D. Demétrio Valentini
Dentro de poucos dias, no início de outubro, vai se reunir a Comissão de Cardeais, nomeada pelo Papa Francisco, para ajudá-no no governo da Igreja.
Sua composição obedeceu ao critério de representatividade. Todos os cinco continentes estão incluídos. Mas chama a atenção o fato do continente americano ter três representantes, sendo dois da América Latina.
Sendo o Papa latino-americano, resulta evidente uma constatação, que vai se confirmando sempre mais. A Igreja da América Latina está sendo colocada em destaque.
Em primeiro lugar pelo próprio fato do papa ser latino-americano. Não é por acaso que isto aconteceu. Sua atuação surpreendente aguça a curiosidade de muitas pessoas que procuram entender o que levou a Igreja da América Latina a oferecer um papa tão surpreendente como está sendo o Papa Francisco.
Por sua vez, o próprio Papa vem demonstrando uma intenção de colocar a serviço de toda a Igreja, valores que são próprios da Igreja da América Latina.
Esta empreitada do Papa Francisco, de valorizar a caminhada de nossa Igreja, se realiza em três frentes.
Em primeiro lugar, recorrendo à fecunda experiência eclesial da Conferência de Aparecida, realizada em 2007, onde o então Cardeal Bergoglio teve atuação destacada, como coordenador da equipe de redação. Não é exagerado afirmar que a Conferência de Aparecida foi a experiência eclesial mais forte, vivida pelo Cardeal Bergoglio antes de ser eleito papa.
Não é por acaso que, vindo para o Rio de Janeiro para o encontro mundial com os jovens, o Papa Francisco fez questão de vir também para o Santuário de Aparecida, onde se realizou a Conferência. Vindo ao encontro dos jovens do mundo, ele quis encontrar também a jovem Igreja Latino Americana, que agora é convidada a oferecer seu dinamismo juvenil, para que a Igreja retome vigor, especialmente lá onde ela parece mais extenuada pelo peso dos séculos.
Outra frente de valorização da Igreja da América Latina se constitui no empenho de superação de preconceitos e de temores, provenientes da maneira de fazer uma teologia que servisse de suporte para a caminhada pastoral, sobretudo das comunidades eclesiais.
E´ muito significativo o fato do jornal oficial do Vaticano, o L´Osservatore Romano, ter publicado nestes dias diversos textos do famoso teólogo Gustavo Gutierrez, tido como fundador da “Teologia da Libertação”. Durante muito tempo pairaram suspeitas sobre possíveis equívocos que esta teologia poderia suscitar. O fato pode agora ser tido como positivo, pois forçou os teólogos a uma dupla atenção, para aprimoram sua produção teológica, que finalmente para a ser mais reconhecida pela própria Igreja.
Uma terceira frente, em favor da valorização do testemunho cristão e eclesial da América Latina, está na decisão do Papa Francisco, de retomar o processo de canonização de Dom Oscar Romero, martirizado em 1980, no auge dos confrontos políticos e sociais existentes então em quase todos os países da América Latina.
Por pressões políticas, este processo de canonização tinha sido arquivado. Agora o Papa Francisco ordenou que fosse retomado com urgência.
São sinais dos tempos. A Igreja ganhou não só um papa, vindo do “fim do mundo”, como ele mesmo falou, e como na prática os europeus continuam olhando para nós. Mas o novo Papa traz consigo a rica caminhada da Igreja da América Latina, que ele deseja colocar ao alcance de todos
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