São Paulo – O governo de Goiás contratou em fevereiro deste ano uma empresa investigada pela Polícia Federal por servir ao esquema de lavagem de dinheiro do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso durante a Operação Monte Carlo.
Segundo a revista Carta Capital desta semana, a Rede Sol Fuel Ltda. é o novo elo entre o governador Marconi Perillo (PSDB) e o responsável pela exploração ilegal de máquinas caça-níqueis. O repórter Leandro Fortes conta que houve uma primeira tentativa de contratação da empresa por parte do governo goiano em 2010, mas a constatação de uma série de irregularidades impediu, à época, levar adiante a assinatura do vínculo.
Em fevereiro de 2012, porém, o secretário estadual de Segurança Pública, João Furtado de Mendonça Neto, acertou com a Rede Sol Fuel uma parceria para o fornecimento de cartões de crédito para abastecimento de viaturas policiais. O contrato, de R$ 18,5 milhões, podendo ser renovado para chegar a R$ 111,5 milhões ao longo de cinco anos, é bem superior ao capital social da empresa, de R$ 6,6 milhões.
Na última semana, Perillo viu-se obrigado a demitir Eliane Pinheiro, sua chefe de gabinete, após serem expostas conversas em que ela demonstrava proximidade com Cachoeira. Eliane era integrante do “grupo do Nextel”, uma equipe ligada ao bicheiro que recebeu aparelhos de rádio contratados em Miami na tentativa de burlar os grampos da Polícia Federal. Em uma das gravações, feitas com autorização da Justiça, a então funcionária do governador é avisada por Cachoeira sobre uma investigação contra um prefeito que integrava o esquema.
A reportagem lembra ainda que o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, comentou uma única vez o caso, dizendo não enxergar “muita coisa” nas denúncias e acusando seletividade nos grampos divulgados pela Polícia Federal.
Sumiço
A publicação ironiza o episódio do sumiço da edição anterior, também sobre Perillo, das bancas de Goiânia. Na capital governada pelo tucano houve um operativo para comprar todos os exemplares na manhã de domingo (1º), evitando que a denúncia circulasse. Segundo reportagem de Gabriel Bonis, Joel Luiz Datena, filho do apresentador José Luiz Datena e dono de uma rádio, foi um dos que tentaram adquirir mil exemplares de uma vez.
Alguns donos de estabelecimentos, porém, rejeitaram a venda massiva, preferindo que os clientes pudessem ter acesso ao conteúdo contra Perillo. Outros recorreram a fotocópias da reportagem para ajudar na divulgação. Em uma carta, a revista agradece ao “desprezado sequestrador” por tornar ainda mais evidente a “incômoda” denúncia. “Agradecemos pela ingênua ação que inverteu a lógica dos sequestros: ao comprar de uma vez todas as edições que circulavam na cidade, o sequestrador é que pagou pelo resgate da verdade”, diz.
Demóstenes Torres
Demóstenes Torres
O primeiro atingido pelo escândalo decorrente da investigação da Polícia Federal foi o senador Demóstenes Torres (GO), que esta semana anunciou sua desfiliação do DEM. O parlamentar foi flagrado em quase três centenas de ligações com Cachoeira, recebeu presentes pessoais do empresário e teria colocado seu mandato a favor do lobby pela legalização dos jogos de azar, além de tentar se valer do cargo para influenciar investigações envolvendo o contraventor.
Os grampos expõem também os deputados Sandes Júnior (PP-GO), Rubens Otoni (PT-GO), Jovair Arantes (PTB-GO) e Stepan Nercessian (PPS-RJ). Além deles, mais de duzentas chamadas telefônicas flagraram o diretor da sucursal de Brasília da revista Veja, Policarpo Jr., que era "abastecido" jornalisticamente por grampos ilegais feitos pela quadrilha de Cachoeira. O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-SP), espera a chegada de documentos do Ministério Público Federal e da Polícia Federal para decidir sobre o pedido de abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) com a finalidade de apurar os elos de Cachoeira com políticos e a imprensa.
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