O último sábado foi marcado por
um surpreendente lance no xadrez da política. A segunda colocada nas pesquisas
recusou todos os convites para filiação partidária que garantiriam legenda para
disputar as eleições presidenciais em 2014 e aderiu a candidatura do quarto
colocado Eduardo Campos do PSB.
Essa união causou perplexidade
entre os analistas políticos e espalhou rapidamente a impressão que a
polarização PT-PSDB está seriamente ameaçada.
Não ficou muito claro de quem foi
a iniciativa do movimento, mas as últimas notícias levam a conclusão que a
estratégia foi urdida principalmente pela Marina Silva e não por Eduardo
Campos, que inicialmente parecia ser o mentor do lance.
Pelas informações de um dos
aliados de Marina, ela decidiu às 4 horas da madrugada de sexta feira que
retiraria seu nome em favor de Campos e deu a partida para as articulações que
culminaram com o acordo entre os dois ex-ministros de Lula.
Mas quem ganha e quem perde com
tudo isso? Numa primeira análise, fica
evidente os danos irreversíveis a candidatura tucana de Aécio e o surgimento de
uma ameaça real a Dilma.
Aécio, que já tentava sustentar
uma candidatura cambaleante, foi nocauteado com esse acordo e está praticamente
fora do jogo. Ele não pode levantar o discurso do novo, pois representa o
passado, e agora terá dificuldade para construir uma aliança anti-PT, pois o
discurso raivoso que tentou copiar do seu companheiro José Serra parece não
empolgar tanto quanto parecia e só agrada um pequeno grupelho na sociedade, que
adora disfarçar o próprio preconceito com um ódio visceral a todas as
conquistas sociais dos últimos anos.
Há muito tempo, observadores e
analistas diziam que apenas uma alternativa nascida dentro das entranhas do “Lulismo”
seria capaz, paradoxalmente, de tirar o PT do governo. Isto porque as
conquistas da era lulista possuem força política inegável e só alguém que
compartilhou essas conquistas seria capaz de apontar uma alternativa que minimizasse
a impressão de ruptura.
E é esta a grande dificuldade que
a candidatura de Dilma irá enfrentar. Uma força política que não nega as
conquistas do “Lulismo”, ao contrário reconhece e exalta, mas propõe mudanças,
embora não deixe claro que mudanças seriam essas.
E é nesse ponto que pode aparecer
as primeiras contradições da nova aliança. Que mudanças podem ser propostas
para conciliar interesses tão divergentes? Como conciliar o discurso ambientalista
de Marina Silva com a posição majoritária no PSB a favor de um código florestal
tão combatido pela ex-ministra? Como explicar para a população que Marina
Silva, Ronaldo Caiado (aliado de primeira hora do “socialista”), Eduardo
Campos, Jorge Bonhausen e Heráclito Fortes possuem pontos de convergência, além
do desejo de tirar o PT do governo? Como conciliar a defesa da herança lulista
(como pretende Eduardo Campos) com o ódio dos seus neo-aliados?
A força da candidatura Campos vai
depender de como ele e Marina Silva vão desatar esses nós. A ameaça a reeleição
de Dilma crescerá na mesma proporção do tamanho da aliança que eles conseguirem
construir e na medida em que conseguirem equalizar as críticas ao estilo Dilma
com a necessidade de aprofundar as conquistas dos últimos onze anos. Dependerá
também da aceitação que terão em setores da mídia e da direita brasileira.
Por enquanto só é possível afirmar
uma coisa: a eleição, agora, será decidida entre três ex-ministros do governo
Lula.
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