DAVIS SENA FILHO
'Na
questão energética, o PSDB demonstrou novamente que cuida dos interesses dos
ricos, dos que podem mais, e ratificou sua vocação elitista'
O PSDB é o partido político
brasileiro que governou o Brasil por quase uma década, nos anos 1990 até o
início dos anos 2000. O símbolo do PSDB é o tucano, ave bonita,
brasileiríssima, de bico grande e longo, porém, voo curto. Em termos
partidários e ideológicos, os adeptos de tal agremiação dominada pelos
paulistas e com um apêndice em Minas Gerais têm pensamentos curtos.
Seu líder político, o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso, ao que parece, está muito aborrecido, tanto é
verdade que no recente encontro dos tucanos ele reclamou e fez críticas duras
ao PSDB, às suas lideranças e aos filiados, a exigir que o partido responsável
pela implementação do modelo neoliberal na economia “ouvisse as ruas”, que se
“aproximasse do povo”, para sentir melhor seus desejos e sonhos. Será que é
isso?
Contudo, sabemos que o PSDB é um
partido que quando esteve no poder não governou para o povo e muito menos se
preocupou, no que diz respeito às questões programáticas, em criar
oportunidades para as camadas sociais economicamente mais pobres da população,
que são compostas por dezenas de milhões de pessoas, sem esperança de na era
tucana melhorar minimamente de vida, por ser o modelo econômico neoliberal
excludente.
Um modelo de espoliação e exploração
que não permitiu que houvesse condições para que a maioria dos brasileiros
tivesse acesso ao emprego e quanto mais ter oportunidade de frequentar, por
exemplo, uma universidade pública, viajar de avião ou se tornar um consumidor,
que, tal qual à parte conservadora da classe média reacionária e ressentida,
coopera também para girar a roda da economia.
Nada disso foi possível, afinal
éramos governados pelo PSDB, que tinha ainda ao seu lado o pior partido do
mundo — o DEM —, a fina flor do atraso e, indubitavelmente, o verdadeiro herdeiro
histórico da escravidão, além de um dos mentores do golpe militar de 1964
quando se vestia com a pele da UDN, e, posteriormente, passou a usar o capuz da
Arena, o partido que dava sustentação à ditadura e que acobertava as torturas e
mortes em seus porões. E foi com essa gente pertencente à direita política e
empresarial que homens oriundos do campo democrático, a exemplo de FHC,
misturaram-se, e hoje não passam de um arremedo de seus passados.
Por seu turno, FHC — o Neoliberal —
ainda como senador, em sua despedida do Senado, pronunciou discurso em que
decretava o fim da era Vargas, porque, de acordo com ele, no mundo moderno não
cabia mais o papel do estado intervencionista. A verdade é que o discurso do
presidente tucano foi uma senha e um aviso sobre o ele faria em seu governo:
diminuir o estado nacional com a venda de dezenas de estatais, algumas
históricas e simbólicas do desenvolvimento do Brasil, bem como favorecer grupos
econômicos nacionais e estrangeiros, no que é relativo à autorregulação da
economia, o que foi comprovadamente um fracasso retumbante do
neoliberalismo, como bem demonstrou, inapelavelmente, a crise internacional de
2008, que até hoje perdura e acarreta o sofrimento de diversos povos europeus.
Entretanto, com o tempo,
principalmente na América Latina, políticos de centro-esquerda e de esquerda
foram sucessivamente eleitos pelos seus povos, que deram fim à continuação do
que chamam de políticas neoliberais. E não é necessário explicar o porquê desses
acontecimentos. Todavia, percebemos que mesmo assim os porta-vozes desse modelo
perverso, que favorece apenas uma classe de privilegiados composta por uma
minoria radical, barulhenta e de direita continuam a defender e a pregar o
indefensável, o insensato e o que é injusto. Porém, eles possuem as ferramentas
e os instrumentos necessários para repercutir suas manipulações, distorções e
mentiras, por intermédio da imprensa alienígena, de oposição e,
concomitantemente, de negócios privados.
Eis
que os tucanos de Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Goiás, além de Santa
Catarina, cujo governador é do PSD, mas aliado desde sempre do PSDB e do DEM,
resolvem transformar a proposta do Governo Federal para baixar os custos e os
preços de energia, da luz, em uma luta política e eleitoreira. De forma
premeditada e ordenada, os governadores tucanos, nas pessoas de Geraldo
Alckmin, Antonio Anastasia , Beto Richa,
Marconi Perillo e Raimundo Colombo, a ter como porta-voz midiático o já
pré-candidato àPresidência da República, o senador tucano Aécio Neves, resolvem
boicotar, juntamente com os jornalistas “especialistas” em economia, a exemplo
de Carlos Alberto Sardenberg e Míriam Leitão, a diminuição dos preços das
tarifas de um setor estratégico e essencial para o dia a dia da população
brasileira e, fundamental, para o fortalecimento e desenvolvimento da indústria
e de tudo que deriva dela.
É
a luta para baixar o famoso “custo Brasil”, jargão este que durante décadas
saiu da boca de gente como o Sardenberg e a Míriam Leitão, que replicavam, na
verdade, as queixas do grande empresariado da Fiesp e da Firjan, que hoje
apoiam o plano de Dilma Rousseff para baratear a energia. Eis que de repente,
não mais do que de repente, a imprensa comercial e privada (privada nos dois
sentidos, tá?) une-se novamente aos políticos do PSDB e mais uma vez se voltam
contra uma ação do Governo, que, entre outras coisas, quer reduzir o preço da
luz em 20%, o que não será mais possível, porque com o boicote desavergonhado
da oposição (PSDB e barões da imprensa) somente será possível reduzir as
tarifas de energia em 17%. É mole ou quer mais, caro leitor?
Os
arautos da imprensa transformam o ódio liberal em uma guerra que visa,
sobremaneira, sabotar as ações do governo que têm por finalidade reduzir em
1,5%, em 2013, a inflação medida pelo IPCA. O ministro da Fazenda, Guido
Mantega, informou que a meta inflacionária de 4,5% ao ano poderá ser cumprida,
com a queda do preço da energia. Além disso, salutar se torna lembrar que a
política de redução de juros (taxa Selic) continuará a ser efetivada.
Mantega disse esperar que os juros
caem para 7% ao ano, em uma busca de torná-los civilizados, e,
consequentemente, o Brasil deixar de ser um paraíso para os jogadores do
mercado financeiro e para os rentistas, que passaram décadas a se locupletar
com os juros altíssimos, os maiores do mundo, com a irrestrita cumplicidade de
um sistema midiático privado que trata um País da grandeza econômica e
populacional como o é o Brasil como quintal da casa deles. São os barões da
imprensa, inquilinos da Casa Grande.
Só que esse tempo passou, e tal qual
à “Carolina”, da música de Chico Buarque, em que “o tempo passou na janela e só
Carolina não viu”, esses empresários continuam a se conduzir contra os
interesses do Brasil e a favor de seu mundo VIP, provinciano, colonizado e
alicerçado em preconceito de classe disfarçado nos meios de comunicação e ao
tempo que à mostra quando os áulicos do Instituto Millenium abrem suas bocas e
defendem um mundo e um País para poucos privilegiados, ou seja, eles mesmos.
São os que se consideram
“bem-nascidos”, os rentistas, os acionistas da Cemig (MG), da Cesp (SP), da
Copel (PR), da Celesc (SC) que tiveram a adesão da Celg, de Goiás, estado
governado pelo também tucano Marconi Perillo, além de terem direito a um
discurso do senador Aécio Neves no Senado, que defendeu o indefensável e o
injustificável, que é a rejeição a um plano que barateia as tarifas de energia
para a população, bem como para os capitães da indústria, que empregam milhares
de trabalhadores brasileiros. A mesma imprensa e partidos de direita que
passaram anos, cinicamente e hipocritamente, a falar de desindustrialização em
jornais de péssima qualidade editorial, como os da Globo News, porque sectários e desonestos intelectualmente e
que hoje sabotam um plano para melhorar as condições de vida da sociedade. Eles
realmente não são sérios.
O PSDB demonstrou novamente que
cuida dos interesses dos ricos, dos que podem mais, e ratificou sua vocação
elitista. Agora, a pergunta que não quer calar: “quais serão as explicações ou
desculpas dos tucanos sobre as tarifas de energia quando realizarem, em 2014,
suas campanhas para os governos dos estados e para a Presidência da República?”
Com a resposta os colunistas e os comentaristas que militam na mídia
corporativa de fins somente lucrativos. Aqueles mesmos que tecem um monte de
asneiras conforme o interesse de momento de seus patrões. Afinal, eles
“lutaram” como “mártires” preocupados que estavam com a desindustrialização e o
“custo” Brasil. Não é isso mesmo, caro leitor? Seriam cômicas se não fossem
trágicas tantas incongruências e contradições.
Fernando
Henrique — o Neoliberal — afirmou, zangado: “Não só o PSDB, mas todos os
partidos precisam se aproximar mais da população”. E completou: “O PSDB
precisa, a partir de agora, escutar o povo, saber o que querem as mulheres, a
juventude, os grupos marginalizados, os negros e mulatos. É preciso nos basear
muito nos que têm mais energia, nos excluídos. Olhar com muita visão uma nova
agenda. Temos de descobrir para onde vai o mundo" — afirmou o
ex-presidente logo após lançar Aécio Neves candidato a presidente da República.
Típico
discurso que não deixa dúvida o quanto o PSDB é elitista, e o quanto o partido
não sabe para onde vai e o quê é o mundo real, porque a maioria de seus
integrantes que tem mandato vive em um mundo paralelo, que se reflete e se
concretiza nos salões de uma plutocracia que não tem olhos para a maioria da
sociedade e assim ratificar a sua vocação elitista e fundamentada na luta pela
perpetuação de uma sociedade estratificada e voltada para os interesses das
grandes corporações privadas.
Não
se engane. FHC pode até falar dessa forma em uma reunião de seu partido. Mas,
não pensa dessa maneira. Ele é tucano, e os tucanos abandonaram até seu passado
político quando alguns deles enfrentaram a ditadura militar. A opção do
"esquecimento" pertence a eles. É o livre arbítrio, que, todavia, tem
preço e, portanto, cobrança. E as contas se traduzem nas três derrotas para o
PT, sendo que a quarta, de caráter muito simbólico, aconteceu agora em São
Paulo, com a vitória de Fernando Haddad.
A grande imprensa privada tem voz? Tem. Tem poder?
Tem. Influi como antes? Não. Nem o “mensalão”, que ainda está para se provar,
não influenciou nas eleições. O Sardenberg pode falar o que quiser. Ele é homem
dos banqueiros. Só isso basta. Portanto, não adianta o FHC falar em povo se o
Aécio Neves, os quatro governadores tucanos e um aliado do PSD sabotam a conta
da luz. O PSDB acaba de realizar seu segundo apagão. O primeiro ocorreu no
período entre julho de 2001 a setembro de 2002. Os tucanos são um caso perdido.
É isso aí.
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