domingo, 21 de março de 2021

Minari - simplicidade e sutileza

 


Minari é um drama familiar, inspirado na infância do próprio diretor, Lee Isaac Chung. No filme, acompanhamos a história de uma família de imigrantes coreanos que já moravam na Califórnia quando Jacob, pai da família, decide se mudar para o Arkansas, onde comprou uma fazenda e sonhava prosperar plantando vegetais coreanos. Diante da insatisfação da esposa e da doença do filho, Jacob se vê entre o desafio de insistir no seu sonho ou manter o casamento. Cheia de detalhes sutis que permitem perceber as várias camadas que constituem o filme, Minari traz à tona um debate sobre barreiras culturais, xenofobia, sonho americano, raízes e família.

Com uma construção lenta dos arcos dos personagens, o filme ganha dinamismo e vitalidade quando a avó materna das crianças chega da Coréia para morar com a família. Interpretando uma avó completamente fora do padrão, Youn Yuh-jung injeta boas doses de humor e dramaticidade com uma atuação que poderia ser classificada como uma das mais impressionantes da temporada, o que faz dela uma favorita ao Oscar de melhor atriz coadjuvante, ao lado de Maria Bakalova de Borat 2.

Outro destaque do filme é o David, criança interpretada de maneira carismática pelo destaque em interpretação infantil Alan Kim.

MINARI é um belo filme e concorre ao Oscar de melhor roteiro original, melhor ator, melhor atriz coadjuvante, melhor trilha sonora, melhor direção e melhor filme.

Os 7 de Chicago - a justiça como ferramenta de perseguição política

 


A justiça sendo usada como instrumento de perseguição política.

A promotoria manipulando informações de forma combinada com o juiz, sob coordenação dos serviços de inteligência dos EUA.

Todas as solicitações e petições da defesa sumariamente negadas pelo juiz.

Réu sendo impedido de exercer seu direito de defesa

Um juiz manifestamente parcial julgando um caso de grande repercussão política

Não, eu não estou falando do julgamento do Lula pelo juiz Sérgio Moro.

Estou falando de “Os 7 de Chicago”, uma das duas grandes apostas da Netflix para o Oscar 2021.

O filme é um drama de tribunal, baseado em fatos reais, que mostra como foi manipulado o julgamento de 7 líderes das manifestações contra a guerra do Vietnã, em Chicago no ano de 1968, durante a convenção do Partido Democrata. É dirigido e roteirizado por Aaron Sorkin e conta com um elenco de peso. Se houvesse no Oscar uma estatueta para melhor elenco, certamente venceria.

Interessante notar que durante o julgamento, um membro do "Panteras Negras" que está sendo julgado sem a presença de um advogado, é orientado ao pé do ouvido por outro companheiro do movimento e durante o julgamento chega a notícia do assassinato deste companheiro. Pode passar despercebido para a maioria das pessoas, mas este pantera negra assassinado é o Fred Hampton, líder do movimento em Chicago e personagem principal de outro filme que também concorre na categoria principal do Oscar chamado "Judas e o Messias Negro".

Com um final apoteótico, daqueles de levantar quem está cochilando, foi indicado para as categorias de melhor filme, roteiro original, ator coadjuvante, melhor edição, fotografia e canção original.

Nomadland - uma coleção de acertos




Quem nunca dormiu assistindo um filme, mesmo se tratando de um filmaço? Pois é, a primeira vez que assisti esse filme eu cochilei muito e a experiência foi apenas regular. Talvez por não oferecer a estrutura clássica de três atos e se parecer um pouco com um documentário, o início pode parecer um pouco enfadonho. Mas da segunda vez que assisti a experiência foi tão boa que despertou vários sentimentos que só um grande filme consegue despertar. Dirigido pela Chloé Zhao, favorita ao Oscar de melhor direção, o filme põe o dedo na ferida do sistema capitalista, mostra o drama das pessoas que vivem do subemprego na maior potência econômica do planeta e acompanha uma comunidade de nômades contemporâneos. O filme é uma espécie de coletânea de relatos centralizados na personagem interpretada de forma impecável pela Frances McDormand. No seu veículo, que lhe serve de casa, ela percorre o país a procura de bicos pra sobreviver e nesta jornada ela encontra várias pessoas que vão lhe contando seus dramas, suas alegrias, suas frustrações, seus desencantos e seus desafios. Numa atitude corajosa, a diretora centra sua atenção na atuação de Frances McDormand, chama apenas um ator coadjuvante e distribui todos os diálogos e monólogos entre pessoas comuns, o que o deixa muito parecido com um documentário. Mas a força do texto é tão grande que, apesar de lembrar um documentário, o filme emociona, além de fazer refletir e estimular o debate sobre as consequências da exploração cruel da força de trabalho em um sistema capitalista. A fotografia? Meu Deus do céu, que fotografia maravilhosa! A trilha sonora é irretocável. E já que gosto de apostar nas categorias do Oscar, podem anotar aí, este filme será o vitorioso em melhor roteiro adaptado, melhor direção, melhor fotografia e melhor filme (se perder será para Judas e o Messias Negro), com chances ainda para melhor atriz e melhor trilha sonora. Na minha opinião este filme é uma coleção de acertos. Vale a pena assistir!

Soul - um filme pra refletir e pra se divertir (escrito em 05 de março de 2021)

 





Se você quiser apenas se divertir, “Soul” é uma excelente alternativa. Mas se você quiser um filme que te faça refletir sobre seus valores, sobre o que tem feito com sua vida e sobre o que vem depois, “Soul” também é uma das melhores opções que o cinema ofereceu nesta temporada.

Este promete ser uma das poucas barbadas das premiações na categoria de melhor animação e com chances, inclusive, de indicação para melhor filme no Oscar 2021.
É a história de um professor de música que vive uma rotina diferente daquilo que sonhava fazer. Surge então a oportunidade de realizar um grande sonho e no dia em que ele iria realizar este sonho, acontece um acidente banal e ele morre.
O que acontece a partir da sua morte, vai te fazer pensar sobre muitas coisas que tem feito ou que tem deixado de fazer, das fragilidades que te imobiliza e da coragem que guarda escondida em algum lugar

Obs: Soul não foi indicado à melhor filme, mas foi indicado pra melhor animação, melhor trilha sonora e melhor som


Ontem levou o Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante, mas isso é muito pouco para um filmaço como esse. “Judas e o Messias Negro” é uma aula de como colocar na tela uma história baseada em fatos reais. O filme mostra um episódio que marcou a luta dos “Panteras Negras” contra a segregação racial nos EUA, quando o FBI infiltrou um negro na organização pra repassar informações que possibilitassem reprimir o movimento. O infiltrado acaba se aproximando e ganhando a confiança absoluta do líder do grupo em Chicago, Fred Hampton, interpretado de maneira impecável por Daniel Kaluuya que deve vencer também o Oscar de melhor ator coadjuvante, categoria que será uma das mais disputadas. O filme estava pronto pra ser lançado antes da temporada de festivais, mas numa estratégia que parece equivocada, a Warner só lançou o filme recentemente, a poucas semanas da cerimônia do Oscar. Se não fosse por isso, seria o favorito para levar a estatueta de melhor filme, mas ainda é muito provável que esteja na lista final de indicados. Se vai ganhar ou não, vai depender se a força da campanha nestas próximas semanas será suficiente pra superar os favoritos “Nomadland” e “Os 7 de Chicago”. Ainda falta assistir The Father, mas por enquanto considero “Judas e o Messias Negro” o melhor da temporada.

Obs: Conforme previsto, "Judas e o Messias Negro" foi indicado ao Oscar de melhor filme, roteiro original, melhor ator coadjuvante e melhor canção original.

Bela Vingança - um filme que vai dar o que falar (escrito em 27 de fevereiro de 2021)


 

“Promising Young Woman” ou “Bela Vingança” é o tipo de filme que te captura no início e você não desgruda da poltrona até o final. Comparar este filme com “Kill Bill” seria sacanagem e sem cabimento. Mas como o filme do Tarantino, este filme da Emerald Fennell fala da vingança de um mulher. Contudo, diferente do filme do Tarantino, a vingança não se dá com violência física, mas com intensa pressão psicológica sobre os machos escrotos que tentam se aproveitar de mulheres alcoolizadas ou sob efeito de algum tipo de droga. A história acompanha a Cassie, interpretada de maneira genial pela Carey Mulligan, que se finge de bêbada para se vingar deste tipo de homem, depois que sua amiga, ou para alguns sua namorada, Nina, foi violentada em um estupro coletivo cometido por colegas da universidade que se aproveitaram do fato dela estar bêbada. E ainda gravaram um vídeo que, na época, foi compartilhado com outras pessoas. O tempo passou e não houve punição pra nenhum dos envolvidos. Só não passou o desejo de vingança. Sobre a sinopse não dá pra falar mais do que isso, senão atrapalha sua experiência com todas as viradas que acontecem, principalmente nas sequencias finais. O filme tem pitadas de humor ácido que foram criticadas por alguns que acham que o assunto é muito sério pra ter qualquer toque de humor. Eu, particularmente, não acho que isto compromete a seriedade com que a diretora trata o machismo, o sexismo, a misoginia, o estupro, a impunidade e a vingança, além de tratar “en passant” da corrupção judicial e relacionamentos familiares. Tem grandes chances de ser indicado ao Oscar de melhor filme, direção, roteiro original e com certeza absoluta para melhor atriz. No Globo de Ouro, concorre a quatro prêmios.

Mank - uma obra de arte, mas com público restrito (escrito em 29 de dezembro de 2020)

 




Na minha opinião, ainda não será dessa vez que a Netflix vencerá o Oscar de melhor filme, mesmo com a possibilidade de até quatro indicações. Dentre essas possibilidades, o filme que mais gostei foi "Mank", que conta uma versão sobre o processo de criação do roteiro de "Cidadão Kane" de Orson Welles (1941), considerado por muitos como o melhor e mais revolucionário filme de todos os tempos. Pela versão contada por David Fincher, diretor de "Mank", o roteiro foi todo feito pelo protagonista do filme, Herman Mankiewicz, interpretado por Gary Oldman e não teria a participação criativa de Orson Welles. Além do roteiro de "Cidadão Kane", o filme mostra os problemas de Mank com a bebida e o que rolou nos bastidores da eleição para governador da Califórnia nos anos 30, quando o mesmo discurso reacionário e as fake news que se vê hoje foram responsáveis pela derrota do democrata Sinclair e eleição do candidato ultraconservador republicano, apoiado pelo império midiático da época. É muito fácil observar as semelhanças com o processo político atual no Brasil e em boa parte do mundo. Apesar do brilhantismo da obra, inclusive nos aspectos técnicos, o filme deve conquistar pouca gente além dos cinéfilos, já que pra aproveitar melhor a experiência é fundamental ter assistido antes "Cidadão Kane" pra entender todas as referências contidas em "Mank" e pesquisar um pouco sobre o contexto político. Pra quem tiver essa disposição, recomendo assistir "Mank".

Obs: A Netflix conseguiu duas indicações ao Oscar de melhor filme: "Mank" e "Os 7 de Chicago"

O Som do Silêncio (crítica resumida escrita em 28 de dezembro de 2020)




“O Som do Silêncio” é uma grande aposta da Amazon para a temporada de premiações do Cinema. O filme é um estudo de personagem que retrata o drama de um baterista que perde praticamente toda a audição e enfrenta o conflito entre aceitar a deficiência e reaprender a viver com as limitações impostas ou apostar tudo na tentativa de superá-la e voltar à condição anterior. É uma história de superação, mas não é piegas e tem um corte final muito potente. O Paul Raci tem atuação brilhante como ator coadjuvante o Riz Ahmed interpreta o protagonista de forma magistral. Certamente disputará a indicação nas categorias de melhor ator e melhor ator coadjuvante e, no Oscar, talvez seja favorito na categoria de som, já que propicia uma imersão sonora rara. Assisti, gostei e recomendo.

Obs: As previsões de indicações ao Oscar se confirmaram e ainda desbancou a outra aposta da Amazon (Uma Noite em MIami) e arrancou uma indicação para melhor filme.

terça-feira, 7 de julho de 2020

"É Tempo de Cuidar": Cáritas de Paracatu faz ação emergencial contra impactos sociais da pandemia

Com o objetivo de realizar ações solidárias emergenciais que possam minimizar os impactos sociais da pandemia entre os mais pobres, a CNBB e a Cáritas Brasileira lançaram a campanha “É Tempo de cuidar”,
Em Paracatu a campanha teve início na última sexta-feira(03/07), com a distribuição de cestas básicas aos catadores de materiais recicláveis.
As cestas foram adquiridas pela Cáritas de Paracatu junto à Cooperfam (Cooperativa mista dos assentados e agricultores familiares do noroeste de Minas) e montadas com produtos da agricultura familiar do município. As cestas são compostas de arroz agroecológico colhido no assentamento Jambeiro, abóbora, mandioca, batata doce, farinha de mandioca, rapadura, feijão, carne, fubá de milho, além de macarrão, extrato de tomate, café, óleo e bolacha, milho de canjica e material de limpeza.
Os recursos para a aquisição das cestas foram captados pela Cáritas Brasileira Regional MG junto à Adveniat, uma organização católica alemã de ajuda à América Latina.
A Cáritas Diocesana de Paracatu, em parceria com as paróquias do município, ainda distribuirá outras 140 cestas básicas, também montadas com produtos da agricultura familiar.

sábado, 29 de março de 2014

O Direitista Raivoso

Paulo Nogueira - jornalista Diário do Centro do Mundo

Eu não vou cumprimentar ninguém porque estou com raiva.
Então vamos direto.
Eu sou o DIRAI. O Diretista Raivoso.
Eu tenho raiva. Eu vivo da raiva. Eu morro de raiva.
Eu sou a raiva.
Odeio pobre.
Odeio negros.
Odeio cotas.
Odeio gays.
Odeio nordestinos.
Odeio comunistas.
Odeio petralhas.
Odeio esquerdopatas.
Odeio black blocs.
Odeio Cuba e Venezuela.
Odeio mais ainda o Brasil e os brasileiros.
Odeio o lulismo, o lulopetismo, o lulodilmismo, o bolivarianismo e o chavismo.
Odeio o socialismo.
Odeio ciclistas, ativistas, feministas.
Odeio o Bolsa Família, o Mais Médicos e todas as esmolas governamentais.
Odeio essencialmente tudo.
Amo algumas coisas, no intervalo de minhas sessões de ódio.
Amo a internet, porque me permite ir a sites e xingar, incógnito, as pessoas sem consequência nenhuma.
Amo trollar no G1 e no uol.
Amo a palavra mensaleiros.
Amo o Mainardi pai e o Mainardi filho.
Amo a Scheherazade, o Reinaldo de Azevedo, o Rodrigo Constantino, e comento sempre nos blogs dos dois últimos.
Amo o Lobão, amo o Gentilli, amo o Roger do Ultrage.
Amo, ainda mais, o Olavo de Carvalho, o pai de todos estes aí em cima, e carrego seu último livro como um mórmon carrega sua bíblia.
Amo a Veja.
Amo os militares, que trouxeram ordem e progresso ao Brasil quando o comunismo ateu rondava perigosamente o país.
Amo a tradição.
Amo justiceiros e justiçamentos.
Amo os cânceres que mataram o Chávez e quase mataram o Lula e a Dilma, e tenho a esperança de que no caso destes dois últimos o serviço ainda se complete.
Amo – acima de tudo – o ódio, o ódio, o ódio.