Em artigo intitulado "A gente
não quer só comida", ministra defende benefício para quem ganha até cinco
salários mínimos (R$ 3.390): "além de comer, poderão alimentar o
espírito"
247 – Em campanha defender o
benefício do vale-cultura que criou, a ministra Marta Suplicy rebateu as
críticas da Folha de São Paulo em artigo para a publicação: "além de
comer, poderão alimentar o espírito". Leia:
"A
gente não quer só comida"
O Vale-Cultura pode, sim, ser o
"alimento da alma". Por que não? Pela primeira vez o trabalhador terá
um dinheiro para o consumo cultural
A Folha publicou editorial
("Vale-populismo", 10/1) crítico do Vale-Cultura (VC). Chama de
"populismo" e promoção pessoal e eleitoreira projeto de lei que
buscava aprovação desde 2009. Com a regulamentação do VC, empresas poderão
passar R$ 50 a seus funcionários que recebam prioritariamente até cinco
salários mínimos (R$ 3.390) para gastarem em cultura.
O Brasil nos últimos anos, com Lula e
agora Dilma, tem dado passos gigantescos para acabar com a miséria. Não preciso
citar os números dos que hoje comem nem dos que hoje entraram na classe média.
O Bolsa Família, trucidado pela oposição, hoje é comprovadamente um instrumento
de erradicação da pobreza.
O Vale-Cultura pode, sim, ser o
"alimento da alma". Por que não? Pela primeira vez o trabalhador terá
um dinheiro que poderá gastar no consumo cultural: sejam livros, cinema, DVDs,
teatro, museus, shows, revistas...
Lembro que, quando fizemos os CEUs
(Centro Educacional Unificado), na pesquisa (2004) realizada no primeiro deles,
na zona leste, 100% dos entrevistados nunca tinham entrado num teatro e 86%,
num cinema. Quando Denise Stoklos fez seu espetáculo de mímica, a plateia se
remexia inquieta até entender a linguagem e não se ouvir uma mosca no teatro,
fascinado.
Fomento ao teatro, aquisição de
conhecimento e bagagem cultural! Não foi à toa que Fernanda Montenegro ficou
pasma com a plateia dos CEUs. Essas pessoas, se tiverem criado gosto,
finalmente poderão usufruir e escolher mais do que hoje podem.
E os que não têm CEU têm televisão e
conhecem o que é oferecido para determinado público. Sabem também o que aparece
no bairro. E sabem que não podem ir.
Existe toda uma multidão de brasileiros
(17 milhões) que hoje ganha até cinco salários mínimos (R$ 3.390) que
potencialmente poderão, além de comer, alimentar o espírito. Este é um projeto
de lei que toca duas pontas: o cidadão que vai consumir e o produtor cultural
que terá mais público para sua oferta.
Quando chegarmos nesse potencial,
serão R$ 7 bilhões injetados na cultura. Nossa previsão é atingir R$ 500
milhões neste ano.
Em 2008, o Ibope realizou pesquisa
sobre indicadores de cultura no Brasil e mostrou que a grande maioria da
população está alijada do consumo dos produtos culturais: 87% não frequentavam
cinemas, 92% nunca foram a um museu; 90% dos municípios do país não tinham sala
de cinema e 78% nunca assistiram a um espetáculo de dança.
Segundo a Folha, estaremos
incentivando blockbusters e livros de autoajuda. Visão elitista. Cada um tem
direito de consumir o que lhe agrada. Não esqueço quando, visitando um
telecentro, fiquei indignada que a maioria dos jovens estava nos chats de um
reality show. Fui advertida pela gestora: "Esse é um instrumento que eles
estão aprendendo a usar. Depois, poderão voar para outros interesses. Ou
não".
Não custa lembrar que a fome pelo
acesso à cultura é enorme, o que ficou evidente nas filas quilométricas na
mostra sobre impressionistas quando apresentada gratuitamente pelo Banco do
Brasil.
O que a Folha também menosprezou é a
enorme alavanca que o VC pode representar e desencadear na economia. A cadeia
produtiva da cultura é o investimento de maior rentabilidade a curto prazo.
Para uma peça de teatro, você vai desde os artistas, ao carpinteiro, cenógrafo,
vestuário, iluminador...
Quanto ao recurso ir para formação e
atividades de menor sustentação comercial, citadas como prioritários pela
Folha, os editais do ministério, os Pontos de Cultura, têm exatamente essa
preocupação, assim como os CEUs das Artes e Esporte que são, no momento, 124 em
construção no país.
"A gente quer comida, diversão e arte."
(Titãs)
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