DAVIS SENA FILHO
Os
barões da imprensa hegemônica preferem a Dilma ao invés de Lula, porque, neste
caso, entra um componente enraizado em nossas elites: o preconceito de classe e
a negação do trabalhismo
Eu sou um jornalista se interessa por
história. Por ser um profissional de imprensa da área de Política, sempre
pesquisei para conhecer os políticos, não somente pelo o que eles dizem,
apregoam, acreditam e discursam. Antes de qualquer coisa, vou saber de sua
biografia, ou seja, investigar seu passado, suas origens políticas, ideológicas
e partidárias, bem como sua coerência de pensamento, além de verificar sua obra
social quando esteve no poder.
Sempre tive essa conduta. Coisa
básica, por exemplo, como ouvir os dois lados envolvidos em quaisquer questões,
além de ter cuidado com informações meramente declaratórias, sem, antes,
certificar-me da veracidade de quem passa as informações. Porque para o
jornalista escrever para o público a informação tem de ter pelo menos algum
indício. Do contrário, é melhor não escrever ou falar. Se o fizer, é porque tal
jornalista tem algum interesse, nem que seja simplesmente assegurar o seu
emprego e assim agradar o seu chefe ou o seu patrão.
Essas atitudes e ações comezinhas,
ordinárias, comuns, que qualquer aluno ou foca (jornalista em início de
carreira) sabe por meio de qualquer professor de faculdade ou de um colega mais
experiente não são realmente observadas e cumpridas por um grande número de
jornalistas famosos e veteranos, mas que firmaram compromisso com o patronato,
bem como querem garantir que as mudanças sociais e econômicas não ocorram,
porque a intenção, de fato, é favorecer a manutenção do status quo, pois que
são porta-vozes das elites econômicas e financeiras inquilinas do pico da
pirâmide social.
E foi neste contexto perverso que o
grande presidente trabalhista, Luiz Inácio Lula da Silva, ascendeu ao poder em
2003, quando, por oito anos, administrou a República Federativa do Brasil e
amargou uma oposição promovida e levada a cabo pela imprensa burguesa, comercial
e privada, que se transformou em um verdadeiro partido político — o Partido da
Imprensa, que realizou no decorrer de seu mandato a mais ardilosa, veemente,
traiçoeira, feroz e desrespeitosa campanha que eu já vi contra um político, de
perfil trabalhista e ideologicamente socialista, saído das entranhas do povo
brasileiro, dos movimentos sociais, dos sindicatos, de setores da universidade
pública e da Igreja Católica progressista.
Lula foi o presidente brasileiro mais
politicamente orgânico da história do nosso País; mais ainda que o estadista
gaúcho Getúlio Vargas, o fundador, sem sombra de dúvida, do Brasil moderno —
industrializado. Como se percebe, os trabalhistas fazem jus ao nome, porque
foram eles, no decorrer da história da República, que realmente trabalharam em
prol do desenvolvimento e do crescimento do Brasil para que se transformasse em
uma Nação moderna e civilizada. Os presidentes conservadores sempre tomaram do
povo, e, quando possível, retiraram ou tentaram retirar seus direitos, inclusive
os garantidos pela Constituição Cidadã de 1988, como o fez o neoliberal e
vendilhão da Pátria, Fernando Henrique Cardoso, e assessores de sua confiança,
como o também neoliberal José Serra.
Contudo, a campanha insidiosa e
sistemática contra o presidente Lula não foi o suficiente para derrubá-lo
apesar da tentativa de golpe em 2005. Apesar das perfídias e das manipulações e
até mesmo mentiras veiculadas e publicadas pela imprensa comercial e privada, o
político pernambucano de origem pobre e operário de fábrica do ABCD paulista
saiu da Presidência da República (apesar de oito anos no poder, o que não é
fácil) com o espetacular índice de aprovação de 82%, a superar, nada mais e
nada menos, que o mito Nelson Mandela, quando deixou a Presidência da África do
Sul.
Lula é um fenômeno político, e,
consequentemente, social. O operário, que saiu de Pernambuco e chegou a São
Paulo em um pau-de-arara ajudou a fundar a maior confederação de trabalhadores
da América Latina e uma das maiores do mundo, a Central Única dos
Trabalhadores, a CUT, além de também ser o fundador de um dos partidos mais
poderosos e influentes do planeta, que é o Partido dos Trabalhadores — o PT.
Somente essas duas criações bastariam para esse político exímio e de uma visão
social e política profundamente conhecedora das questões sociais e econômicas
brasileiras para que ele ficasse para sempre na história. Mas não foram somente
esses dois fatos históricos importantíssimos que aconteceram.
Lula foi eleito presidente da
República duas vezes e elegeu sua sucessora, a ministra chefe da Casa Civil,
Dilma Roussef, que nunca teve cargo eletivo e mesmo assim conquistou a cadeira
da Presidência da República para se tornar a primeira mulher brasileira assumir
cargo de tamanha importância e envergadura. Lula foi às ruas e às praças e
também à televisão. Falou muito e mostrou seu legado, que, durante oito anos,
foi boicotado e não veiculado pela imprensa alienígena e de negócios privados,
que, entretanto, teve de engolir a divulgação das ações do Governo Lula, porque
a propaganda eleitoral gratuita se encarregou de mostrar os fatos, as
realidades e as conquistas do País e do povo brasileiro.
Se dependesse das mídias hegemônicas
e monopolistas, o presidente Lula sequer existiria, a não ser para ser ofendido
e taxado até de bêbado. Acontece que o presidente trabalhista entrou e saiu da
Presidência sem um arranhão, no que concerne à sua conduta e ao respeito devido
ao povo brasileiro. A verdade é quem foram surpreendidos alcoolizados pela PM
do Rio e se recusaram a fazer o teste do bafômetro foram dois dos protegidos da
imprensa de mercado: o candidato a presidente, senador do PSDB por Minas
Gerais, Aécio Neves; e o ex-candidato a vice-presidente e deputado federal do
DEM, Índio da Costa. A imprensa oligarca, nesses dois episódios, ignorou os
fatos e recolheu seu porrete de moer reputações. Agora, a pergunta que teima em
não calar: Imagine, leitor, se fosse o Lula no lugar desses playboys? Seria um
cataclismo e manchetes cretinas por seis meses!
Apesar de tudo, o tempo passou e o
cidadão Lula não é mais o presidente deste grande País que é o Brasil. Um ano
após Lula ter deixado o poder, pesquisa do Instituto Análise ouviu duas mil
pessoas em cem cidades de todas as regiões do País. A pesquisa foi publicada na
edição do dia 21 de setembro do jornal "Valor Econômico" e indicou
que o ex-presidente Lula era mais popular do que quando saiu da Presidência, e
olha que ele tinha 82% de aprovação, sendo que 14% consideraram seu governo
regular quando estava no poder. "Regular" é aprovação. Então o índice
sobe para 96%. Somente ínfimos 4% consideraram o Governo Lula ruim ou péssimo.
Esses 4% representam, indubitavelmente, a imprensa entreguista, de passado
golpista e alguns setores ligados aos exportadores e aos bancos, além de, evidentemente,
parte da classe média despolitizada e leitora da "Veja", da
"Época" e de jornais conservadores de má qualidade editorial e
jornalística, como a "Folha de S. Paulo", o "Estadão", o
"O Globo", o "Correio Braziliense" e o "Zero
Hora", somente para ficar nesses, que são os maiores e mais ricos e que,
inegavelmente, fazem oposição sistemática aos governos trabalhistas desde a
época de Getúlio Vargas.
Conforme salientei em outros artigos,
os barões da imprensa formam a classe empresarial mais atrasada do País. Eles
ocuparam os lugares dos antigos cafeicultores paulistas que reagiram contra o
fim da escravidão e combateram a efetivação da República. Eles são, realmente,
muito atrasados. Chegam a ser toscos e tacanhos. Todavia, o ex-presidente Lula
'está bem na fita' no que diz respeito — volto a afirmar — às pesquisas,
inclusive as atuais e que não são repercutidas pelos próprios jornais e
televisões que as encomendam. Incrível, não?
De qualquer maneira, o PT tem dois
candidatos poderosos, no que concerne ao número de votos. A ser assim,
percebe-se o porquê de a imprensa privada continuar a bater em Lula depois de
deixar a Presidência há mais de dois anos. A imprensa comercial e privada
brasileira é tão surreal que é a única do mundo a querer derrubar um
ex-presidente. Eles têm um verdadeiro pavor que o político trabalhista do PT
volte a concorrer às eleições presidenciais e com isso ficar mais quatro anos,
a partir de 2015. Eles preferem até engolir uma vitória de Dilma Rousseff.
Trabalhista no poder é sinal de mudanças profundas e por uma administração
popular. A direita sabe disso, porque alguns conservadores já abriram os livros
de história. Por isso que os partidos de direita precisam do sistema midiático
privado como os seres vivos necessitam de oxigênio para viver. Sem a mídia
golpista, a direita não teria 20% dos votos.
Colunistas como Reinaldo Azevedo, da
Veja, Ricardo Noblat e Merval Pereira, de O Globo, somente para exemplificar
esses três, pois iguais a eles existem centenas, criticam diuturnamente e
açodadamente e desrespeitosamente o político mais popular da história do Brasil
e ainda reclamam que o Governo trabalhista tem a intenção de censurar, tolher a
liberdade de expressão e de imprensa. É muita cara-de-pau e desfaçatez.
Acredito que até alguns leitores que visitam as colunas desses caras devem às
vezes achar um exagero tanta falta de educação e senso crítico, pois o que
somente se lê é mau juízo de valor, arrogância e prepotência exacerbados.
A permanência da popularidade de
Lula, como informa a pesquisa, incomoda muito os porta-vozes de nossas elites
econômicas, que são os jornalões, tanto os das rádios como os das televisões e
os impressos. Eles sabem disso, porque jornalistas compromissados politicamente
e ideologicamente com seus patrões sabem que o ex-presidente Lula é
praticamente imbatível em uma eleição, ao ponto de após um ano de sua saída da
Presidência ter superado nos índices de aprovação a presidenta trabalhista
Dilma Rousseff, que tem, na minha opinião, realizado um trabalho profícuo a
serviço do povo brasileiro, ao dar continuidade ao programa do Governo Lula,
que ela, inegavelmente, esteve à frente como ministra-chefe da Casa Civil.
Dilma é Lula e Lula é Dilma, apesar de a imprensa imperialista querer dar uma
conotação de diferença entre ambos, ou seja, usar como estratégia a separação
de um do outro, o que, venhamos e convenhamos, é um absurdo para não dizer
infantil e ridículo. Como o é mesquinho a imprensa burguesa não atender ao
pedido de Dilma Rousseff para ser chamada de presidenta e não presidente.
O problema todo é que Lula e Dilma
são presidentes de governos desenvolvimentistas, o que leva a burguesia ficar
irada, porque ela é monetarista até a medula, cujos "deuses" desse
capital são os professores Eugênio Gudin e Roberto Campos, com espaço amplo
para Mário Henrique Simonsen e Delfim Netto, sendo que este último
aparentemente mudou de lado e hoje é um dos maiores críticos do neoliberalismo
e dos governos tucanos na esfera federal, bem como no âmbito estadual e há pouco
tempo no municipal, no que tange aos tucanos que dominam o poder em São Paulo
há 19 anos, com a cumplicidade total da grande imprensa paulista e também dos
cariocas O Globo e TV Globo. Como fala sempre o jornalista Paulo Henrique
Amorim, "os tucanos de São Paulo não passariam de Resende se não fosse o
PIG". E é isso mesmo.
A tendência é que o PSDB diminua e
tenha sérias dificuldades para conquistar os executivos estaduais e
principalmente a Presidência da República. Eles não têm programa de governo. E
o que tinha para vender, os tucanos venderam. Coitado do povo paulista que não
sabe como vai estar o patrimônio público de São Paulo quando o PSDB, enfim,
sair do poder. A privatização no estado mais poderoso da Federação foi ampla. E
a imprensa, como sempre, nunca publica notícia que possa, ao menos, incomodar
os políticos e o empresariado envolvidos com a alienação de bens públicos, no
decorrer desses longos 19 anos. O tempo é o senhor da razão. O tempo vai
mostrar o que aconteceu em terras paulistas.
Enquanto isso, a grande imprensa
brasileira luta contra a volta de Lula, mesmo quando o trabalhista afirma que a
Dilma é a candidata do PT. Os barões da imprensa hegemônica preferem a Dilma ao
invés de Lula, porque, neste caso, entra um componente enraizado em nossas
elites: o preconceito de classe e a negação do trabalhismo. Lula representa
exatamente o que a imprensa de negócios privados não quer: a continuidade das
políticas desenvolvimentistas e trabalhistas colocadas em prática por Getúlio
Vargas, João Goulart, Juscelino Kubitschek, Luiz Inácio Lula da Silva e agora
Dilma Rousseff.
É histórico e por isso o que eu
afirmo é mais do que verdadeiro. Lula, mesmo fora do poder, de acordo com as
pesquisas dos últimos dois anos tem ampla aprovação popular. Este fato significa
que a população sente saudade do ex-presidente, porque sua relação com as
pessoas é de afetividade e carisma, além do reconhecimento ao seu trabalho
enquanto presidente da República. Somente Getúlio teve tanta empatia com o povo
brasileiro. O que eu afirmo não é uma questão de simpatia ou de ideologia. São
números e realidades analisadas pelos os empresários donos de institutos de
pesquisas.
A relação de Lula com o povo sobrepõe
às questões importantes, mas de caráter econômico e financeiro. Milhões de
cidadãos, trabalhadores brasileiros se enxergam em Lula, como se o ex-operário
representasse suas próprias existências, bem como a virtude de ter vencido na
vida e conquistado o respeito ou até mesmo o medo daqueles que também são seus
patrões, a burguesia — as elites brasileiras. Lula se tornou a referência que
do brasileiro comum e que almeja ter acesso a uma vida de melhor qualidade. Eu
vi e percebi essa cumplicidade, que fez com que um retirante nordestino se
tornasse presidente por duas vezes e ainda elegesse sua sucessora, mesmo a ter
uma oposição muito rica e com apoio de um sistema midiático privado dos mais
poderosos do mundo. O migrante nordestino os derrotou e por isso se tornou um
mito ainda em vida. Lula ri enquanto a imprensa de mercado não o esquece
jamais. É isso aí.
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