247 - Há uma excitação natural na imprensa brasileira em torno das possíveis indiscrições sobre o ex-presidente Lula que tenham sido captadas pela Operação Porto Seguro, da Polícia Federal. Ontem, o jornal Metro, do grupo Bandeirantes, noticiou que há 122 telefonemas entre Lula e Rosemary Nóvoa de Noronha, ex-chefe de gabinete da presidência da República. Hoje, a coluna Painel, da Folha de S. Paulo, informa que, segundo relato do Ministério da Justiça à presidência da República, não há gravações.
De concreto, até agora, surgiram emails de Rosemary para Paulo Vieira, ex-diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em que ela trata de um emprego para a filha Mirelle. “A Mirelle já te enviou os documentos? Peço a gentileza de só nomeá-la depois de eu confirmar com o PR. Estou em Maputo. Embarco para Seul na 4ª-feira com ele, aí após conversar te aviso.”
Rosemary trata de um emprego para a filha (já demitida pela presidente Dilma Rousseff), e de coisas mais prosaicas, como ingressos para um cruzeiro marítimo com a dupla Bruno & Marrone. Coisa de "chinelagem", como definiu um delegado da Polícia Federal. E foi apontada, pelo tucano Xico Graziano, como caso extraconjugal do ex-presidente Lula (leia mais
aqui).
Até agora, portanto, os grampos que envolvem o ex-presidente Lula são bem menos graves do que aqueles que já atingiram o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em 1995, uma reportagem de capa da revista Istoé publicou gravações feitas no Palácio do Planalto que tratavam do caso Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), um negócio, à época, de US$ 1,4 bilhão. Flagrado nas conversas, o chefe do cerimonial de FHC, embaixador Júlio César Gomes foi afastado.
Nas conversas, havia também o registro de supostas intimidades de FHC. Por isso mesmo, o então diretor da Polícia Federal, Paulo Chelotti, passou a alardear aos quatro ventos que teria o ex-presidente nas mãos.
Naquela época, a imprensa era muito mais ciosa da privacidade dos governantes. E não foi atrás da "mulher de FHC". Pouco depois da eclosão do escândalo, Veja publicou uma reportagem de capa sobre Xico Graziano, intitulada "O corvo é Graziano". E ele também foi demitido, numa história reduzida a um caso de espionagem ilegal.
Três anos depois, em 1998, o então presidente FHC foi citado em novos grampos. As conversas envolviam o ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, e o presidente do BNDES, André Lara Resende. Envolvidos na privatização das teles, eles falavam em acionar a "bomba atômica" para influir na formação dos consórcios.
FHC era a "bomba atômica", não o "PR".
Ali, não era coisa de "chinelagem" que se discutia.
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