Ex-diretor da Abril Paulo
Nogueira dá sua visão sobre o assunto em artigo: "perdemos mais que
lucramos" ao descobrir verdadeiramente o que é, nesse ano que passou, o
Supremo Tribunal Federal. Jornalista diz que pesquisa do Ibope não surpreende e
que "o Supremo é um embaraço para o Brasil"
247 - Em artigo publicado no blog Diário do Centro do Mundo,
o ex-diretor da Abril Paulo Nogueira responde por que metade dos
brasileiros não confia no Supremo Tribunal Federal.Levantamento do Ibope divulgado na segunda-feira 24 conclui
que a população confia mais na corte do que no Congresso Nacional. No entanto,
o tribunal tem confiança de 54% da população, ou seja, pouco mais da metade do
País.
Para o jornalista, o resultado da
pesquisa não surpreende. Podia ser diferente?, questiona. Segundo
ele, "perdemos mais que lucramos" ao descobrir verdadeiramente o
que é, nesse ano que passou, o STF, que ganhou holofotes ao ter transmitido ao
vivo, pela TV Justiça, o julgamento do chamado 'mensalão'. A conclusão de Paulo
Nogueira é que "o Supremo é um embaraço para o Brasil".
Leia abaixo seu artigo:
Por
que metade dos brasileiros não confia no STF
O
julgamento do Mensalão colocou o Supremo nos holofotes. E o que vimos foi
desanimador
Os brasileiros tiveram um curso intensivo
de Supremo em 2012.
Seus integrantes foram alçados a um
estrelato inédito pela cobertura dada ao julgamento do Mensalão. Fomos
bombardeados com informações sobre o STF, e tivemos que aprender coisas como
"teoria do domínio do fato" e "dosimetria".
Éramos, até 2012, especialistas em
futebol e em economia. Passamos a dominar também o direito: há, em cada um de
nós, um juiz.
Perdemos mais que lucramos, no terreno
das esperanças, ao descobrir o que é, verdadeiramente, o Supremo. Se já não
tínhamos, justificadamente, confiança nos políticos, passamos também a
desconfiar dos nossos máximos magistrados.
Não surpreende uma pesquisa recém-saída
do Ibope que apontou que metade dos brasileiros não confia no Supremo.
Podia ser diferente?
Não vou entrar no mérito das decisões no
julgamento. Fico no terreno das informações objetivas.
Soubemos que Joaquim Barbosa foi
escolhido por Lula por ser negro. Soubemos também que ele se insinuou a Frei
Betto, num encontro casual em Brasília, para fazer lobby por si mesmo.
Descobrimos que é sempre assim, aliás. Os juízes rastejam pelo cargo. Imagino
que os melhores entre eles – pelo menos do ponto de vista moral – recusem
manobras subterrâneas em que há muito mais de baixa política do que de alto
conhecimento.
E então sobram os que ficaram expostos
aos brasileiros em 2012.
Luiz Fux, ainda mais que JB, é o símbolo
maior disso. Num acesso confessional difícil de entender à luz da razão, uma
vez que ele se autodesmoralizou pela eternidade, Fux contou a uma jornalista da
Folha sua peregrinação pelo cargo. Não omitiu sequer o detalhe patético do
choro ao receber a boa notícia.
Reconheceu que procurou José Dirceu mesmo
sabendo que teria que julgá-lo, num conflito de interesse sinistro. Um
candidato ao Supremo batendo súplice à porta do mensaleiro-mor, que ele logo
definiria como "chefe de quadrilha"? Todas as acusações contra Dirceu
já eram de amplo conhecimento público. Mesmo assim, Fux foi atrás dele.
Agora, o ministro Gilberto de Carvalho
acrescenta mais um dado à biografia não exatamente inspiradora de Fux. Carvalho
disse na tevê ao jornalista Kennedy Alencar que, em sua campanha pela vaga, Fux
garantiu que absolveria os acusados por não haver provas. Segundo Carvalho, Fux
afirmou que estudara bem o caso.
Se sua indicação derivou disso, não é,
evidentemente, um momento glorioso para a administração que o nomeou. Seria
aquele caso clássico que Tancredo Neves definia como uma esperteza tão grande
que come o esperto.
Mas é ainda pior para Fux.
O perfil de personalidade que emerge das
informações sobre ele mostram um caráter frágil, titubeante, vaidoso, um homem
cuja ambição leva a atos que, à luz do sol, provocariam engulhos.
O Supremo é um embaraço para o Brasil.
Não dá para fugir desse veredito doído, ainda que você concorde com as punições
e considere que o PT pagou o justo preço por ter feito coisas que não deveria,
já que uma de suas bandeiras era elevar a ética na política.
Como transformar o STF numa instituição
respeitável, e acreditada pelos brasileiros, é uma das tarefas mais espinhosas
para o futuro do país. Para citar a grande frase de Wellington, quem acredita
que esse trabalho será feito por homens como JB e Fux acredita em tudo.
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