quinta-feira, 7 de junho de 2012

Serra com PR: a coerência vendida por 1min30s


Josias de Souza

Dia 5 de julho de 2011. PSDB e DEM protocolam na Procuradoria-Geral da República um pedido de investigação das denúncias de corrupção no Ministério dos Transportes. Entre os alvos, as legendas mencionam o então ministro Alfredo Nascimento, o diretor afastado do Dnit Luiz Antonio Pagot e o deputado federal Valdemar Costa Neto. Todos do PR.

Dia 4 de junho de 2012. Passados onze meses, José Serra, candidato do PSDB a prefeito de São Paulo apoiado pelo DEM, recepciona o PR em sua coligação. Coisa negociada por Valdemar Costa Neto e formalizada na presença de Alfredo Nascimento. Tudo isso menos de 48 horas depois da veiculação de entrevistas em que Luiz Antonio Pagot acusou Serra de fazer caixa dois com verbas da obra do Rodoanel.

Antes de associar-se a Serra, o PR negociara com Fernando Haddad, o candidato de Lula à prefeitura paulistana. A legenda bandeou-se da caravana do PT para a do PSDB porque Dilma Rousseff negou-se a devolver à tribo dos peérres o comando do Ministério dos Transportes. Aquela pasta que tucanos e ‘demos’ exigiam que fosse varejada pela Procuradoria.

Quem compara as duas cenas –a de julho de 2011 e a de junho de 2012— percebe que, a lógica que guia as decisões políticas tem cara de lógica, penas de lógica, rabo de lógica, trinado de lógica, mas é oportunismo puro. Instado a comentar o ilógico, Serra construiu uma lógica própria. Disse que faz aliança “com partidos, não com pessoas.” Os aliados, disse ele, ajustam-se ao seu “estilo de governar.”
Não causa incômodo ao candidato tucano nem mesmo o fato de Valdemar Costa Neto, mandachuva do PR-SP e arquiteto da aliança, ser um dos réus da ação penal do mensalão. “Se for proibido para partidos que têm pessoas que estão no processo, o PT não poderia nem disputar eleição, porque ele que coordenou e que comandou a organização desse chamado mensalão”, deu de ombros Serra.

A adesão do PR renderá a Serra algo como 1min30s de tempo de televisão. No balcão das transações eleitorais, é esse o preço do tucanato: um minuto e 30 segundos de propaganda eleitoral. Um detalhe injeta comédia na tragédia: chama-se Demóstenes Torres um dos subscritores da petição em que a oposição pediu à Procuradoria que vasculhasse os negócios do PR nos Transportes. Nessa época, o senador era um respeitável líder do DEM.

Agora, fica entendido o seguinte: se a honestidade é um Demóstenes que ainda não recebeu um telefone Nextel do Cachoeira, a coerência é um tucano que ainda não descobriu os encantos do Valdemar.

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