BRASÍLIA - Defensor dos índios e dos direitos humanos, dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia (MT), disse nesta quinta-feira que foi um “respiro” para a Igreja Católica a eleição do argentino Jorge Mario Bergoglio, um jesuíta, como novo chefe da cúria romana. Para ele, que sempre defendeu uma Igreja pobre voltada para o povo, o nome Francisco é “mais que um nome”.
Aos 85 anos, Casaldáliga vive em uma casa simples no interior de Mato Grosso. É ativo intelectualmente apesar das limitações físicas imposta pelo mal de Parkinson ( doença neurológica). Ontem, acompanhou o anúncio pela televisão temendo a escolha de um Papa mais conservador. No o pontificado de João Paulo 2º, o bispo emérito do Araguaia foi punido por sua atuação progressista.- Eu temia outro ( Papa) . A escolha significa mudança na pessoa do Papa. Evidentemente, o Papa sozinho não é a Igreja, mas é responsabilidade de todos – disse Casaldáliga, por telefone.
Casaldáliga espera que o novo Papa adote medidas importantes. Ele elogiou a simplicidade do sucessor de Bento XVI, o espírito evangelizador e simbolismo do primeiro gesto ao se inclinar diante do povo, que o aguardava na Praça de São Pedro, em Roma.
- Ele pediu primeiro para o povo abençoar a ele, para depois abençoar o povo. É um estilo diferente – disse.
No entanto, também lembrou que paira o “tempo sombrio” da Igreja argentina no período da ditadura, em que se reclama da omissão a um regime sangrento. Esperançoso com mudanças na cúria romana, ele defemde uma Igreja voltada para os pobres, solidária na defesa dos direitos humanos, dos povos indígenas e dos negros.
Casaldáliga, que também é poeta, escreveu “ Deixe a Cúria, Pedro”, que foi lembrado por Leonardo Boff para reflexão pós renúncia de Bento XVI. No texto, critica a cúria romana e a “legião de mercenários”, pede mais atenção aos fiéis, uma Igreja mais simples e perto do povo.
“O povo é apenas um “resto”, um resto de esperança. Não O deixe só entre os guardas e príncipes. É hora de suar com a Sua agonia, É hora de beber o cálice dos pobres e erguer a Cruz, nua de certezas, e quebrar a construção – lei e selo – do túmulo romano, e amanhecer a Páscoa”, diz um trecho do poema.
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