assim como a ligação umbilical que mantinha com alguns órgãos de imprensa assumidamente hostis ao PT e ao governo, como a revista Veja. Os dois viveram uma longa e mutuamente recompensadora parceria.


Não vai dar no JN: Em Goiás 3 mil pessoas pedem "FORA MARCONI"

Do blog do Josias

Às voltas com denúncias de envolvimento com Carlinhos Cachoeira, preso em 29 de fevereiro, o governador tucano de Goiás, Marconi Perillo, foi alvo de uma manifestação de rua neste sábado (aqui e aqui).

Mobilizados por meio das redes sociais, cerca de 3 mil pessoas concentraram-se no centro da capital, Goiânia.

No estilo, a manifestação fez lembrar os atos anti-corrupção realizados no final do ano passado em várias cidades brasileiras. As pessoas portavam apitos. Muitos pintaram o rosto. Outros tantos adonaram o rosto com narizes de palhaço.

Embora os organizadores classifiquem a manifestação como apartidária e espontânea, o movimento foi engrossado por professores, em campanha salarial. A equipe de Perillo insinua que há antagonistas políticos por trás do ato.

Sem mencionar nenhum partido, o governo goiano disse, por meio de nota, que “respeita todas as manifestações, inclusive as político-partidárias.” O texto acrescenta que “os acontecimentos seguramente não representam o pensamento do povo de Goiás e isto pode ser confirmado pelo número de participantes.”

Ao longo da semana, Perillo esforçara-se para se desvincular de Carlinhos Cachoeira. Admitira, porém, tê-lo cumprimentado pelo aniversário e disse que o encontrou num jantar. De resto, os grampos da Polícia Federal levaram dois auxiliares do governador a se afastar de seus cargos.

sábado, 14 de abril de 2012

A mídia está de gringo no samba

- Sabe por que americano samba com um dedinho levantado em cada mão?

- Não, por que?

- Pra que ninguém lhe olhe os pés, desajeitados…

A brincadeira carioca tem tudo a ver com o comportamento da mídia diante da CPI sobre Carlinhos Cachoeira.

Agora,dizem os jornais, é o Governo e a própria presidenta Dilma quem estariam temerosos de uma investigação. Só falta dizer que o Lula também.

Pura cortina de fumaça.

Pode haver até algum governista preocupado, por razões próprias ou por ser adepto da política de tratar a política como – a expressão é do Brizola – “um clube ameno”, onde o importante é o Vossa Excelência para cá e para lá e empurrando os dias de poder, algum poder, todos os dias, enquanto durar.

Se a Presidenta, acaso, deu uma “freada de arrumação” na participação de ministros seus na articulação da CPI, fez muito bem. A CPI não é do Executivo, não é “chapa-branca”. E ela é a comandante política do Governo, não os ministros.

Dispensa, portanto, a prudência “muy amiga” que lhe sugere a mídia.

Da mesma forma, é assim a “preocupação” dos jornalões com a possibilidade de que a CPI do Cachoeira “mele” o julgamento do dito “mensalão”.

Porque melaria, se uma coisa, como sustenta Merval Pereira isso não passa de uma “tentativa desesperada de criar um fato político que possa influenciar a decisão do Supremo sobre o mensalão”?
Se não há ligação entre uma coisa e outra, porque isso se misturaria?

Mas há, ou pelo menos há fortes indícios de que há.

É uma gravação ordenada por Carlos Cachoeira que deflagrou aquele processo.

E essa gravação, segundo um ex-integrante do grupo do bicheiro, foi feita e divulgada com o obejtivo de “vingar” o veto de José Dirceu à nomeação de um homem do esquema Cachoeira – o senador Demóstenes – para o controle de um setor importante para o bicheiro, nada menos que a Secretaria Nacional de Justiça.

PSDB de Goiás recebeu R$ 800 mil da máfia de Cachoeira em 2010


O comitê do PSDB em Goiás, partido do governador Marconi Perillo, recebeu uma doação de R$ 800 mil do empresário Rossine Aires Guimarães, apontado pela Polícia Federal como um dos sócios do empresário de jogos de azar Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Quando a Folha vai tocar nesse assunto? Quando a Folha, Estadão, O Globo...vai deixar de proteger o PSDB?

Conforme a prestação de contas do partido disponíveis no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Rossine efetuou dois depósitos em favor do PSDB, por meio de transferência bancária. Um de R$ 500 mil no dia 26 de outubro, cinco dias antes do segundo turno. E outro no valor de R$ 300 mil, em 17 de novembro. Ele efetuou o depósito como pessoa física. Ao todo, o PSDB em Goiás recebeu R$ 22,8 milhões em doações.

Pelo relatório do inquérito da operação Monte Carlo, da Polícia Federal, Rossine é um dos cinco sócios da Ideal Segurança Ltda, com sede em Goiânia. Além dele, a PF aponta como outros sócios o próprio Carlinhos Cachoeira e Gleyb Ferreira da Cruz, um dos braços direitos do bicheiro. A PF suspeita que a Ideal Segurança era utilizada para lavagem de dinheiro de origem ilegal. De acordo com o relatório da PF, Rossine também emprestou dinheiro a integrantes do grupo de Cachoeira.

Na prestação de contas do PSDB em Goiás, o governador Marconi Perillo recebeu R$ 2,7 milhões do Diretório Estadual/Distrital do partido e R$ 14,3 milhões do comitê único do partido. O deputado estadual Mauro Rubem (PT) apresentou um requerimento da Assembleia Legislativa de Goiás nesta terça-feira (10) pedindo a convocação do presidente do comitê financeiro do PSDB na época da campanha, Jayme Ricoh, para dar explicações sobre as doações do sócio de Cachoeira.

O governador do Estado, Marconi Perillo, afirmou não enxergar qualquer ilegalidade na doação ....Nunca fui informado nem me interessei em saber sobre relações societárias entre empresas privadas”, afirmou Marconi Perillo. Outros integrantes do PSDB também não viram ilegalidades na doação do sócio do empresário Carlinhos Cachoeira.

Repórter da Globo também teria se envolvido com Cachoeira

Repórter da Globo também teria se envolvido com Cachoeira




Chega a este blog informação que não surpreende porque explica fato que muitos podem estar notando, o de que a Globo, acima da Veja ou de qualquer outro tentáculo da mídia demo-tucana, lidera a difusão de distorções das investigações da Operação Monte Carlo que se traduz em tentativa de voltar a CPI do Cachoeira contra o PT e o governo Dilma.

A fonte que envia tal informação é a mesma que alertara este blog para os fatos de que não foram 15 e, sim, ao menos 18 celulares (no inquérito aparecem 16, fora um 17º que não aparece e foi dado a Demóstenes Torres) que o bicheiro distribuiu a comparsas, e de que a mídia começaria a tocar no assunto Veja/Cachoeira porque o volume de conversas comprometedoras tornaria inevitável a convocação, se não de Roberto Civita, ao menos de Policarpo Jr. pela CPI.

Ainda que a edição da Veja desta semana volte ao ataque e tente vender a teoria de que tudo o que envolve a revista não passaria de “cortina de fumaça” com a qual o PT estaria tentando desviar atenções do julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal, a revista está apenas se defendendo, haja vista que sua relação com o crime organizado explodiu na sexta-feira na grande imprensa através da Folha de São Paulo.

Segundo a fonte do blog, Folha e Estadão não teriam aparecido nas escutas da Polícia Federal, mas o forte empenho da Globo em inverter o foco da investigação e intimidar parlamentares que possam integrar a CPI que deve ser instalada na semana que entra se deve ao fato de que ao menos um de seus repórteres teria mantido vários contatos sugestivos com Cachoeira que estariam gravados.

Demóstenes continua a editar a Veja

Do blog Conversa Afiada:

O Conversa Afiada reproduz comentário do amigo navegante Lenilton:

Veja: quem está alimentando o PIG

Nos últimos dias, o grande alimentador das matérias jornalísticas é o senador Demóstenes Torres. Ele, na condição de réu, passou a ter acesso às peças do inquérito Monte Carlo e, agora, vem vazando as informações que interessam a ele e a Cachoeira serem veiculadas pela imprensa amiga, do jeito que é conveniente a esta veicular.
Todo circo montado pela Globo em torno dos telefonemas de Protógenes e em torno da Delta visam unicamente a tirar Cachoeira, Demóstenes e Perillo do centro das discussões e chantagear os integrantes da CPI. Como na Itália, antes da operação Mãos Limpas, a imprensa brasileira tornou-se hoje um monstrengo em que o partidarismo político casou-se com a criminalidade.

Ajudou a sepultar a Operação Satiagraha e a operação Castelo de Areia; fez de conta que não viu o livro Privataria tucana e, agora, quer sepultar a Operação Monte Carlo. Assim, protege os seus aliados políticos e seus aliados criminosos, que, são ao mesmo tempo suas fontes e seus patrocinadores.

As manobras do esquema Cachoeira


Por Luis Nassif, em seu blog:


Na condição de réu, o senador Demóstenes Torres teve acesso às peças do inquérito Monte Carlo.

Agora, está selecionando informações para, em conluio com jornalistas do esquema Cachoeira, jogar o foco das investigações na Construtora Delta.

Sabendo-se das ligações de Cachoeira com a Delta, é até risível matéria informando sobre as tratativas do bicheiro para conseguir acesso a altos executivos da empresa - como se fosse uma figura menor aproximando-se da toda poderosa Delta.

A lógica da estratégia Cachoeira-Demóstenes-aliados é simples. A Delta é parte do universo a ser investigado; Cachoeira é o todo. Focando na Delta, tenta-se tirar do foco o chefe da quadrilha, Cachoeira, seu principal lugar-tenente, Demóstenes, assim como as ligações midiáticas da estrutura criminosa.

De quebra, desestimulam-se peemedebistas - já que a Delta tem relações com o governador Sérgio Cabral Filho - e petistas - relações com o governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz.

Nos próximos dias, haverá um aumento da chantagem de alguns veículos sobre políticos. É um jogo intimidatório pesado. Parlamentares escolhidos para a CPI serão alvo de represálias do esquema criminoso. Haverá também a estratégia de misturar factóides com fatos objetivos, visando embolar o entendimento da opinião pública.

A CPI de Cachoeira mostrará se o país poderá aspirar a um lugar no mundo moderno, se dispõe de instituições capazes de enfrentar toda sorte de poderes - do Executivo, Judiciário, Legislativo ao até agora intocado poder midiático.

Se se quiser, de fato, passar o país a limpo, o Congresso terá que pagar para ver, assim como parece estar sendo a posição do Executivo.

Seria medida de prudência jornais e jornalistas se darem conta de que rompeu-se a muralha do silêncio e do medo. Veículos e jornalistas que entrarem no esquema correrão o risco de serem indiciados pela Justiça.

Está chegando ao fim a era da plena impunidade para o mau jornalismo e para o uso de dossiês criminosos.

O que aconteceria se a revista Veja fosse inglesa?

O que aconteceria se a revista Veja fosse inglesa?Foto: Parbul TV/REUTERS_Divulgação

Na Inglaterra, um escândalo semelhante, mas menos grave do que o esquema Cachoeira-Veja, já provocou prisões, o fechamento de um jornal, demissões e até a renúncia de James Murdoch, filho do maior magnata da mídia global; no Brasil, há um pacto de silêncio em torno de Roberto Civita

247 – Em julho do ano passado, a Inglaterra foi palco de um dos maiores escândalos de mídia em todos os tempos, quando se descobriu que um jornal do magnata australiano Rupert Murdoch, o News of the World, mantinha um esquema de pagamento de propinas a membros da Scotland Yard para ter acesso exclusivo a grampos telefônicos e investigações policiais. Desta maneira, o tabloide publicava furos de reportagem relacionados a celebridades e membros da família real, além de pessoas comuns. Até vítimas do ataque terrorista a uma estação de metrô tiveram suas ligações interceptadas por jornalistas do News of the World, com a conivência dos policiais.

O escândalo provocou consequências drásticas tanto na mídia como na área pública. Rupert Murdoch fechou o jornal, publicou um anúncio de página inteira pedindo desculpas pela postura antiética e se viu forçado a demitir vários executivos. Três dias atrás, seu filho, James Murdoch, também renunciou ao cargo de presidente da BSkyB, um dos principais grupos de mídia da Inglaterra, para não prejudicar as investigações. E o premiê David Cameron também demitiu autoridades da área de segurança pública. Em função do escândalo, Murdoch hoje responde a processos tanto nos Estados Unidos como no Reino Unido.

Do lado de baixo da linha do Equador, a revista Veja protagoniza um escândalo que guarda semelhanças com o do News of the World, mas é mais grave. Na Inglaterra, a aliança do veículo de comunicação se dava com policiais. No Brasil, o pacto se deu com um dos maiores contraventores do País, o bicheiro Carlos Cachoeira, que pretendia legalizar o jogo em todo o País. Nesta parceria, que durou mais de uma década, Veja publicou diversos “furos” de reportagem fornecidos pelo bicheiro. Num grampo, Cachoeira chegou a se jactar de, através de Veja, ter derrubado vários corruptos. “Tudo via Policarpo”, disse ele, referindo-se ao jornalista Policarpo Júnior, diretor da sucursal brasiliense da revista Veja. E ambos trocaram várias ligações telefônicas, captadas pela Operação Monte Carlo (leia mais aqui).

Com as informações já disponíveis, surgem indícios cada vez mais consistentes de que Cachoeira produziu diversos vídeos ilegais utilizados pela revista Veja. O mais recente seria o do Hotel Naoum, em Brasília, onde o ex-ministro José Dirceu se encontrou com o ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, e com o ex-presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli. As imagens realizadas, segundo o inquérito policial, não eram do circuito interno do hotel, mas sim de equipamentos de espionagem privados.