Renato Rovai, Revista Fórum /
Blog do Rovai
“Em breve você vai participar de um encontro de família no final de semana e o papo vai começar pela última convocação do Felipão, vai passar pela porcaria do Big Brother e em algum momento vai chegar no desgaste da relação entre Lula e Dilma. Quando isso acontecer, aquele parente ou amigo reaça da família não vai ter dúvida em dizer: “Tá vendo, nem a Dilma aguenta mais o Lula”. Ao que um outro ainda mais politizado pelo PIG acrescentará: “Mas quem aguenta o PT e o Lula? Só o fulano mesmo..”. E vai apontar, morrendo de rir, pra você. Que terá o direito de ficar calado ou então o de ser chamado de encrenqueiro. Afinal, nesses casos, ser bem educado é fazer de conta que o melhor para o Brasil é ser o que era nos tempos de FHC.
Os próximos capítulos da novela piguiana que se iniciou quando LUla ganhou as eleições em 2002 certamamente tratarão dessa questão. É algo pouco criativo, mas que ao menos segura uma parte da audiência. Principalmente aquela que se diverte muito xingando o petismo. E que se divertia muito xingando os comunistas que queriam acabar com a “democracia” brasileira nos tempos da ditadura militar. Tive um amigo que adorava dizer, mudam-se as moscas…
Mas voltando a novela que começou a entrar em cartaz, Dilma está perdendo a paciência com Lula. Afinal, ela teria recebido um país quebrado e está tentando colocar as coisas nos trilhos, mas o sujeito e o PT não lhe dão paz. Por isso, decidiu organizar o seu grupo. Claro, para parecer verdadeira a história precisa de detalhes. Mas quem seria o grupo de Dilma? Aqui e ali já começam a aparecer os nomes dos atores: Gleise, Fernando Pimentel, Tarso Genro, Zé Eduardo Cardoso (que o Lula odeia) e Marta (que estaria muito puta com o Lula por conta do passa moleque da eleição paulistana).
Como o amigo pode ver a história vai ganhando sentido. E aí começam a surgir reuniões fechadas, com informações em off, revelando que um teria falado mal do outro. Que um estaria puto com o outro. E na sequência, boatos de demissão no governo por conta disso. E aí, claro, este enredo acabará desembocando numa reforma ministerial. E as especulações serão sobre quem está ganhando força no governo: a turma da Dilma ou o grupo do Lula.
Ficou fácil fazer jornalismo político hoje em dia. Basta você ir escrevendo colaborativamente a novela da vez com outros colegas dos veículos comerciais. Sem necessidade de fontes que sustentem a história. E sem se preocupar com a possibilidade de que nada daquilo venha a se confirmar. Afinal, o seu compromisso não é com a verdade factual, mas com o interesse do veículo.
Para os donos da mídia, a boa historia da vez é a de que Dilma e Lula estão se distanciando. E é isso o que interessa.
O fato é que isso não existe. Lula ficou doente e está voltando a fazer o que gosta: política.
Dilma só tem a ganhar com isso. Com ele no jogo, a oposição e os que estavam pensando em pular fora do barco do governo, vão pensar duas vezes.
Dilma e Lula hoje não disputam o mesmo espaço. Só um idiota ou mal intencionado pode fazer uma narrativa apostando nisso.
A conta deles é de mais. Não de dividir. Se um ganha algo o outro ganha também.
Há
diferença entre eles. Há quem ache um melhor do que o outro. Mas isso não chega
a ser nem ao menos um detalhe. O projeto político deles está sacramentado para
os próximos muitos anos.
Mas
isso não será suficiente para ouvir relatos diferentes no almoço da família.
Até porque a mídia tradicional já decidiu que não é assim.”
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