DAVIS SENA FILHO
Eu me formei em meados da década de 1980 em Comunicação Social, no curso de Jornalismo. Estudei na Escola de Comunicação (ECO) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Assistia às aulas no Campus da Urca, bairro de classe média alta onde se localizam o Pão de Açúcar e o Forte de São João. Um paraíso, com praias e mata atlântica e animais silvestres de pequenos portes. Entretanto, uma realidade me chamava atenção. Dos cerca de 250 alunos, apenas dois eram negros. Um homem e uma mulher, porém, filhos da classe média.
No período que cursei a faculdade conheci gente endinheirada, de classe média e média alta e até remediada — esta última era minoria. Filhos ou parentes de grandes empresários ou de pessoas famosas também frequentavam os bancos universitários da ECO. Os professores, muitos deles, eram conhecidos no meio acadêmico, cultural, político e até artístico. Poder-se-ia dizer que era a "elite" da "elite", como gostam de falar as fuinhas sobre FHC e José Serra, que escrevem suas opiniões nos grandes jornais e revistas e vivem a tecer seus comentários nas rádios e nas televisões do empresariado proprietário dos meios de comunicação de negócios privados.
Fuinhas predadoras que gostam do sabor e do cheiro de sangue daqueles que não foram cooptados pelo establishment e muito menos se tornaram cúmplices ou aliados de seus patrões, que são os porta-vozes dos trustes nacionais e internacionais e por isso fazem um jornalismo de combate sistemático aos governos trabalhistas, bem como criam crises intermináveis como forma de minar o trabalho de reconstrução do Brasil que está a ser feito, além de tomarem para si o papel que deveria ser efetivado pela oposição partidária (PSDB, DEM e PPS), que, incompetente e fracassada, abriu mão de seu espaço político e ficou à mercê de pautas elaboradas por jornalistas e empresários que, sabidamente, não compreendem a revolução silenciosa que aconteceu no Brasil, em todos os sentidos, a partir de 2003.
Aliás, quando o povo resolveu votar no líder trabalhista Lula, o próprio deu início à revolução, sem sequer dar um tiro naqueles que durante séculos lhe negaram até o acesso à segurança alimentar, porque no Brasil sectário, ou seja, edificado para poucos, construído pelas "elites" brasileiras proprietárias dos meios de produção não havia emprego para os trabalhadores deste poderoso País da América do Sul, na verdade até então um paraíso para que os ricos e os muito ricos ganhassem muito dinheiro, especialmente por intermédio da recessão e do arrocho salarial, porque a grana dessa gente era praticamente oriunda da especulação. Por isso e por causa disso, a gritaria da imprensa golpista contra a diminuição das taxas de juros e, principalmente, contra o ministro da Economia, o trabalhista Guido Mantega, que tem apostado na produção e não na jogatina do mercado. Ponto.
Quando Lula paga a dívida externa e fomenta a economia interna, como trabalhista que é, volta-se à educação, por saber que com o crescimento exponencial do comércio, da indústria e do consumo seria necessário construir escolas técnicas, universidades, cursos de extensão, aumentar o orçamento para a educação, e, sobretudo, democratizar o ensino público, especialmente no que tange às oportunidades para que os filhos de pobres pudessem entrar nas universidades federais, até então clubes privados para as classes sociais hegemônicas, que se beneficiaram durante décadas com os vestibulares, os cursinhos e com os anos estudados em escolas primárias e secundárias privadas, consideradas de ponta por causa de excelência do ensino oferecido.
Um sistema viciado, porque privilegiava aqueles que podiam pagar estudos para seus filhos em detrimento dos filhos de trabalhadores, que, se quisessem estudar, teriam de trabalhar de dia e frequentar a faculdade particular à noite. Esta é a realidade e a verdade. Todavia, considero que os ricos ou os muito ricos tenham também o direito de frequentar os bancos universitários financiados pelo estado nacional, porém, totalmente inapropriado e superado o sistema antigo de acesso à universidade pública, no qual negros, índios, pobres e deficientes simplesmente não tinham a oportunidade de sonhar com uma vaga, por exemplo, na UFRJ ou na UnB, quanto mais ocupá-la.
Portanto, é por causa dessas questões que o sistema midiático de caráter hegemônico e que se recusa, terminantemente, a pensar o Brasil tem tanto ódio de Lula. Seus porta-vozes, verdadeiras fuinhas "mauricinhas" não se conformam e sabotam e boicotam o quanto possível qualquer programa ou projeto de governo que vise desenvolver a economia do País e principalmente diminuir as diferenças entre as classes sociais, bem como as regionais. Realidades que estão a acontecer, sendo que o maior sintoma é a diminuição da migração interna. Para se certificar, basta acessar os números do IBGE, da FGV e dos ministérios do Planejamento e da Fazenda e consequentemente verificar que o brasileiro está vivenciando um ciclo formidável, que, inclusive, colocou o Brasil na sexta posição das nações mais ricas e poderosas do mundo.
Durante o período de FHC — o Neoliberal —, o Brasil saiu da nona posição para a 15ª. Um disparate e desfaçatez. Irresponsabilidade e inconsequência. Nem emprego o País tinha para oferecer ao povo brasileiro. FHC vendeu o Brasil e não investiu na população e muito menos na infraestrutura. O salário mínimo era ridículo (ainda é baixo, mas teve aumentos substanciais, porque virou política de estado), os funcionários públicos ficaram oito anos sem aumento, não havia concurso público, os salários dos trabalhadores foram achatados, porque não havia o ganho real e nem reposição, as reservas internacionais chegaram a patamares perigosos, enquanto o ex-presidente Lula quando saiu do poder deixou o Brasil com reservas de quase US$ 350 bilhões de dólares. A verdade é que o Brasil de devedor passou a emprestar dinheiro para o FMI cujos técnicos nunca mais vieram ao País na condição de fiscais que davam sermões e ordens.
FHC não construiu uma única escola técnica e abandonou as universidades públicas, pois, além de não construir também uma sequer, gente de seu governo privatista ainda propôs que os alunos pagassem mensalidades para frequentá-las, o que iria, sobremaneira, elitizá-las ainda mais do que já eram. A ironia é que FHC — o Neoliberal — é professor vinculado à academia, e como gestor também foi um fracasso nessa área. Lula construiu 214 escolas técnicas, número maior do que todos os presidentes do Brasil juntos, no que diz respeito à construção dessas escolas. O político trabalhista e do PT ainda construiu dez novas universidades federais e 45 extensões universitárias.
Incomparáveis os números de Lula com os de FHC, mas mesmo assim, por causa de preconceito, intolerância e ideologia, a imprensa, setores conservadores da sociedade e parte da classe média abduzida pelos valores e princípios das classes dominantes se recusam a reconhecer, quiçá perceber que o Governo Lula, por intermédio do Enem, do Sisu, do Fies, do ProUni e do aumento do orçamento para a Educação propiciou o acesso dos estudantes ao ensino público universitário, porque para o sistema de universidades e de escolas técnicas abrir suas portas para os brasileiros filhos de famílias de baixa renda seria necessário essa revolução, que se sedimenta aos poucos, paulatinamente, porque se atende muita gente, o que é sempre um complicador. Em 2012, por exemplo, quase 5,8 milhões de estudantes se inscreveram no Enem.
Esse sistema é grandioso, mas é sabotado pela imprensa alienígena, por alguns promotores, principalmente os do Ceará, e por criminosos, a exemplo daquele que furtou provas na gráfica da Folha de S. Paulo, sendo que, de forma surreal, tal furto virou manchete do próprio jornal. Posteriormente, o diário de direita foi punido pela Justiça e pagou multa alta. É o modus operandi de os conservadores fazerem oposição, de forma ilegal, porque o que importa não são os meios e, sim, os fins, afinal 2014 se aproxima e para essa direita herdeira dos escravos ficar mais quatro anos sem ocupar a cadeira da Presidência da República é como ficar sem respirar, pois compreende que o estado nacional longe de suas mãos não vai poder beneficiá-la de maneira patrimonialista e, por conseguinte, privilegiar seus negócios mesmo se o preço for a exclusão social.
Por isso, na época, o presidente Lula, a chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff, o ministro da Educação e hoje prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega — hoje alvo preferencial da direita brasileira e estrangeira por causa de o PAC ser considerado investimento (e o é), da redução dos juros e do controle e fiscalização das remessas de lucros oriundas das jogatinas do mercado — aperfeiçoaram esse sistema que tem por finalidade fazer com que a educação pública recupere a credibilidade e a qualidade, bem como abra as portas para todos os estudantes brasileiros que queiram estudar e edificar uma vida digna e livre de preconceitos infames, muitas vezes demonstrados por gente "branquinha" de "olhos azuis" e que se considera superior, porque acha, talvez, que foi escolhida por Deus e por isso merece tratamento privilegiado e acima do que determina a Constituição e a cidadania.
A verdade é que as fuinhas da imprensa, seus patrões e a direita em geral, inclusive os setores conservadores do Ministério Público, do STJ e do STF sabem que o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma têm alta popularidade, e um dos motivos é que o Enem, o Sisu, o ProUni e o Fies são as razões desse apreço que se transforma em milhões de votos para os trabalhistas, que há dez anos estão no poder e têm muita chance de conquistar mais um mandato presidencial em 2014. Esta é a razão do ódio político, racial e de classe social da direita brasileira, que nunca deu nada para o povo, porque somente soube tirar quando esteve no poder.
Os números do Enem e do Sisu de 2013 são grandiosos e inquestionáveis para o desgosto e o inconformismo ressentido dos tucanos, que estão a cortar os pulsos e da imprensa de mercado, alienígena e que odeia o Brasil. Observe os números: 101 instituições participantes; 3.751 cursos ofertados; 129.279 vagas ofertadas no Brasil; 8.296 vagas ofertadas no Ceará (estado onde o Ministério Público e a Justiça mais sabotam o Enem); 6.258 vagas ofertadas na UFC; 5,79 milhões de inscritos do Enem de 2012; e 4,175 milhões de candidatos compareceram ao de 2012.
Quer saber de uma coisa, leitor? Não está longe o dia que o sistema midiático privado de caráter golpista vai aderir ao Enem. E sabe por quê? Porque são quase seis milhões de inscritos, números que vão aumentar ano a ano. E a Globo e sua patota vão ter que pedir arrego, porque não vai ser bom para seus negócios falarem mal de um processo educacional que beneficia milhões de cidadãos, sendo que grande parte dessas pessoas é de origem simples, de baixa renda. As Organizações(?) Globo e sua trupe não vão querer perder leitores, telespectadores e principalmente consumidores. Essa gente é perversa, mas não é burra.
O Enem é um sucesso. O ódio dos conservadores ao Enem tem origem na exclusão social, no sentimento arraigado da escravidão, no elevador de serviço, no quartinho da empregada doméstica e no serviçal que limpa as ruas, os escritórios, as residências e os lares. Por isso e por causa disso, a luta incessante e violenta dos que têm muito e querem manter as coisas como estão, a ferro e fogo. É o apreço exacerbado pelo status quo; a tirania dos aquinhoados de um mundo VIP, ou seja, para poucos. Mas, não importa, porque essa gente se combate com trabalho e esperança de termos um Brasil melhor. É isso aí.
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